Um Coração Fechado

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𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐒𝐄𝐓𝐄

𝘂𝗺 𝗰𝗼𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗮𝗯𝗲𝗿𝘁𝗼

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𝘂𝗺 𝗰𝗼𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗮𝗯𝗲𝗿𝘁𝗼

       Aiko.
      É um nome japonês, certo? Mas não há sobrenome.
      A carta simplesmente foi enfiada por debaixo da minha porta, sem o mínimo cuidado com a entrega pois as pontas estavam amassadas e por si o papel vou atirado como um tiro no escuto para dentro do meu apartamento.
        Era realmente uma carta em japonês, o autor se nomeava como uma mulher mais velha e conseguia transmitir toda sua emoção através da carta.

       Bati na porta do apartamento de Nishimura Riki, afinal uma carta escrita em japonês só seria escrita para um japonês.
        Era meio dia, mas de qualquer modo ele abriu a porta esfregando os olhos e ainda vestindo pijamas.

— Não é meu horário comercial para falar com você.

— Você não precisa de um horário para falar comigo. — estendi a carta em sua direção — Isso foi entregue à mim logo pela manhã.

       Não foi necessário contar o resto da história, já que foi possível entende-la através da leitura da carta. Dei alguns segundos em silêncio para que ele pudesse ler com atenção.

— Por que pensou que essa carta fosse minha?

— Por que eu não recebo cartas a muito tempo, e não conheço ninguém chamada Aiko. — cruzei os braços — Aiko... Deve ser alguma de suas ex's.

        Ele revirou os olhos e se encostou na porta um pouco mais a próximo.

— Você tem uma visão bem distorcida de mim, mas essa não é a coisa que mais me preocupa, o mais alarmante é o fato de você não se lembrar do nome de sua própria mãe. — arregalei os olhos quando a afirmação desceu fundo ao meu entendimento — Sua mãe se chama Aiko Kobayashi.

— Eu sinto que deveria saber disso logo de cara... Talvez seja por que realmente devesse.

       Beliscava a ponta dos meus dedos enquanto a preocupação comia meus pensamentos. Eu me sentia em uma caixa pequena onde poucas coisas cabiam alí comigo, mas pela minha consciência (ou falta dela) eu já tenha me perdido neste cubículo que eu chamo de memória.
        Ouço a porta do meu apartamento se fechar com força por conta do vento, o barulho alto me assustou, mas não teve poder suficiente para me tirar do transe mental.

— Hikaru — ouço a voz de Riki à minha frente — Você pode ter se esquecido da própria mãe, mas ao menos se lembrou de pegar a chave de acesso antes de vir me importunar logo cedo?

       O questionamento de Riki só fez meu coração se apertar mais ainda. Um ataque cardíaco poderia se fazer presente a qualquer instante.
        Dividia minha atenção entre encarar a porta trancada e a expressão de Riki que me encarava como "você é burra, saiba disso", e eu sabia bem.
       Subi meus olhos até os dele, e pensei mil vezes antes de realmente dizer.

— Eu realmente preciso da sua ajuda agora. — pedi, tentando parecer o mais inocentada possível, mas nosso histórico de discussão e brigas era extenso para que ele esquecesse de tudo e me ajudasse  — Mesmo que eu ligue para a recepção do condomínio eles só me darão a chave daqui a duas horas.

      Riki passou os dedos pelos fios, soltando um longo suspiro.

— Enquanto eles não te ajudam você pode ficar na minha casa. Preciso resolver algumas coisas fora daqui — ele calçou os tênis e passou pela porta e a deixando entreaberta para mim — Se são somente duas horas, provavelmente você não estará mais aqui quando eu voltar.

— É muita gentileza sua me ajudar. — afirmei quando ele me entregou a chave de acesso

— Não diga isso, vou começar a me sentir uma pessoa caridosa com você. — brincou com deboche em seu rosto

      O apartamento de Riki era espelhado ao meu, mas talvez nunca tenha notado isso por conta de tanta bagunça.
       Dessa vez a louça estava limpa e as roupa dobradas e lavadas, nem ao menos parecia o apartamento de Riki. Poderia ser se qualquer pessoa, menos dele.

