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Laisla

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Laisla.

Horas depois!


Hoje faz oito meses que minha irmã se suicidou, e duas semanas em que fui estuprada

Em minha inocência, pensei que a história de Nair, minha irmã mais velha, não se repetiria, afinal, meus pais não suportariam outra dor como aquela. Mas aqui estou eu para mostrar que é possível mais uma morte na família Assouli.

"Eu vou fazê-lo pagar pelo que te fez. Não vou deixar a história de sua irmã se repetir." Foi o que meu pai disse quando descobriu o que havia acontecido.

Minha irmã foi abusada pelo nosso vizinho, Adam, quando ela tinha apenas quatorze anos. Meus pais estavam na loja na hora, e eu na escola. Naquele mesmo dia, Nair disse que não estava se sentindo muito bem e por isso não foi comigo para escola. Mamãe até tentou convencê-la de ir para a loja, mas minha irmã preferiu ficar em casa. Ela sabia que papai iria colocá-la para trabalhar, como sempre fazia, pois para ele não importava se estávamos doentes, ou se éramos pequenas demais, ele sempre nos colocava para trabalhar com mamãe e saia logo em seguida com a desculpa de que ela já tinha duas ajudantes. E naquele dia, como sempre acontecia, a vítima foi silenciada.

Não foi diferente na minha vez...

— Hoje é o dia das... — Não consigo concluir.

Tanto eu quanto minha irmã não costumávamos ir sozinhas para a escola, pois meu pai sempre nos levava e nos buscava, no entanto, no dia em que me tornei uma vítima, ele tinha esquecido de me buscar. Quando soube o que havia acontecido comigo, justificou seu atraso falando que estava comprando novos tecidos e materiais para as babuchas. Mas mamãe disse que ele havia comprado um dia antes.

— Mulheres — concluo enquanto sou arrastada para casa pela minha mãe.

— O que disse? —pergunta minha mãe virando-se para mim.

— Hoje é o dia das mulheres — digo enquanto tiro sua mão do meu pulso. — "Eu vou fazê-lo pagar pelo que te fez..." Foi o que ele disse, mãe — sussurro enquanto luto para segurar o choro que está ameaçando transbordar.

— Em casa conversamos, Laisla. — Pelo seu olhar entendi que ela não quer que os vizinhos saibam o que me aconteceu.

Tanto eu quanto minha irmã sempre fomos mais abertas com mamãe. Sentíamos mais liberdade em falar com ela do que com nosso pai. Ele era afável, mas apenas com as pessoas de fora, principalmente mulheres, o que não agradava mamãe. Mas dentro de casa apenas tínhamos a versão rígida e severa à nossa disposição.

— Salaam Aleikum, Asmaa — minha mãe diz para nossa vizinha enquanto abre a porta de casa.

— Aleikum Essalam, Lâmia — responde Asmaa educadamente. Eu sei que ela está curiosa para saber o motivo de termos saído tão cedo de casa e de eu não ter ido para escola, mas nada é dito por agora. Até porque uma hora ou outra todos saberão. Não sobre o estupro, mas do casamento. Essa parte não tem como esconder. 

Corações Lapidados - Parte 01Onde histórias criam vida. Descubra agora