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Laisla

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Laisla

Por mais que eu goste de conversar com minha mãe, ultimamente qualquer assunto que envolve homem, tornou-se terrivelmente desconfortável para mim, não consigo levar uma conversa por muito tempo sem querer matar todos os homens da face da terra com a força do pensamento.

— Laisla — Zulmira me chama. Viro para olhá-la. Ela se levanta com dificuldade e vem até mim. A senhora já está no auge de seus oitenta anos, e embora o hijab não permita ver seus cabelos, imagino que já estejam todos grisalhos.

Suas mãos macias e enrugadas seguram as minhas com firmeza, as acariciando sem erguer os olhos para os meus.

— Um dia suas mãos estarão como as minhas. — Finalmente ergue o olhar para o meu e prossegue: — Cheias de rugas.

Seguro firme suas mãos, fazendo movimentos circulares com os polegares.

— Não sabemos o que será de você daqui alguns meses. — Faz uma pausa. — Não queríamos que você tivesse o mesmo destino da Nair, mas as coisas não são como queremos.

Zulmira é mais que uma simples amiga da minha mãe. É uma mãe para ela, e uma avó para mim e Nair. Ainda lembro de quando ela ia em nossa casa nos levar alimento e um pouco de dinheiro escondido de meu pai. Ela dizia que meu pai não queria ser o provedor da família, e sim criador de pombos. Não era bem uma verdade, mas também não era totalmente mentira. Ele gastava mais com as aves do que com a família, mas ficava sem comer se fosse necessário para não nos deixar com fome.

Meu tio Mohammed, que na verdade é meu primo, tentou nos ajudar financeiramente algumas vezes. Todavia, meu pai não aceitava, pois é orgulhoso demais.

— Não queremos que você siga os passos de sua irmã, mas seus olhos dizem que você já tomou sua decisão — diz soltando minhas mãos. Sinto um nó se formando em minha garganta e todas as minhas certezas virando incertezas. Pra falar a verdade estou assim desde que acordei com minha mãe chorando ao meu lado. Desde aquele dia venho refletindo sobre minha decisão de tirar minha vida. Será mesmo a melhor opção?

— Não se preocupe comigo. — Tudo o que eu menos queria era deixar as pessoas que amo tristes. — Eu não vou fazer nada. — Suas mãos voltam a segurar as minhas. — Estou seguindo o seu conselho, lembra que me aconselhou a entregar nas mãos de Allah? — A lembro puxando meus lábios em um sorriso falso, e espero que dê para se passar por genuíno.

— E você respondeu que ele te abandonou — responde com um sorriso largo fazendo o meu murchar. Algo me diz que ela tinha a resposta na ponta da língua.

De um jeito meio louco, este nosso momento me faz recordar de uma frase que ela usou algumas vezes comigo: "As vezes o melhor é esquecer o passado". Finalmente entendo o que essa frase quer dizer. Pena não ter seguido esse conselho segundos atrás.

— Não me presenteie com sorrisos falsos, Laisla. — Meu coração perde o compasso, e faço menção de abrir a boca para dizer que está errada pela segunda vez, mas não consigo. Como se não bastasse meu sorriso falso ter me entregado, meus olhos toldados pelas lágrimas acabaram de confirmar que ela está certa.

Corações Lapidados - Parte 01Onde histórias criam vida. Descubra agora