ᴘᴏᴅᴇ ᴍᴇ ᴘᴇʀɢᴜɴᴛᴀʀ qᴜᴀʟqᴜᴇʀ ᴄᴏɪꜱᴀ

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Camila

Ok, por essa eu não esperava.

Por essa eu não esperava MESMO.

- Acho que meu avião pousou em Nárnia, ao invés de Goiânia. Só pode. Não dá para esse dia ficar mais estranho que isso. - Viro de costas para esconder meu sorriso bobo e volto a falar no telefone, a escutando rir atrás de mim. - Pode mandar tudo para o 106, por favor. Muito obrigada.

Desligo e volto para o meu lugar ao seu lado, me deitando no tapete. Ela imita a minha pose e se deita também, mãos na barriga e encarando o teto como se todas as respostas do universo estivessem ali.

- Podemos ouvir um pouco de música enquanto esperamos? - Pergunto já prevendo um daqueles silêncios constrangedores. Não sei se tenho assunto para manter um papo com uma mulher dessas, e música é sempre a minha resposta para tudo.

- Estava pensando a mesma coisa. - Tira fones de ouvido do bolso dos seus shorts esportivos e os entrega para mim.

- Você quer ouvir as minhas músicas? -Não, não, por favor, NÃO.

- Sim. Se estiver tudo bem por você, eu gostaria. - Dá de ombros. - É como um hobby estranho. Consigo descobrir muito sobre uma pessoa, só pelo seu gosto musical.

- Esse é o problema, Jauregui. Você vai descobrir que está deitada no chão com uma psicótica que tem playlists com músicas suas para toda e qualquer ocasião.

Destravo minha tela, abro meu Spotify e o entrego para ela, que parece se divertir ao ver coisas como “Lauren para cozinhar”, “Lauren para malhar”, ou “Show da Lauren”. Isso que ainda não chegou na parte do “Tomando banho com Lauren”, ou “Dormindo com Lauren”.

- Não fazia ideia de que as minhas músicas pudessem ser tão versáteis.

Além de parecer uma princesa, ela ainda fala como uma princesa, usando palavras como “lapidação” e “versáteis”. Ainda bem que uma mulher com vocabulário nem é sexy quase. Imagina!

- Awn! Obrigada pelo eufemismo, Jauregui.
“Versáteis” é uma ótima palavra para disfarçar minha obsessão maluca.

A “princesa” se vira para me olhar e morde os lábios, como se estivesse tentando segurar outro sorriso. - Depois dessa, acho que não preciso perguntar se você vai ao show dessa noite, certo?

- Não sei, não sei. Talvez eu vá. Sabe, se nenhum programa melhor aparecer. - Me finjo de blasé e ela retribui com um revirar de olhos divertido, voltando sua atenção para o meu celular.

Ok. Eu deveria estar surtando agora, não deveria? Não deveria estar tão plena. Pode ser coisa da minha cabeça, mas passados o choque e o tombo iniciais, isso aqui entre nós parece tão... Normal?

- Black Road! Black Road é muito bom. -Continua fuçando nas minhas playlists, como se fossem a coisa mais interessante do mundo. - O violão que você salvou hoje mais cedo, além de ser o meu preferido, é autografado pelo Ian.

- Ian Jones? Guitarrista da Black Road Caramba! - Espera aí... - Isso quer dizer que você viu aquela cena toda?

- Estava logo atrás de você. - Deixa seus dedos se resvalarem de leve nos meus, como se quisesse pegar minha mão na sua, mas tivesse desistido, ou perdido a coragem no meio do caminho. - Muito obrigado por isso, Camila. Ele vale muito mais do que eu poderia explicar. Ian me deu anos atrás e, desde então, eu só consigo compor naquele violão.

ꜱᴏᴍᴏꜱ ᴀᴘᴇɴᴀꜱ ᴀᴍɪɢᴀꜱOnde histórias criam vida. Descubra agora