Capítulo 1. Tamaki Amajiki .

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      Eu rolo na cama e não consigo me sentir confortável aqui. Por mais que no Brasil tinha a minha mãe o que tornava tudo mais difícil, pela a convivência que era mais difícil. Minha cama é gelada, não o gelado de que não dormi há dois dias em minha cama. O gelado vazio, e nada acolhedor da cama no quarto em que eu não durmo há alguns anos.

Não consegui fechar os olhos por um minuto inteiro. Eu olho para o teto também gelado por mais que tenha algumas estrelas coladas nele, ele é vazio e gelado. Tudo nesse quarto durante a noite parece gelado e nada acolhedor, gelado e vazio.

Solitário.

O meu quarto tem apenas a cama que eu estou deitada, estrelas coladas no encontro das paredes, uma grande quantidade e quando vai subindo pelo teto que a quantidade ficava um pouco menor. Algumas estrelas estão caídas no chão afinal eu tinha colado elas quando eu tinha no máximo dez anos.

Eu abraço a minha pequena coberta de animais marinhos, saio do meu quarto e desço a escada dando de cara com meu pai deitado no sofá, ele estava acordado olhando para o teto.

Meu pai já é pálido naturalmente, e agora ele está um pouco mais pálido como se estivesse morrido no sofá. Ao redor dos seus olhos tem olheiras enormes, e o seu cabelo liso e preto estava bagunçado contra o seu travesseiro e ele vira o olhar para mim lentamente.

— Lindinha, tá acordada? — ele diz em um tom tão sonolento.

— Não pai.

— Ah, você entendeu o que eu quis dizer — ele diz rindo.

Meu pai senta no sofá, bate a mão do espaço vazio ao lado dele. Eu corri em sua direção e sentei. Encostei o rosto contra o seu ombro e ele me abraçou. Um dos abraços mais reconfortantes desde um mês inteiro. Afinal aquele mês tinha sido uma bagunça completa. Eu tinha acabado de voltar para o Japão, depois de quatro anos inteiros vivendo um dos piores anos da minha vida no Brasil, e não porque era no Brasil, e sim porque tive que conviver muito com minha mãe e ela não era uma pessoa que gostava muito da ideia de me ter do seu lado.

— Não consegue dormir não é?

— É minha cama está meio...

— Gelada — disse meu pai dando uma risadinha e eu concordei.

— É, isso mesmo... como você sabe?

— Seu pai sabe das coisas — ele disse em um tom bobo. — E eu estou dormindo no sofá, eu acho que eu sei.

Ele deu um pequeno selinho em minha testa, ajeitou meu cabelo e levantou do sofá segurando minhas mãos me levando até a cozinha. Eu sentei na bancada da mesa e ele sorriu acendendo a luz abrindo uma das caixas de papelão pegando a leiteira.

Eu observo as janelas grandes atrás da bancada mostrando o nosso jardim bem cuidado. Meu pai tinha contratado um jardineiro para cuidar do nosso jardim para as plantas não morrerem, porque ele queria voltar para cá. O que me faz pensar de quando ele saiu daqui, foi logo depois que eu fui? Ou quando ele começou a se sentir um pouco sozinho.

— Eu vou fazer um chocolate quente. E quando eu voltar amanhã eu te ajudo a arrumar o seu quarto. Colocar suas coisas e ai vai conseguir dormir melhor. Tem anos que não pisamos nessa casa, é claro que vamos nos sentir estranhos no começo.

— É, é claro.

— Temos que sair para fazer compras de verdade, então essa semana vai ser lotada. E de mercado você pode me fazer uma lista do que você quer? Ou você vai comigo fazer as compras, duvido que você saiba o que você quer de um mercado japonês.

Borboletas vão mais embaixoOnde histórias criam vida. Descubra agora