CAPÍTULO 1

1.8K 73 2
                                    

ANY

 

Meus pés descalços tocaram o chão e eu suspirei com a cabeça encostada na

porta. Aquela era, sem dúvida, a melhor parte dos meus dias, quando chegava

em casa e podia me livrar dos malditos sapatos.

A segunda coisa que eu sempre fazia era acender a luz do hall do apartamento.

O corredor aconchegante, com o cabideiro para pendurar nossos casacos, o

cantinho onde ficavam alguns sapatos, um grande quadro com várias fotos

nossas e o lindo piso laminado que a gente tinha acabado de trocar. Ou melhor,

que o Josh tinha trocado. Ele entrou com o dinheiro e eu, com o apoio moral.

Com o cheiro de café contaminando cada metro quadrado do apartamento,

deixei minha bolsa sobre a mesa da sala e me dirigi à cozinha. Ela não era muito

ampla, mas nos atendia bem. Os armários brancos embutidos já estavam ali

quando alugamos o imóvel e a parede ao lado da pia nós pintamos com uma tinta

especial que a transformou num quadro-negro. Josh e eu brincávamos de

escrever receitas ou frases motivacionais com giz colorido e todos os nossos —

poucos — amigos que frequentavam o apartamento sempre deixavam algum

recado. A frase do dia tinha sido escrita por Josh, obviamente, e eu ri enquanto

pegava duas xícaras no armário.

“Não abra a geladeira apenas para procrastinar.”

Servi o café que tinha sido feito há pouco tempo, considerando a quantidade

que ainda havia na cafeteira; significava que o maníaco da cafeína ainda não

tinha atacado. Coloquei as minhas duas colheres de açúcar e nenhuma para ele. Eu nunca conseguiria entender como aquele homem podia engolir café sem

açúcar. Era simplesmente repugnante, mas ele amava.

— Querida, cheguei! — anunciei, empurrando a porta do escritório com o

quadril.

Josh estava de costas para mim, sentado em sua cadeira estofada cheia de

frescura para poupar a coluna e o único som que eu ouvi não foi o de sua

resposta, mas sim dos seus dedos correndo pelo teclado do notebook.

Suspirei, revirando os olhos para ninguém em especial e me aproximei dele

por trás. O escritório era minúsculo, cabendo apenas a sua mesa de frente para a

janela, a cadeira avantajada e as prateleiras feitas sob medida que tomavam conta

das duas paredes laterais. Na prateleira mais próxima da porta, estavam expostos

os cinco livros escritos por Joshua Beauchamp e publicados nos últimos anos.

Eu sempre tomava um minuto ou dois para admirar cada um deles toda vez

que entrava no cubículo. Tinha lido todos, claro. Meu favorito era Degraus, o

seu lançamento mais recente e que tinha se tornado um best-seller consagrado

pela lista do New York Times. Era nítido o amadurecimento da escrita de Joshua

Sedutora amizade - ADAPTAÇÃO Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora