Você Realmente Não Quer me Beijar?

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𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐂𝐈𝐍𝐂𝐎

𝗲𝘂 𝗿𝗲𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲 𝗾𝘂𝗲𝗿𝗼𝘁𝗲 𝗯𝗲𝗶𝗷𝗮𝗿

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𝗲𝘂 𝗿𝗲𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲 𝗾𝘂𝗲𝗿𝗼
𝘁𝗲 𝗯𝗲𝗶𝗷𝗮𝗿

     Por venturas talvez Riki e eu tenhamos nos tornado mais próximos. Mesmo que de um jeito estranho.
      Poderíamos andar juntos, ou conviver juntos, mas de maneira alguma eu poderia falar com ele, ao menos que ele quisesse isso.
      Riki andava cinco passos a minha frente, esse é o adequado para nós dois, a distância necessária. Se o Riki parasse, eu também parava, se ele olhasse para trás, eu deveria fingir que não o conhecia. Era um plano extremamente detalhado e confuso pra mim.
      Ele olhou por cima do ombro uma última vez, fazendo contato visual do qual eu fiz questão de evitar.

— O que foi agora? — ele indagou — Eu disse para não falar comigo, mas se ficar ao meu lado em silêncio não terá problema.

      Apertei os passos para poder alcançá-lo e ficar ao seu lado.

— Mas você disse que se eu falava com você, seria como quebrar as regras. — ele me fuzilou como se me quisesse calada — Você disse isso, não disse?

— Essa seria uma exceção da regra, mas ainda te quero quieta.

— Se me quer quieta então por que continua falando comigo? — indaguei — Ou quer que eu fique do seu lado por gosta de me ter por perto?

      Tal argumento fez Niki se calar, cruzando os braços mas continuando o caminho em silêncio.
       Mas sinceramente, ficar calada só lado do meu vizinho de porta é um tanto quanto estranho para mim.

— Eu escrevi no caderno que você me deu, escrevo um pouco todos os dias. Minha memória acabou sendo afetada em uma cirurgia pequena no lóbulo frontal do meu cérebro, um exame de biópsia e desde que meu pós operatório foi concluído, minha memória se tornou o que é hoje.

— Sua doença é normal, achava que você era psicopata, sociopata ou telepata. — chutei o calcanhar dele — Mas agora eu já entendi o que você tem, não vou ficar com raiva por isso.

       Sei que as palavras dele eram de boa intenção, mas ainda não é a melhor das experiências ter que ouvir isso de alguém.
       Permaneci em silêncio, somente assentindo quando necessário.
       Mesmo que Riki já estivesse levando as coisas dele em uma sacola, ele ainda pegou as minhas coisas para que eu não tivesse tanto peso. Esse cara, apesar de estranho, as vezes é legal.

— Você faz tratamento para isso? — Ele indaga com um tom calmo

— Faço psicoterapia, mas o verdadeiro tratamento é como uma recuperação lenta, onde eu lentamente tenho que me forçar a lembrar das coisas. — detalhei para ele — Mas as vezes eu me esqueço de tentar lembrar.

— E isso é normal? — ele indagou — Esse não é um tipo de tratamento que você consegue fazer sozinha. Seu cérebro não funciona como antes...

      Meu coração acelera ainda mais, luto para entender por que as palavras de Nishimura começaram a se embaralhar cada vez ele falava comigo.
       Tento olhar nos seus olhos, mas seus olhos inacreditavelmente olhavam minha boca. Eu não julgava possível passar tanto tempo admirando uma boca, ainda mais a minha.
        Puxei a ponta da manga da blusa de Riki.

— Vamos comer sopa de missô na sua casa hoje.

[...]

       A água começou a borbulhar e a massa parecia quase pronta, apesar de estar ainda esbranquiçada.
       Riki colocou as tigelas na mesa de centro, pois desta vez não comeriamos no chão.
       Apoiei minhas mãos no balcão afrente do fogão por indução, esperando que o relógio programado desse o tempo certo de finalmente tirar o macarrão da água. Olhando por cima do ombro, pude ver Riki arrumando a mesa, mas de um jeito irônico sempre evitamos o contato visual, ao menos eu tentava evitar.

— Você comprou pimenta? — indaguei buscando pelos armários debaixo da pia

       Não havia nada por baixo, logo assim Riki se apoiou na minha cintura para que eu me afastasse um pouco e pudesse pegar o tempero nos armários de cima.

— Não tem muito, mas é o suficiente para você. — ele somente disse isso e se dirigiu a mesa de centro.

— Por que fez isso?

— Isso o que?

       Por um momento achei que ele simplesmente não tivesse encostado em mim daquele jeito, mas tenho quase certeza que ainda havia sanidade suficiente em mim para saber disso.
       O relógio acabou tocando, e me tirando da zona de pensamentos. Agora a parte mais difícil era jantar com essa dúvida dilacerando meu cérebro.

— Você fica bem de branco. — ele proferiu quebrando o silêncio

       Estava tão concentrada em meus pensamentos que esqueci do meu entorno.

— Isso foi um elogio? — indaguei analisando minha vestimenta — Ou vai completar com algum comentário sarcástico?

— Depende do que você quiser que eu fale.

— Então prefiro que continue me elogiando — admiti com narcisismo

— Como quiser. Vou fazer isso mais vezes a partir de agora.

       As conversas banais com ele me deixavam confortável, e realmente me tranquilizaram de uma cabeça cheia de pensamentos irritantes.
       Me levantei da cadeira sentindo que o missô ainda precisava de mais sal. Busquei um pouco na cozinha, colocando sob a mesa.

— Mais alguma coisa? — disse me referindo ao sal

       Ele demorou à responder, mesmo que a pergunta não tenha sido nem um pouco complexa.
       Olho em seus olhos, mas seus olhos olhavam minha boca. Isso de novo, como da última vez.

— Sim — ele passou os dedos pelos fios — Você realmente não quer me beijar?

𝗖𝗮𝗻 𝗪𝗲 𝗧𝗮𝗹𝗸 𝗔𝗴𝗮𝗶𝗻 - 𝘯𝘪𝘬𝘪Onde histórias criam vida. Descubra agora