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                                                                                                                                                             Santiago

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                                                                                                                                                             Santiago.

                                                                    Ceuta, cidade espanhola, situada no norte da África.


Termino de passar minha calça e a coloco no cabide em frente a minha camisa social branca que já está passada. Pego o vestido verde longo, que Shaila separou ontem à noite, e coloco em cima do passador de roupa. Sempre quando temos algum compromisso como hoje, separamos nossas peças na noite anterior para evitar de perder tempo escolhendo o que vestir. Termino de passar o vestido e coloco junto com seu véu branco ao lado das minhas roupas. Por fim, desligo tudo e fecho o armário, para que Iridessa, nossa filha de seis anos, não alcance e se machuque.

Aqui em casa, tanto eu, quanto minha menina, temos funções delegadas por minha esposa. Apesar de as dela não se compararem com as minhas e a da mãe, ela ama nos ajudar. Maryam também é uma das que fazem mais do que sua obrigação. A contratamos apenas para cuidar de Iridessa, no entanto, ela está sempre nos ajudando com a limpeza e a organização da casa.

Assim que chego na cozinha, lavo o pote de água e ração da Taffy, o chihuahua de Iridessa, e os coloco de cabeça para baixo ao lado da pia na área de serviço. Tudo está quieto por aqui e chega a ser um pouco estranho a ausência de sons de criança e cachorro percorrendo os corredores. Ontem Jawla, neta de Maryam, fez seis anos, e resolveu fazer uma festa do pijama para comemorar. Então deixei que Iridessa passasse esse fim de semana com Maryam, e de brinde me livrei de Taffy.

Antes mesmo de Iridessa nascer, Maryam já tinha sido contratada como babá. Eu a conheci em uma situação triste, e sem pensar duas vezes abriguei essa mulher generosa que é tão presente em nossas vidas. Seu marido e seu genro haviam desaparecido, sem que ninguém soubesse do paradeiro, e como eles eram o provedores da família, em um ato de desespero ela saiu pelas ruas da cidade a procura de qualquer emprego. Foi quando a conheci. Algum tempo depois, ela recebeu a notícia de que a polícia os haviam encontrado. Os corpos de ambos e de mais um funcionário estavam soterrados dentro de um silo de grãos. A pior parte é que desde o início a empresa responsável sabia. Apesar de tudo, Khaled, CEO da empresa, não foi responsabilizado, e além disso saiu impune de pagar uma indenização para as famílias das vítimas.

Deixando de lado as memórias do passado, tiro um tempo para lavar as louças da noite anterior e começar a preparar o café da manhã para Shaila. Dessa vez, escolho fazer ovos mexidos, torradas e separo algumas frutas que sei que ela gosta. Deixo a primeira bandeja com a comida de lado, e separo uma segunda em que coloco o pote de vidro com o pó de café que já havia moído antes de passar nossas roupas. Por fim pego duas xícaras, o pequeno fogareiro elétrico de uma boca, e rakwe, a nossa pequena cafeteira árabe de cabo longo.

Corações Lapidados - Parte 01Onde histórias criam vida. Descubra agora