Capítulo.4

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      Parece que Nejire ficou tão empolgada o dia inteiro pulando de um lado para o outro e acumulando com o cansaço da semana inteira, ela dormiu apoiando o rosto na janela do carro. Ela estava no banco do carona. Mirio dirigia e eu estava no banco de trás com Tamaki dividindo fones de ouvido no celular dele. Ricky Montgomery "Line without a hook". É uma das minhas músicas preferidas, e pelo jeito é uma das de Tamaki também. Eu consigo ver ele movendo os lábios calmamente, provavelmente ele estava cantando em sua mente, e não cantando de verdade por vergonha. Aposto que ele tem uma voz bonita.

Fones bluetooth nada de proximidade por causa do fio, estávamos cada um em um lado da porta.

— Alice — ele sussurrou e eu virei o olhar para ele calmamente.

— Sim.

— Só falamos da gente — disse Tamaki.

— Primeiro eu tenho uma pergunta — disse Mirio. 

— Faz.

— Alice é brasileiro certo? E Lupin? Você não é japonesa e brasileira?

— Minha mãe é brasileira, mas o meu avô por parte de pai é inglês. E então o sobrenome Lupin. E bom... eu nasci no Brasil, com quatro anos vim para o Japão, e ai com doze eu voltei para o Brasil e com dezesseis voltei para cá.

Ele riu.

— Eu acho que deve ter sido muita coisa para assimilar.

— Um pouquinho.

— O que você tá fazendo?

— Cozinhando — eu disse e eles riram. — É sério. Eu quero fazer uma faculdade de gastronomia, na França. Então eu estou tentando não surtar e aprender a fazer as coisas — eu disse e Tamaki me olhou dando um pequeno sorriso.

— Enlouqueceu na cozinha?

— Sim. Bom... inclusive, olha — eu disse levantando a manga do meu cardigan. — Um corte no pulso, no antebraço, e nas mãos. Eu estava tentando fazer uma comida Brasileira, que eu traumatizei tanto que eu nem sei mais o que eu estava tentando cozinhar — eu disse rindo.

Os dois riram. Tamaki tem uma risada baixa e fofa, comparada com a de Mirio que é alta, escandalosa e faz com que eu ria mais. Eu ri por mais alguns minutos, e nem foi engraçado o que eu disse.

— Mas é isso — eu disse tentando recuperar o ar.

— Mas você tem uma individualidade legal. Você já pensou em ser heroína?

— Mirio — repreende Tamaki.

Não. Eu nunca quis ser heroína, desde que eu tenho consciência de ser gente nesse mundo meu pai é herói. E para mim isso é o suficiente. Eu não preciso estar no telão, salvando muitas mil pessoas por dia, eu não preciso estar arriscando a minha vida todos os dias para salvar alguém e no final do dia me sentir bem. Não tenho problemas com Nejire, Mirio, Tamaki ou meu pai que gosta desse tipo de adrenalina, mas eu não gosto.

Eu gosto de ficar em casa, fazer bolos, ler e cuidar das minhas plantas. Apenas isso.

— Não — eu disse calmamente. — Eu gosto da adrenalina de estar dentro de uma cozinha, de mandar em todo mundo. De poder ter um restaurante com estrelas Michelin. E de voltar para casa em um horário normal.

— Ah — os dois soaram como um efeito sonoro agora.

Eu nunca tinha dito isso para Tamaki, e também não tinha dito metade do que eu sinto querendo viver uma vida razoavelmente calma, trabalhar em um restaurante, estudar mais técnicas e quando eu tiver quase trinta anos construir uma família e ensinar meus filhos a fazer sobremesas praticas para elas se divertirem na cozinha como eu.

Borboletas vão mais embaixoOnde histórias criam vida. Descubra agora