ᴠᴏʟᴛᴀ ᴘᴀʀᴀ ᴍɪᴍ, ʟᴀᴜʀᴇɴ

345 38 7
                                    

Camila

- Sinto muito se o que eu falei te causou algum problema. - Ele sorri para mim e eu me sinto corar. Nico Black é um rockstar típico. Sorrisos sedutores, tatuagens aparentes, jeans rasgados, jaqueta de couro, alargadores e um piercing bridge transversal.

- De jeito nenhum. Só fiquei surpresa. Não imaginava que as pessoas fora do "Universo Lauren Jauregui" soubessem que eu existo.

- Sei como é. Eu ainda fico chocado quando sou reconhecido nas ruas, ou quando alguém como o Jay-Z fala da Four Dragons em entrevistas. É difícil acreditar que essa é minha vida. - Abre os braços, mostrando a festa pós prêmio que está acontecendo ao nosso redor. The Killers e Imagine Dragons conversam animados de um lado, Paul McCartney e Black Road do outro.

- Imagino que você escute muito isso, mas você e Lauren...?

- Somos apenas amigas. De verdade.

-Falando nela, onde a garota se enfiou? Me disse que ia pegar um drink e desapareceu uma hora atrás.

- Então estaria tudo bem se eu te convidasse para sair dia desses? Quer dizer, se acontecer de estarmos no mesmo país de novo num futuro próximo?

Sim, estaria.

Não estaria?!

Eu sou solteira.

Ele é solteiro.

Tudo em ordem.

Certo?!

- Eu adoraria e...

- NICOLAS BLACK. Estava te procurando feito louca. Precisamos ir, homem. - A Barbie Escandinava, encarnação da perfeição, aparece na minha frente do nada e eu fico momentaneamente de queixo caído.

- Santa Caramba, você é maravilhosa. - Minha falta de filtros ataca mais uma vez, mas não teria como ser diferente. A mulher é muito impressionante. Muito. Impressionante. Mesmo.

Ivy Chase, a guitarrista da Four Dragons, se vira para me olhar, fazendo uma careta engraçada. - Camila Cabello. Estou decidida a não gostar de você, por favor, não me faça te amar assim tão rápido.

Hã?

Mas hein?

Antes que eu consiga perguntar qualquer coisa, ela sai arrastando um Nico pela mão, que grita "Desculpa" para mim, já quase da porta. Ah! Acho que esses dois têm uma história rolando. Que bonitinhos!

- Já que ele foi embora, nós podemos ir também? - Lauren se materializa na minha frente, encarando sua taça de champanhe com a maior concentração.

- Ah, olá você. Onde estava esse tempo todo?

- Circulando por aí. - Ela está evitando me olhar nos olhos, ou é impressão minha?

- Está tudo bem?

- Tudo ótimo, tudo ótimo. - Agora ela toma um gole do seu champanhe, enquanto olha para o teto. Tudo ótimo. Sei. Uhum.

- Jauregui, olha para mim.

- Não.

- Olha para mim.

- Não.

Me coloco na sua frente e seguro seu rosto com as duas mãos, o puxando para baixo e a obrigando a me encarar. - Você vai me falar AGORA qual é o problema. Nós temos regras, lembra? Sempre ser honestos um com o outro.

Seus olhos verdes brilham e uma expressão de tristeza domina seu rosto. Ela deixa sua testa encostar na minha e respira fundo. - Eu quero que você seja feliz, Camz.

- Por que está me falando isso agora? -Pergunto já imaginando os piores cenários possíveis.

- Porque eu preciso que saiba disso. Por mais que eu am- adore ter você comigo, não quero que deixe de viver nada por minha causa.

Sua voz é intensa e quebrada.

Seu hálito de champanhe faz cócegas nos meus lábios.

Sua tristeza reverbera dentro do meu peito.

Estou sentindo tantas coisas agora, que nem sei qual escolher.

- Você está falando isso por causa de Nico?

A dor nos seus olhos se intensifica por alguns segundos, mas ela logo se recupera, dando um passo para trás. - Basta lembrar disso, ok?

- Ok. - Respondo mais confusa do que nunca.

Todo mundo que fica achando que nós somos mais que amigas deveria ter ouvido nosso papo agora, com ela querendo que eu "seja feliz" com outra pessoa.

- Está pronta para ir? Estou exausta. -Droga, o tique de passar a mão no cabelo parecia que tinha diminuído tanto, agora voltou com tudo.

- Claro. Vamos lá. - Enfrentamos a última leva de paparazzi da noite, até alcançarmos a porta do SUV que Joe segura aberta para nós. Na escuridão do carro, a ar fica ainda mais pesado. Viro no banco, sentando de frente para ela e a Jauregui me imita, descansando o braço no encosto atrás de nós. Nós nos encaramos em silêncio por vários segundos, diferentes emoções flutuando pelas nossas expressões.

Não gosto da gente assim.

Não quero que a gente seja assim.

Levanto a mão e faço um carinho de leve na sua bochecha, deixando minha palma descansar ali.

- Foi um discurso e tanto o que fez para mim. Chorei como não chorava há anos.

- Só falei o que estava sentindo, Camz. - Sua voz ainda não é sua voz, sua postura está tensa e eu estou começando a entrar em pânico.

- As coisas estão ficando estranhas. - Seguro seu rosto com as minhas duas mãos, deixando meus dedos resvalarem nos seus lábios e ela fecha os olhos. - Volta para mim, Lauren. Por favor, volta para mim. - Peço com a voz desesperada e a vejo suspirar.

Abre os olhos, mas não me encara, só toca o meu ombro e vai descendo até o meu colo, brincando com as suas medalhinhas e fazendo minha pele se arrepiar.
- Você me chamou de Lauren, não de Jauregui. Foi a primeira vez. - Respira fundo três vezes, fecha os olhos de novo e, quando reabre, eles estão quase o verde esmeralda de sempre. - Sinto muito, Camz. Eu... Eu... me perdi.

- Está tudo bem. - Descanso meu rosto no seu pescoço, sentindo a tensão abandonar seu corpo aos poucos. - Se eu esquecer de dizer mais tarde, estou muito orgulhosa de você, Lauren...

Ela passa as mãos pela minha cintura e me cola mais a ela, afundando seu rosto no meu cabelo e me apertando, me apertando forte. Eu a aperto mais, querendo senti-la, querendo saciar algo que nem eu sei o que é. - Camz, eu...

- Chegamos. - Joe anuncia do banco da frente e mais uma vez nós pulamos para longe um do outro constrangidos, como se tivéssemos sido pegas no flagra.

Sempre. Nas. Piores. Horas.

Ela me ajuda a descer do carro e seguimos em silêncio pelo hall, depois pelo elevador, até os nossos quartos vizinhos. Parece que há um rinoceronte africano gigante chamado "climão" andando entre nós.

Abro a minha porta e, para o meu desespero, a vejo passar reto indo direto para a sua.

Ela não vai entrar comigo?

- Boa noite, Camz.

É, acho que não.

- Boa noite, Lauren.

Essa foi a primeira noite que deixamos nossa porta de conexão fechada.

E eu só espero que isso não seja uma metáfora de como será nossa relação daqui para frente.

ꜱᴏᴍᴏꜱ ᴀᴘᴇɴᴀꜱ ᴀᴍɪɢᴀꜱOnde histórias criam vida. Descubra agora