       Confesse que era a sensação de explorar um novo mundo. Nunca estive completamente sozinha na casa de outra pessoa. Eu poderia fazer literalmente o que bem entender mas o bom senso mandou um "Olá”.
       Deitei-me no sofá, acomodando minha cabeça nas almofadas de crochê, e em simplesmente segundos, as duas horas se passaram como um cochilo daquela tarde.

[...]

        Abri meus olhos aos poucos com a luz da sala se acendendo de repente.

        Levanto meu tronco como quem levanta uma pedra. Meu rosto amassado expõe o tempo que passei adormecida neste sofá. Ouço passos que atravessam a cozinha em direção a sala.

      Meu coração congela quando nota o som de salto agulha batucando contra o chão de madeira.

Oh, não queria acordar você — disse a moça de cabelos pretos presos em duas tranças. — Tentei não fazer tanto barulho, mas meus saltos me entregaram.

— Olá — me curvei em cumprimentou de forma desajeitada — Sou a vizinha do Nishimura, passei a tarde aqui por que houve um problema com minha chave de acesso.

— Que história longa, poderia encurtar dizendo que é a nova namorada dele.

— Não sou a namorada dele. Não mesmo.

      Ela cruza os braços e busca com os olhos pelo arredor.

— Isso não faz diferença para mim — ela deu de ombros, se sentando ao meu lado no sofá logo tirando uma embalagem lacrado de dentro de sua bolsa — Trouxe isso para o Niki, mas você parece tão pálida, precisa comer.

      Aparentava ser uma comida doce, logo ela mesma me contou o que era: Banana caramelizada. É bem provável que nunca tenha provado isso na vida.

— Eu continuo não sendo a namorada do Riki.

— Ora eu entendi essa parte, por agora só quero que você se alimente.

— Está bem — assenti ainda desconfiada

       Afina, a banana caramelizada era realmente algo gostoso. E quanto mais eu comia, mais feliz a moça ficava por mim.
        Ela pode até ser uma completa estranha que aparenta ser próxima ao Riki, mas sinceramente, gosto mais dela do que o próprio Riki agora.

      Mais uma vez, ouço a porta se abrir. Ambas olhamos para porta e para quem acabará de chegar. Na minha cabeça, me questionava entre cumprimentar ou fingir que não existo.

       Riki jogou as chaves pelo balcão da cozinha, atravessando a sala quando no exato momento seus olhos se deram conta do que estava acontecendo.

—Oi, Kyujin — Riki a cumprimentou pacificamente — E você capeta, o que faz aqui ainda?

      Franzi o cenho e comi o último pedaço da banana.

— Eu acabei dormindo aqui, mas acabei acordando e logo ela me ofereceu algo para comer. — listei meus feitos enquanto sua ausência — Inclusive, eu não sei seu nome. — me dirigi a mulher ao meu lado no sofá

Oh, me chamo Jang Kyujin.

      Riki nos olhava como quem estava digerindo muitas informações ao mesmo tempo. Odeio quando ele faz isso, normalmente ele demora mais do que o normal para racionar coisas assim.

— Eu não queria incomodar, não sabia que não devia — disse a Riki, esperando uma resposta mansa

— Saí daqui — ele ordenou — Se não quer incomodar então saí daqui.

       De qualquer forma, a casa é dele, e eu só tenho a obedecer-lhe agora.
       Mesmo pensando muito em minhas ações, não conseguia pensar no modo em que tudo acabou assim entre nós.

𝗖𝗮𝗻 𝗪𝗲 𝗧𝗮𝗹𝗸 𝗔𝗴𝗮𝗶𝗻 - 𝘯𝘪𝘬𝘪Onde histórias criam vida. Descubra agora