Imagines

Tᴀʏʟᴏʀ Sᴡɪғᴛ - Cᴀғᴇ́

                                                                               Nashville –  2003

    Minha família nunca foi realmente rica, só tinha uma boa estabilidade financeira provida do café da minha falecida avó Nancy. Um pequeno café nos interiores da cidade de Nashville, foi lá que eu passei boa parte da minha infância.
    Apesar de ter sido um grande negócio nas décadas de 60 e 70, o café tem tido cada vez menos clientes. Porém, papai jamais considerou vender o pequeno negócio, que além de uma herança foi talvez a única coisa que a sua mãe possuiu verdadeiramente em vida.
    Acima de todos os problemas e dívidas recorrentes ele sempre se manteve forte em relação ao café. Estou terminando o meu último ano no ensino médio, e sinceramente? Não sei o que farei depois daqui.
    Pela manhã eu estou na escola, e quando saio venho direto para cá e fico trabalhando até a noite. Confesso que no passado cogitei a ideia de assumir o lugar, mas depois de tudo o que tenho presenciado isso não é mais algo real.
    Faculdade? Tenho uma em mente, mas ela com certeza não agrada o papai que sempre tenta me fazer voltar ao café. Nos últimos tempos a clientela tem se baseado principalmente nos adolescentes da escola local, e nos trabalhadores que acordam cedo pela manhã.
    Pode não parecer tão ruim, mas as dívidas mostram o contrário. Os investimentos feitos estão sendo cobrados com muitos juros, papai está quase pirando sem saber o que fazer.
   
    Interrompendo o fio dos meus pensamentos o velho sino da porta da frente anuncia a entrada de um novo cliente. Mas a essa hora? As aulas já acabaram e os trabalhadores só vêm no dia seguinte.
   
    Retomando a uma posição profissional consigo ver a jovem garota que acabou de entrar no estabelecimento. Ela tinha cabelos loiros e encaracolados, lindos olhos claros e não aparentava ter mais de 17 ou 18 anos.
   Não me lembrava de tê-la visto alguma vez aqui, e as minhas dúvidas foram sanadas depois de vê-la olhando curiosamente os arredores.

– Boa noite, como posso ajudá-la? - Ela pareceu se assustar com a minha fala e tinha seus olhos arregalados.

– Oi...Hm...Café.

– Algum em especial?

– Você pode colocar caramelo e leite desnatado?

– Certo, vai querer algo para comer?

– Me indica algo?

– Muffins vão bem com tudo!

– Você é das minhas.

– Então gosta mesmo de Muffins?

– São os meus favoritos.

   Mesmo de costas para ela, puxei mais um assunto.

– Nova por aqui?

– Ah, sou sim. O que entrega? O sotaque?

– Eu diria que a cidade é pequena e todo mundo se conhece e a sua carinha não me é conhecida, mas reparando bem, seu sotaque é engraçado.

– Ei, não zombe de mim!

– Não estou zombando. - Falei levantando as minhas mãos em redenção.- Mas diz aí, veio a férias?

– Vim tentar uma carreira.

– Uou, você parece nova...hum...senhorita?

– Taylor e tenho 14. E se eu quiser conseguir ser uma cantora um dia, terei que começar agora. Passei o dia inteiro procurando alguém que quisesse me contratar para fazer pequenos shows.

– Cantora? Isso sim que é sonho e determinação. A cidade é realmente em um finzinho de mundo, conseguiu algo?

– O cara do bar da esquina estava atrás de uma distração para os seus clientes, ele disse que me ligaria depois. Foi o máximo que eu consegui.

– hm...você canta o que?

– Canto e toco country.

– Que coincidência, adoro country! - Falei enquanto passava para ela o seu pedido.

– Legal, obrigada.

– Bom apetite! - Observei enquanto ela tomava um gole do seu café e parecia se deliciar de olhos fechados.

– E você é daqui desde sempre ou?

– Desde sempre.

– Hm, e trabalha a um tempo aqui?

– É propriedade da minha família, eu só dou uma mão de vez em quando.

– Então você estuda?

– Sim, imagino que você também.

– Ainda vou fazer a minha matrícula.

– Hm..

    Ficamos em silêncio por um momento, o clima não estava estranho, mas parecia que ela estava querendo me perguntar algo.

– Você nem me disse o seu nome, senhora desconhecida.

– S/N.- Falei em um tom sarcástico.

– Então, S/N...- Falou enquanto sorria.- O que você pensa em fazer na faculdade?

– Queria fazer artes mas a minha família insiste que eu cuide do café.

– Sério? Sinceramente, eu acho simplesmente incrível quem pensa em se dedicar à arte. Você desenha ou algo do gênero?

– De certa forma, mas costumo fazer grafite, é algo que eu tenho tentado aperfeiçoar.

– Por curiosidade, os grafites na entrada do café são seus?

– Uma tentativa falha, mas sim, são meus.

– Falha? Que piada! Aqueles grafites trouxeram um ar diferente pro local, seus pais com certeza estão perdendo um investimento aqui.

– Você acha?

– Tenho certeza que as suas artes trariam os clientes de volta para esse lugar. Ele já tem uma garçonete simpática pra caramba, o meu café preferido e o doce dos doces, não seria tão difícil assim.

    Em resposta aos seus elogios o meu rosto tomou uma coloração escarlate e eu não sabia para onde olhar.

– Já está anoitecendo...tenho que ir! Quanto fica a conta?

– É seu primeiro dia aqui, vou fazer um bom grado e deixar por conta da casa.

– Fala sério? Não vai te prejudicar?

– Nah, aliás você me distraiu depois desse dia tedioso.

– Acho que vou ficar te devendo uma.

    A garota loira já havia se levantado e ido em direção a saída quando uma ideia passou pela minha cabeça.

– Ei pode parecer loucura, mas o que acha de entrar nessa jornada de reconstrução? Nem que por um pouquinho você pode se beneficiar não acha?

    A garota parou no meio do salão e se virou em minha direção e sorriu.

– Acho que pode soar como uma loucura mas que seja, eu topo.

    Depois daquele dia, eu e aquela loirinha nunca mais nos desgrudamos. Mesmo não estando à frente do café eu havia participado da sua história, e de certa forma Taylor também. Hoje, ela é uma das maiores cantoras da América, tocando em festivais gigantes para públicos numerosos, mas jamais vou esquecer que ela começou em um pequeno bar, e posteriormente no café todos os finais de semana junto ao seu fiel violão tocando o seu famigerado country. Ela sempre será a garota descontraída e determinada de anos atrás.