07

5 1 0
                                    

Laisla

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Laisla

Fez el-Bali.

Semanas depois!

Hoje faz três semanas que minha vida virou um inferno e meu futuro deixou de ser incerto. Se existe algo que sei em meu amanhã, é a minha morte. Estou cada dia mais decidida a seguir os passos de Nair.

— Você sabia que esse filme é uma refilmagem de " Quinze dias de vida", de 1950? — Uma cliente de cabelo cacheado como os meus pergunta para Kerisa, – proprietária do pétalas de papoula – que move a cabeça de forma negativa.

Pelo que entendi, ela é turista, e seu marido é um cineasta. Aparentemente, ela veio acompanhá-lo durante as gravações.

Arrasto meu olhar para a televisão, e o filme que passa é a versão norte americana com a Queen Latifah, " As férias da Minha Vida". Já assisti algumas vezes, aqui mesmo nesse salão com minha mãe e Nair. Lembro que esse era o filme preferido dela. Minha irmã dizia que o bom em se saber o dia que vai morrer é que podemos fazer o que sempre tivemos vontade, mas nunca coragem. E ela tinha razão, eu não tenho mais nada a perder, e por isso, encarno a Georgia, a protagonista do filme que após ser diagnosticada com uma doença terminal, resolve utilizar as economias de toda sua vida para viajar e fazer tudo que sempre teve vontade de fazer. Diferente dela, não estou com nenhuma doença terminal, e também não tenho nenhuma economia guardada. Pra falar a verdade, o dinheiro que estou gastando é o que sobrou do dote.

Depois do Khutbah, do sermão, dei uma leve surtada e queimei uma boa parte do dote. Só não queimei tudo porque meus pais não deixaram.

— Vou levar esses caftans — diz a turista, os colocando em cima do balcão . Em seguida, retira carteira de dentro da bolsa, faz o pagamento e sai após desejar um ótimo dia

— Rapunzel. — A voz de kerisa me faz desviar o olhar para ela.

Puxo meus lábios cobertos por um batom vermelho em um sorriso tímido.

Nunca tive curiosidade em saber como era vestir uma calça, ficar sem hijab, – por vontade própria – passar maquiagem ou ter um aparelho celular. A maioria das pessoas que conheço não tem, então isso significa que eu não tenho para quem ligar. Mas mesmo assim, além de ter comprado meu primeiro e último celular, também estou sem o hijab, vestindo uma calça e usando maquiagem. Esse foi meu jeito de ser a Georgia.

Como não posso viajar pelo mundo afora, vou aproveitar meus últimos meses como se fossem meus últimos dias de vida, porque depois que eu me casar vou deixar apenas esse corpo que um dia chamei de meu, ao lado do homem que me destruiu e tirou a vida.

— Realmente está enorme — digo tocando em meus cachos.

Ainda estou pensando se corto ou não. Queria mostrá-la qual corte estou pensando em fazer, mas sei que tanto ela, quanto sua mãe e a minha irão dizer que é pecado cortar o cabelo acima da orelha como o de um homem. E como não quero entrar em uma discussão, vou guardar para mim essa vontade.

Corações Lapidados - Parte 01Onde histórias criam vida. Descubra agora