Dias Chuvosos São de Enlouquecer

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𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌

𝖽𝗂𝖺𝗌 𝖼𝗁𝗎𝗏𝗈𝗌𝗈𝗌

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𝖽𝗂𝖺𝗌 𝖼𝗁𝗎𝗏𝗈𝗌𝗈𝗌

𝖾 𝗅𝖾𝗆𝖻𝗋𝖺𝗆 𝗏𝗈𝖼𝖾̂.


     Eu tenho um vizinho, e ele, me irrita todos os dias. O nome dele é Nishimura Riki, somos vizinhos de porta há um ano e três meses, e eu continuo contando até o dia em que ele vá sair da minha vida.
      O edifício é quase um cubículo. Todos os apartamentos tem o mesmo mapeamento mas a área é relativamente grande com três andares e uma imensidão de outros apartamentos. No começo as coisas até eram legais, ou pareciam ser; Nishimura e eu somos ambos japoneses, nos mudamos pra cá na mesma época e por um tempo a diversão do nosso dia era conversar em japonês com a consciência de que ninguém mais nos entenderia, e o motivo da nossa briga é algo que eu não posso te explicar, por que não houve uma briga. Nunca brigamos, acho que decidimos que isso não era de tão extraordinário e assim sendo Riki se afastou, começando a ser um dos vizinhos mais insuportáveis que alguém poderia ter.

— Se ele é tão insuportável, por que não se muda daqui? — Rosé questionou estendendo a caneca — Você pode voltar a morar com os seus pais em Osaka.

— Eu não teria coragem de pedir isso aos meus pais — servi o café à ela e a mim também

     Odeio dias chuvosos, e por alguma razão sei que Riki também odeia então, quando chove, me lembro disso. Apesar da chuva ser algo detestável, gosto da sensação de tomar um café quente enquanto as gotas escorrem pela janela da minha varanda.
      Acho que a Rosé se tornou minha amiga desde o dia que paguei um macarrão instantâneo pra ela em um loja de conveniência, não que ela se lembre disso, mas eu lembro...

— é uma droga, você e esse treco eram bem amigos quando tudo começou.

Ya, ele tem nome — disse impaciente — Me sentiria péssima se fosse embora desse jeito. É como se eu tivesse fugido. Se ele quer testar minha paciência então farei o mesmo.

     Ela se reencostou na cadeira lavando a caneca consigo.

— De qualquer jeito — a de cabelos claros começou — Você realmente não lembra o motivo pelo qual brigaram?

     Deslizei meu dedo pela borda da caneca.
     Silêncio.
     Mesmo parecendo irônico, minha memória é vaga para tudo. Há vários meses fiz uma cirurgia pequena no lóbulo frontal do meu cérebro, um exame de biópsia que na época era necessário, e desde que meu pós operatório foi concluído, minha memória se tornou falha. Certos pontos do dia anterior são irrelevantes na minha memória, e por muitas vezes acabo vivendo situações em que sei que no dia seguinte, não terei memórias. Me faz repensar se viver o dia de hoje vale a pena se no dia seguinte não terei memórias do que vivi.
       Então, uma boa parte de mim acredita que eu tenha esquecido minha briga com Niki, mas prefiro acreditar que nunca houve uma briga entre nós.

— Você não estava fazendo a psicoterapia?

— E ainda estou — afirmei bufante — Eu já reconheci meu problema, sei o que eu tenho. — abri os braços — O que quer que faça?

— Que não desista de buscar uma cura. Um dia, você vai se arrepender. — ela disse tomando o último gole de café

     Apesar de imprudente, agradeço a Rosé por não desistir de nós.
     Ela é uma das únicas amigas que sabe lidar comigo e minha memória falha. Ela sabe que nada disso acontece por mal, e eu, gostaria de retribuir á ela tudo o que merece.

      Ouvimos batidas fortes na porta principal e nos olhamos assim que um silêncio ficou entre nós. Ela me empurrava com pressa para que eu abrisse a porta. Olhando pelo olho mágico só conseguia ver um homem alto vestindo um casaco escuro, quando ele se abaixou para ver o olho mágico, vi justamente quem era.
       Tomei o ar em meus pulmões e girei os trincos e abri, com a surpresa de um pacote do correio sendo jogado no meu colo. Era algo visivelmente pesado...

— Coloca o endereço certo quando comprar alguma coisa pela internet — disse Nishimura — Não é tão difícil, você mora aqui há um ano.

    Levantei às sombrancelhas por perceber que ele também contava as datas.
    Desde a última vez que o vi, ele ainda tinha aquele cabelo amarelado estranho, mas o gosto por roupas escuras ainda era o mesmo, igualmente como sua cara de imbecil...

— Você não abriu? — indago

— Por que eu teria interesse nas coisas que você compra?

     Dei de ombros e ele bufou.
     O que ele faz ou deixa de fazer também não me interessa.

— Se você tiver danificado qualquer coisa desse pacote, você vai pagar. — digo e vejo um sorriso debochado se formando no rosto dele

— E como você quer que eu pague?

     Confesso que o fato do Riki ser mais alto do que eu, passa uma impressão de autoridade do qual eu demoro para digerir.
      Pigarrerei quebrando o silêncio e tirando minha atenção dele.

— Esse não é o meu pacote. — sinalizei com o dedo pela superfície do pacote — Esse é do apartamento 122, da senhora Kawaguchi.

     Ele estalou a língua no céu da boca.

— Seus sobrenomes são muito iguais.

— Vou acreditar nisso mesmo sabendo que você só veio aqui pra me ver. — arrisquei em dizer com um sorriso irônico — Mas de verdade, não me aborreça de novo.

Claro, por que é muito difícil controlar a vontade de te ver — ele torceu o nariz e por fim foi embora

     Cruzei os braços e esperei para ver até onde ele iria com aquele pacote do apartamento 122.
      Sentia um estímulo dentro de mim que me dizia para atormentá-lo uma última vez.

— Até amanhã, babe!

      A única coisa que isso me rendeu foi Nishimura Riki sinalizando o dedo do meio para mim antes de virar o corredor.
      Eu amo irritar esse garoto.

𝗖𝗮𝗻 𝗪𝗲 𝗧𝗮𝗹𝗸 𝗔𝗴𝗮𝗶𝗻 - 𝘯𝘪𝘬𝘪Onde histórias criam vida. Descubra agora