Capítulo 9

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Desde que Becca e Regina lhe deram a custódia de Henry, Emma não teve um segundo de paz.

A começar pelo comportamento estranho do garoto que aos olhos de qualquer um estava feliz e realizado com seus novos arranjos de vida. Mas mesmo para ela que só o conhecia a poucos meses, ainda conseguia distinguir os sorrisos falsos e forçados que ele estava dando a todo mundo, principalmente para ela e seus 'pais'. Ela entendia sua dor, ele perdeu as mães e no processo um irmão que não queria ter nada a ver com ele e sua "família de contos de fadas", entretanto por mais que ela e Snow tenham desemprenhado um papel ativo nos desdobramentos dos fatos, no final do dia foi Henry quem buscou isso, porque Emma tinha certeza de que se ele tivesse dado a entender que queria ficar com elas, as duas teriam colocado Storybrooke abaixo para fazer isso acontecer.

Ela não poderia começar essa linha de raciocínio sobre as mulheres, por que ela passaria horas e mais horas divagando sobre suas motivações e as opiniões de Snow sobre elas, principalmente Regina. Ela já tinha problema o suficiente com um filho, pais e chegar a um acordo com o fato de que contos de fadas são reais.

— Hey, Ruby! — ela cumprimentou a garçonete ao se sentar no balcão do restaurante.

— Olá, Emma, o que você vai querer hoje? — ela disse formal e fria.

Não era a primeira vez que a mulher a estava tratando daquele jeito. Na realidade, já tinham algumas semanas que esse comportamento vem se repetindo diariamente e ela não tinha ideia do porquê.

— O de sempre, por favor. — Ela falou com um olhar confuso para a mulher que a ignorou e foi fazer seu trabalho.

Emma deu de ombros e olhou ao redor percebendo que estava próximo do horário em que Becca e Regina passariam para tomar café da manhã já que era uma quarta-feira e a médica estaria voltando para casa de um plantão no hospital e Regina estaria a caminho da prefeitura. Quando ela percebeu isso, realmente admirou as morenas pelo esforço aplicado nesse arranjo em particular, principalmente a cirurgiã por estar extremamente cansada depois de um dia e noite inteiros trabalhando no hospital, ainda se empenhar, todas as quartas e sábados, para tomar café com sua esposa, que passou a noite sem ela...

Ok. Talvez Emma tenha passado algum tempo além do normal observando a rotina do casal, mas as mulheres eram tão atraentes e ao mesmo tempo enigmáticas que era irresistível não assisti-las sempre que tinha a chance.

Os minutos foram se passando enquanto ela comia lentamente, na intenção de se tardar o máximo e não perder a chance de ver as mulheres. Mas quando os minutos se transformaram em uma hora, Emma chegou à conclusão que elas não apareceriam mais ou que talvez tivessem passado mais cedo, e foi até o caixa, acreditando que perguntar a Ruby sobre elas, não faria mal algum.

Ela estava errada.

— Hey Ruby, você não viu Becca e Regina por aqui hoje? — quando a garçonete se virou ao som de sua voz, ela parecia pronta para assassinar o primeiro que aparecesse pela frente e Emma podia jurar que viu suas íris mudando de azul para amarelo, por um mísero instante.

— Por quê? — Sua voz era firme, algum tom abaixo do usual e Emma sentiu um arrepio em sua espinha, como se seu corpo estivesse lhe avisando que ela estava em perigo e que tinha um predador por perto.

Bem... Merda!

— Não vejo nenhuma delas há algum tempo e fiquei preocupada. — tentou amenizar. mas aparentemente foi a escolha errada de palavras, porque a postura da morena tencionou mais ainda e ela parecia pronta para se transformar diante de seus olhos.

O que diabos Ruby tinha a ver com o casal, afinal?

— Oh! Você quer dizer desde o dia em que elas tiveram que te dar um dos filhos, que elas criaram juntas, para a mulher que os abandonou? Não, eu também não vi nenhuma delas.

Como ela poderia saber disso? Só quem tinha conhecimento dessa história eram o casal encantado e Henry, mas o garoto mal falava com eles, que dirá com desconhecidos e ela pediu encarecidamente aos seus pais para não divulgar uma palavra disso. Será que foi uma das mulheres?

— Como você sabe disso? E o que diabos aconteceu com você, aliás?

— Como eu sei, não lhe diz respeito e você melhor do que ninguém sabe que o que eu falei é a mais pura verdade. — ela falou com raiva. — Além disso, toda essa sua arrogância está me dando nos nervos. Me diga de uma vez o que você quer com elas? Já não fez o suficiente com aquelas mulheres?

— Isso não é da sua conta! — Emma mordeu irritada com a mulher a julgando assim em sua cara.

— Mas é Emma. Você vê. Eu assisti pessoalmente aqueles garotos crescerem desde o primeiro dia deles aqui e vi eles se tornarem o mundo daquelas duas. — Ela explicou exasperada. — Eu conheço com detalhes a vida de cada uma delas e tudo o que elas passaram na mão de seus próprios pais, e depois Snow, no caso de Regina, finalizando com você e sua intromissão em suas vidas. Então, nem se dê ao trabalho. Você e seus pais acreditam que o mundo e a vida de todos giram em torno de vocês, mas não gira e não são o centro do universo!

Oh! Uau!

Ruby não deveria ser supostamente a melhor amiga de sua mãe? Por que ela estava defendendo sua inimiga com tanto fervor? Como ela poderia saber tão intimamente sobre a vida das mulheres? Por que ela esteve presente na infância dos gêmeos? Elas deveriam ser amigas, certo? Foi provavelmente assim que ela soube do ocorrido.

Mas não importava o que Ruby sabia e sim que estava certa. Tanto ela como seus pais já haviam infligido dor suficiente as duas morenas.

Emma só queria que alguém lhe contasse toda a história.

— Elas se mudaram e foram embora de Storybrooke com Daniel. — A viúva Lucas disse simples aparecendo do lado na neta, olhando para Emma com muito mais antipatia.

— Vovó!

— O quê? — deu de ombros. — As pessoas ficariam sabendo em algum momento mesmo.

— Eles partiram no mesmo dia em que foram até o loft lhe entregar os direitos de Henry. — Ruby declarou resignada.

— Pronto, agora que você já sabe o que queria, pare de importunar minha neta e saia da frente do caixa que já está se formando uma fila. — a senhora disse e deu as costas em direção a cozinha.

Emma saiu do estabelecimento atônita. Ainda custando a acreditar no que ouviu.

Becca, Daniel e Regina deixaram a cidade.

Eles poderiam mesmo fazer isso?

Depois de receber aquela informação ela passou o dia perdida em sua própria mente e não registrou que dia era hoje e mais importante, que dia era o seguinte. Antes de vir para a cidade, Emma não tinha motivos para se lembrar disso, sempre evitando essa data e com os anos, sua mente passou a bloquear esse dia e suas memórias, inconscientemente. Mas agora um dos meninos que ela deu à luz, estava aqui e este ano ela deveria se lembrar da data.

Pena que ela não fez.

Nem Tudo É O Que PareceOnde histórias criam vida. Descubra agora