23

476 49 4
                                    

A manhã do casamento de Bill e Fleur amanheceu com uma brisa leve e quente. Hermione estava de pé antes da maioria dos outros membros da casa, mesmo que ela pudesse ouvir alguns passos na cozinha, que ela assumiu serem da Senhora Weasley. Ginny ainda dormia, com seu queixo caído, e roncando baixo, na cama ao lado dela; seu vestido de dama de honra pendurado orgulhosamente ao lado da porta. Hermione puxou as suas listas debaixo do colchão e as checou pela última vez. Seus pais estavam escondidos. O ghoul fora transfigurado e estava pronto para ser colocado no quarto de Ron. As coisas de Harry estavam guardadas dentro da bolsa dela, assim como as de Ron e as suas. Eles tinham uma tenda; os estoques extras que Fred e George providenciaram; todos os livros que ela considerou necessários, incluindo o misterioso livro infantil que Dumbledore deixou para ela; e todos os seus remédios e ingredientes para poções. Ela estava tão pronta quanto poderia estar, como Snape a havia ensinado. Ela enfiou suas listas dentro da bolsa. Por alguma razão, ela sentiu uma certeza de que não voltaria novamente para aquele quarto.

Ela saiu da cama, e Ginny se mexeu.

"São que horas?" ela perguntou, sua voz arrastada pelo sono

"Ainda é cedo, você pode dormir por mais alguns minutos."

Hermione pegou sua varinha da mesa de cabeceira e encantou suas vestes, para que ficassem lilás ao invés de verdes. De alguma forma, ela não poderia usá-la como usou na noite em que dançou com Snape, na festa de Slughorn. Ela virou e olhou para a bolsa, pensativamente. Por fim, levantou sua varinha e transfigurou-a em uma pequena bolsa de mão, que combinaria com sua roupa de gala. Ela dificilmente deixaria essa bolsa para trás hoje, e não poderia ser vista carregandoum saco com cordão de couro.

Inclinou-se e pegou o frasco fino de Vita Secundus debaixo do seu travesseiro. Durante o dia, colocava-o contra seu peito, no bolso que havia feito em todas as suas vestes, justamente para isso. À noite, dormia com o frasco apertado firmemente entre seus dedos. Ela olhou rapidamente para Ginny, tendo a certeza de que estava novamente com os olhos fechados; então, abriu a mão para se maravilhar com a poção. Por um momento, ela acreditou tão fortemente na vida contida no pequeno tubo, que pôde senti-la quase pulsar em sua mão, como se tivesse um batimento cardíaco próprio. Duas pequenas coisas que ele lhe dera: um pedaço de pergaminho e um frasco de poção que não era maior que seu dedo mindinho, mas ainda assim Hermione extraía uma enorme força dessas coisas: ela se sentia armada de uma maneira que até mesmo a sua varinha não conseguia fazê-la sentir.

Trabalhando de forma cuidadosa, abriu uma das costuras no corpete de suas vestes e enfiou o frasco dentro dela, disfarçando-o entre o tecido. Ela estava mais segura quando podia sentir o toque do frasco contra sua pele. Embora soubesse que era apenas o calor de seu próprio corpo, Hermione imaginou que a poção de fato tinha um calor que ela podia sentir mesmo através da sua roupa. Fechou a costura de suas vestes e voltou sua varinha para o cabelo.

.

Mais tarde, em Grimmauld Place, Hermione sentia que mal se lembrava do casamento. Quando tentasse relembrá-lo, tudo que via era Fleur, andando em direção à Bill, ainda nos braços de seu pai; sua face era luminosa de alegria, e era claro para Hermione que Fleur estava vivendo o melhor sonho que poderia ter sonhado. Novamente, Hermione tinha sido mais uma vez abalada pela magnitude do gesto de Fleur ao se voluntariar para interpretar Harry. Ela colocara não só a sua vida – o que já era difícil de quantificar – mas também esse desejo, que provavelmente tinha sido extremamente bem pensado em sua mente, na linha de fogo. Hermione desejou poder ter dado a Fleur algum tipo de presente de noiva. Talvez, quando a guerra terminasse, ela encontrasse algo apropriado, que lembrasse a Fleur como ela se sentiu naquele dia.

" Se ela sobreviver a guerra" sua mente a lembrou, de forma cruel. "Se você sobreviver à guerra..." Ela jogou esse pensamento para longe. Isso era uma celebração, e mesmo que ela soubesse que tinha sido feita pelo desespero iminente, ela, assim como todos os presentes, estava determinada a manter este dia à parte de todos os outros; para desfrutar de um último momento de paz e felicidade, para acreditar, ainda que momentaneamente, as coisas acabariam do jeito que deveriam acabar.

Second Life | SevmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora