lembranças de um alcoólatra

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- Ah Cora... - A apertou mais forte. - Pode chorar, sem problemas.

Ela chorou um pouco mais, murmurava algumas coisas em português que ele não entendia. Chuuya agora estava com tanta raiva que poderia levantar aquela cidadezinha inteira apenas para jogar encima de Dazai, pois ele havia magoado Cora, outra vez e o Naka sabia que ele faria isso até ela se desgastar por completo, era o tipo de coisa que Dazai fazia sem ao menos perceber.

- Chuu...?

- Sim? - Ele a afastou, olhando para os olhos vermelhos e inchados dela.

- Podemos ir num lugar aqui perto?

Então Chuuya entendeu o que ela havia ido fazer quando voltou para o sítio, agora a dupla estava num cemitério e Cora usava seus poderes para fazer uma coroa de flores e por no túmulo da mãe.

- Eu sinto muito. - Ele se compadeceu. - Se eu soubesse, pediria ao Mori para deixar você vir.

- Se ele deixasse eu não teria voltado.

- E você vai voltar agora?

Aquela pergunta lhe pegou de surpresa, Cora não havia pensado sobre isso, na verdade não tinha cogitado ficar no Brasil já que amava sua vida no Japão com Dazai mas as coisas ficaram meio frágeis naquela manhã.

- Vou. Não tem nada aqui pra mim.

- Se é assim então tá, vou deixar você a sós com sua mãe, volte quando se sentir pronta.

- Obrigada, Chuu.

Chuuya voltou para a entrada do cemitério, se recostou no muro branco já carcomido pelo tempo, haviam memórias voltando para si.

Certa vez Mori havia lhe dado a missão mais difícil em todos seus anos de máfia, cuidar das duas crianças que Dazai havia deixado para trás, ele - apesar de não admitir - estava sentido pela ida repentina do parceiro, achou que Dazai seria aquele que não abandonaria e ver os rostos daqueles dois pirralhos diariamente não melhoria sua perda.

O primeiro, Akutagawa, lembrava muito ele próprio em seus 15 anos, Ryuu era alguém de poucas palavras mas de uma violência devastadora, queria descontar sua raiva e frustração em algum lugar, missões violentas eram seu forte.

Já a segunda, era complicada por ser o total oposto do garoto, Cora era sentimental ao extremo, nunca havia matado nem sequer uma abelha em todos os anos dentro daquela organização, diferente de Akutagawa, ela não tinha problema nenhum em demonstrar o quanto estava estarrecida com o sumiço de Dazai, Chuuya teve muito trabalho com Cora porque não havia como aplicar sua gravidade em emoções e ele tinha a profundidade de um lago quando o assunto era sentimentos.

- O relatório da missão do falsificador de carros. - Avisou a garota, colocando um documento na mesa do ruivo.

- Onde está o Akutagawa?

- Não sei, chefe. Matando alguém, eu suponho. - Havia uma tristeza na voz, Cora odiava violência sem sentido.

Chuuya olhou para ela e suspirou, não dava mais para adiar essa conversa com ela.

- Vem. Vamos sair.

- Certo.

- Não vai perguntar aonde vamos?

- Não sou paga para isso.

Cora não estava sendo grossa ou com raiva de Chuuya, ela não poderia ser alguém assim nem se esforçando muito, ela só estava com medo de se apegar a alguém de novo e essa pessoa ir embora, ela não poderia perder seu chão outra vez.

- Cora? - Ele a chamou, agora a dupla estava nas docas, olhando o mar e apreciando o céu que só Yokohama tinha.

- Sim, chefe?

- Precisa superar a ida do Dazai.

- É uma ordem?

- Nem. O quão insensível eu seria se ordenasse isso.

- Então eu não vou. O senhor Dazai só está de luto pela morte do Oda. Ele vai voltar.

- Não ele não vai. - Ele suspirou. - Umas fontes me falaram que ele quer entrar numa agência de detetives.

- Chefe. Reveja suas fontes, ele não faria isso.

Ele pousou a garrafa que bebia no chão.

- Você vai se desgastar confiando tanto assim em alguém.

- Chefe... acho que nem o senhor nem o Akinho entenderiam minha confiança no senhor Dazai. Acho que é porque vocês já estão em casa.

Ele a olhou intrigado, permitindo que ela continuasse.

- Vocês nasceram em Yokohama, é a casa de vocês, mas e eu? Eu não sou daqui sabe. Eu viajei, da maneira mais terrível possível pro Japão porque o senhor Dazai me disse que me ajudaria. Chefe, como alguém pode arrancar uma criança de seu lar, da sua família e da sua terra e depois simplesmente ir embora? Ele não faria isso não é chefe, ele faria?

Então Chuuya entendeu o peso que a partida de Dazai significava para Cora, o que estar no Japão significava para Cora, ele nem teria coragem de dizer que ela havia sido descartada no meio do nada, que nem se quisesse poderia voltar ao Brasil.

- Não vou te dar falsas esperanças. Se acha que aquele bastardo vai voltar, então o espere. Mas não viva em função disso, é apenas um conselho.

- Está tudo bem, eu vou esperar. - Ela sorriu, a esperança de Cora feria Chuuya como uma adaga. - Até lá, posso dar o meu melhor na máfia contanto que não precise matar ninguém.

A memória fresca na mente de Chuuya se dissipou assim que Cora apareceu do seu lado.

- Tá melhor?

- Aham. - Ela subiu no cavalo e ele também. - Chuu?

- Sim?

- Aquela árvore, na entrada do cemitério, não tinha alguns cacaus verdes?

Ele olhou para a árvore em questão, os frutos já estavam mais do que maduros e alguns até caíram do pé.

- Acho que estamos com problemas. - Ele deduziu.

- Acho que precisamos ir pra casa.

#𝟎𝟏 mondays╰☼╮𝐎𝐒𝐀𝐌𝐔 𝐃𝐀𝐙𝐀𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora