Nem Tudo É O Que Parece

Capítulo 4

— Daniel, eu sinto muito por você ter presenciado isso. — Becca disse assim que sua esposa e filho entraram na cozinha, enquanto suspirava e sentava na mesa. — Eu saí de um plantão de 24 horas, para descobrir um dos meus filhos inconsciente, sob uma maldição que claramente acreditava ser um mais um dos delírios de Henry, de repente ter de volta minhas memórias de uma vida que parece a uma eternidade de distância agora, e lidar com uma multidão de camponeses idiotas tentando assassinar minha esposa. — Regina se encolheu com suas palavras. — Eu só atingi o meu limite. Me desculpe por dizer aquelas coisas para a srta. Swan, na sua frente.

— Tá tudo bem mamá. — O garoto garantiu e foi abraçá-la.

Enquanto segurava seu filho, sua atenção foi atraída para Regina, parada na entrada da cozinha, hesitante de como agir ou do que Becca diria para ela agora que a maldição não existe mais. Ela nunca viu sua esposa tão despida de qualquer defesa como naquele momento. Suas piscinas marrons demonstravam, ao mesmo tempo, medo, tristeza, derrota, e o pior de tudo, resignação.

Será que ela pensava que agora que Becca recuperou suas memórias, ela pegaria seus filhos e a abandonaria?

Essa realidade não poderia estar mais longe dá realidade.

Foi para isso que ela profetizou a centenas de anos atrás, que um dia alguém lhe salvaria de sua escuridão e ela viveu mil anos antes que essa profecia finalmente se concretizasse e ela despertasse um dia ao lado de sua salvadora. Pode até ser verdade que seus sentimentos iniciais foram resultado de uma maldição, mas em algum lugar ao longo desses anos, ele se tornaram reais e sua salvadora também se transformou em seu amor. Ela acabou recebendo muito mais do que esperava, não só sendo salva de sua escuridão mas também ganhando um lar amoroso, filhos que ela nunca imaginou ser capaz de amar tanto e uma companheira para encher de vida e esperança seus dias solitários.

Decidida a dar um fim a crescente tortura de seu esposa, ela se separou de seu filho e foi até a morena, a puxando para seus braços e ali a mulher finalmente desabou, sendo também abraçado por seu filho. Regina chorou muito declarando seu arrependimento sem muita coerência, mas Becca sabia que ela precisava dessa liberação, por isso mesmo deixou que ela fosse até a exaustão.

— Que tal, nós subirmos, cada um tomar um banho relaxante antes de nós três deitarmos na cama do quarto principal? — Becca sugeriu quando sua esposa finalmente parecia mais calma. — E só então a gente conversa, sim? — ambos assentiram e a família subiu para o segundo andar da mansão seguir a sugestão dela.

Cada um perdido em seus próprios pensamentos.

[...]

— Por que o Henry não está aqui? — Daniel foi o primeiro a falar quando eles se deitaram na cama enorme do quarto de suas mães.

— Porque, meu cavaleiro brilhante... — Regina respondeu e o garoto sorriu com o apelido carinhoso que ela lhe deu, desde que ele tem memória. — Henry, não quer estar aqui e eu prometi para mim mesma que nunca faria com nenhum de vocês, o que minha mãe fez comigo. — ela explicou calmamente, acariciando seus cabelos. — Eu já estive no lugar de vocês e sempre estava tentando escapar dela e da dor que ela me infligia todos os dias. Diferente dela, eu nunca encostei a mão em nenhum de vocês, mas jurei que comigo, nenhum dos dois nunca se sentira preso, enjaulado e na miséria.

— Ele é um traidor. — Daniel afirmou com toda a convicção.

Se não fosse por Henry, sua família ainda estaria unida, não existiria nenhuma salvadora tentando o roubar de suas mães e não teria ninguém tentando assassinar sua mãe no momento. Eles eram felizes em sua pequena cidade, com sua família e tranquilidade para viver em paz, mas seu irmão gêmeo tinha que acabar com isso. Ele os traiu e destruiu suas vidas para ficar com aquela mulher que desistiu deles assim que nasceram.