dois amores/desamor

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O pescoço dela tendeu para o lado, seu rosto ardeu um pouco.

—...Osamu?

Ela o olhou em puro pavor, pavor do seu amante, pavor do passado que voltou a lhe rodear - Dazai não poderia voltar a ser o mesmo com ela, poderia? - e mais ainda pavor de si mesma, pavor de apesar de ter chegado nessa situação ainda não sentia nada de raivoso por Dazai.

Seu coração estava cheio de pavor, amor e melancolia, remorso e ódio poderiam ficar para depois.

— Cora, querida, por favor, por favor me desculpe. — Ele deixou alguns beijos onde outrora batera, Coralina não o afastou, sua principal preocupação era entender o que havia acontecido. — Me desculpe, eu nunca vou fazer isso de novo.

— Você me bateu? — Ela precisou perguntar para ter certeza. — Como quando eu era criança?

— Foi só um deslize, só isso. — Ele soou tão carinhoso enquanto acariciava os fios dela. — É algo que acontece entre casais, um desvio só isso. Não vai mais acontecer de novo, eu prometo.

— Dazai pare de prometer. — Ele sentiu a lágrima quente dela passar pela sua digital. — Não posso acreditar que você fez isso comigo.

— Então esqueça isso, vamos.

—...Dazai... — Ela se pôs a chorar, o mesmo que lhe agredira agora lhe amparava, Cora nem sentiu quando suas costas foram confortadas pelo macio da cama. —...como você pôde? Como eu posso ficar aqui depois disso?

— Não há nada em minha defesa, apenas um pedido de desculpas. Eu nunca senti tanto na vida, mas por favor, fique.

Ela apenas o abraçou e permaneceu em lágrimas, Dazai teve seu sim enquanto alisava o cabelo da moça, pouco depois o sono tomou conta do casal e eles adormeceram ali. Foi Cora quem acordou primeiro, ela pensou em arrumar suas coisas e ir embora, ir para o apartamento de Clarice em São Paulo ou para casa de um dos maridos de Flor, ela podia ir para qualquer lugar, para o antigo studio de Poe na Inglaterra ou para a mansão de Fitzgerald nos Estados Unidos, ela podia, podia tanto e nessa altura ela já até queria.

Mas era cansativo fugir de Osamu, então ela foi procurar um pouco de café.

— Cora? — Foi Gabriela quem chamou a moça, então Coralina percebeu que ela e o pai estavam na cozinha, malas na sala e café na mesa. — 'que foi isso no seu rosto? Nunca vi maribondo por aqui.

— Alergia a um doce, devia ter baunilha.

Gabriela não era cínica como Capitu, mas também não era boba, não era mais a criança que subia nos telhados atrás de pipas, Coralina com tão poucas palavras não poderia enganar-la.

— Tendi, vamo comigo na varanda? — Soou tão carismática que a amiga não pôde negar, debruçou seus braços na grade desgastada, Cora segurou a xícara com as duas mãos. — Seu namorado é estranho.

— O Fedya não...

— Não esse binha, o seu amigo galego me explicou, seu namorado de verdade é estranho. Não gosto dele.

— Não foi o Dazai quem fez isso.

Gabriela a olhou.

— Eu disse que foi? — Então Cora se mostrou um pouco desconcertada. — Você estava fora com seu namorado reserva, então ele e o galego tiveram uma briga, eu tive que intervir. Aquilo não era ciúmes.

— Conheço meu esposo, Gabriela, Dazai não tem nada de estranho, nada a ser observado.

— Tem, tem sim. E volto a dizer, não era ciúmes, ele pegou ar com vocês.

— Vocês?

— Você e seu outro amor.

— Não amo o Fyodor. Amo o Dazai. — Deu um gole na bebida. — Mas é... essa situação toda me cansa muito, como naquela música que a gente ouvia quando era criança. Um amor faz sofrer, dois amor faz chorar.

Gabriela a olhou confusa e fez um não com a cabeça.

— É “um amor faz sofrer, desamor faz chorar”.

╰☼╮

Nem num pesadelo Chuuya poderia saber o que aconteceu entre Cora e Dazai na noite anterior. E a brasileira iria se certificar que isso jamais ocorreria.

— Você está estranha. — Nakaraha constatou servindo um pouco de café a moça, estavam no avião participar da máfia.

— É cansaço. — Ela fingiu um bocejo, Chuuya se sentou ao seu lado. — Vou descansar quando chegar em casa.

— Achei que aquela era sua casa.

— Minha casa é no Japão, Chuu. É o apartamento que eu divido com meu marido.

— Seu marido. — Quis vomitar. — Espero que sejam felizes agora, você, seu marido e essa coisa na sua barriga.

— Ah, então ele te contou? É mentira do Dazai, não estou grávida. — Ela fechou os olhos. — Deus há de me castigar, mas não desse jeito.

Deitou a cabeça no ombro dele.

— Posso descansar um pouco Chuu?

Ele sorriu um pouco. Afeto especial para Coralina, ela amava aquele carinho particular e singular que Chuuya reservava a ela. Quente, forte e expressivo, tal qual seu café.

#𝟎𝟏 mondays╰☼╮𝐎𝐒𝐀𝐌𝐔 𝐃𝐀𝐙𝐀𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora