Pessoas Que te Irritam

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𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒

𝗉𝖾𝗌𝗌𝗈𝖺𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝖾𝖺𝗆𝖺𝗏𝖺𝗆 

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𝗉𝖾𝗌𝗌𝗈𝖺𝗌 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝖾
𝖺𝗆𝖺𝗏𝖺𝗆 

    Das melhores sensações que já vivi, entre ver neve, banhos quentes e ver o sol nascer, a melhor sensação de todas é olhar pelo parapeito do corredor do meu condomínio e ver o carro do Nishimura completamente avariado.
       Dois vidros quebrados e a porta dianteira amassada. A vizinhança sempre soube o risco de deixar o carro fora da garagem do condomínio, mas não é como se o Riki ouvisse o conselho dos demais. De cima eu podia vê-lo em completo desespero cada vez que olhava para o seu carro em completo desastre. O conserto sairia caro, e só de pensar nisso me deixava feliz e aliviada por que quem se ferrou foi ele e não eu.

      Olhei de canto quando vi um carteiro passar detrás de mim com um cartão e um pacote pequeno. Olhando as horas já era um pouco tarde.

     Ele bateu algumas vezes na porta do Riki, mas era óbvio que ninguém atenderia. Isso durou alguns segundos até que o mesmo carteiro viesse até mim, fazendo meu coração disparar de medo.

— Com licença — ele disse com os ombros encolhidos — Você é a segunda responsável pelo pacote.

— Responsável? — pisquei os olhos — Tenho certeza que não, nem ao menos conheço o vizinho ao lado.

— São as observações dadas na entrega, “se o responsável pelo pacote estiver ausente, a vizinha do 191 poderá recebê-lo”. — por fim ele me entregou uma caneta junto a um documento — Só precisa assinar para confirmar que o pacote foi entregue.

      Mesmo insegura disso, assinei o documento com meu nome, recebendo tanto a carta quanto o pacote.
      Era uma caixa pequena e embrulhada, já a carta estava endereçada à Nishimura Riki. Rompi o lacre da carta, tirando um segundo papel de dentro. Era uma carta escrita a mão com calegrafia japonesa. Era uma letra arrastada quase difícil de ler, mas ao menos, a pessoa que escreveu não tinha tanto o que falar quando escreveu isso.

“Para Nishimura Riki (Niki)

      Filho, sinto saudades. Esperei tantos meses que você respondesse minhas cartas, mas nunca recebi nada. Prefiro acreditar que seja um erro com os correios da Coreia. Não se esqueça de se alimentar bem todos os dias. Enviei algumas fotos suas e das suas irmãs aqui do Japão, espero que consiga colocá-las em um porta-retrato bem bonito. Todos aqui sentem muito sua falta, não carregue esse peso sozinho filho, você sempre será só uma criança para mim.

     Eu te amo.”

     Puxava o lóbulo da orelha a cada linha que pulava.
    Acabara de invadir a vida pessoal de Riki e com certeza esse seria mais um dos motivos para ele me odiar. Mesmo que fosse humilhante pra mim, sentia o dever de pedir perdão.

     Já se faziam horas do qual eu evitava sair de casa com medo de que outra carta fosse entregue a mim. Só precisava comprar algumas coisas e voltar pra casa, somente o básico para que eu pudesse continuar viva dentro do meu cubículo pessoal.
      Peguei poucas coisas que coubessem nas minhas mãos, saindo do corredor de mercadorias, vi outra pessoa que aparentava também querer sobreviver do mínimo. Com certeza não era a primeira vez que o Riki jantava macarrão instantâneo em uma loja de conveniência a essa hora da noite. Eu poderia fingir que não o vi, ou me sentar com ele.
       Girei o olhar pro lado oposto, e puxei uma cadeira para me sentar também.

— Sua mãe disse pra você se alimentar bem — ele parou de mastigar assim que me viu — Isso por acaso é "se alimentar bem" pra você?

— E por que se importa?

— Me importo por que sua mãe pediu. — mordi o lábio inferior — Como pode levar a vida desse jeito? Tem pessoas do outro lado do país que amam você.

     Ele se encostou na cadeira cruzando os braços e passando a língua pelos dentes.
     Ele parecia irritado.

— Como sabe o que minha quer pra mim? — indagou

     Coloquei minha bolsa no colo e cacei entre outros documentos a carta endereçada á Riki.
      Ele a olhou por alguns instantes até perceber que era dele.

— Por que isso estava com você? — ele indagou pegando a carta como algo precioso

— Também gostaria de saber, por que eu sou a segunda responsável pelo pacote? Não faça isso, dá a impressão que somos próximos.

— Você esqueceu até disso? — ele esbravejou — Você mesma assinou o contrato há três meses atrás pra' receber minhas encomendas.

— E por que faria isso?

      Ele engoliu as palavras e amassou a carta dentro do bolso da calça. E continuou comendo o macarrão Instantâneo afim de me evitar e me fazer sumir.

— É melhor sair daqui. — ele pediu

— Por que? — apoiei meu rosto na palma da mão — Tem medo de se apaixonar? — um sorriso debochado surgiu no rosto dele

— Não sou louco suficiente pra isso — Ele disse com convicção

     Ri por que realmente era verdade, não eramos loucos o suficiente pra isso.

— Você tem razão — concordei — Mas as vezes sinto como se minimamente gostasse de você, ou no mínimo, não te odiasse.

— É, acho que em algum momento você não me odiava tanto assim — ele disse com um pesar

      Ele se levantou indo em direção a saída da loja. Dessa vez ele realmente se cansou de mim. Me levantei empurrando a cadeira para trás e agarrando o pulso dele antes que ele fosse embora.

— Pode ao menos me explicar por que eu assinei esse contrato com você? — indaguei

— Te explico depois.

      Ele puxou o pulso para si, logo saindo da loja de conveniência deixando eu e meio macarrão instantâneo pra trás.
      O sino da loja tocou assim que ele foi embora. Por alguma razão sentia como se tivesse sido abandonada, mesmo que isso tecnicamente não tenha acontecido. Ele parecia ter ficado chateado por eu não conseguir me lembrar do contrato, e isso me trazia culpa.
       Olhei ao redor e percebi, ele deixou para que eu pagava o macarrão Instantâneo para ele. Que filho da puta...

𝗖𝗮𝗻 𝗪𝗲 𝗧𝗮𝗹𝗸 𝗔𝗴𝗮𝗶𝗻 - 𝘯𝘪𝘬𝘪Onde histórias criam vida. Descubra agora