05 | QUANDO A RAINHA DA NEVE EXPLODE

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Estou levando tudo numa boa. Na medida do possível. Vou para a escola, converso com Alya como todos os dias e dou bom dia a Félix. Dessa vez Adrien olha para mim, quase como se perguntasse Porque você está fazendo isso? Mas acho impossível que ele pense algo assim, porque ele não sabe que gosto de Félix.

Ainda assim, fico incomodada, talvez seja porque agora compartilhamos um segredo, um segredo que nem é nosso.

Chloe pede para conversar comigo logo antes do sinal bater. Eu assinto, mesmo querendo fugir. Já sei o que ela vai dizer.

— M-Marinette, sobre o Félix...

Ela diz tudo. Como começaram a sair, que ficou com medo de me contar e que sentia muito. Ela parece tão abatida quando fala que não consigo deixar de sentir um pesar. Não é culpa dela. Não é culpa de ninguém.

— ...naquele dia eu-

— Chloe — Seguro as mãos dela —  Está tudo bem.

Minha garganta fecha.

— Fico feliz por vocês dois.

* * *

Era tão óbvio. Félix e Chloe nunca estão juntos na escola, mas quando são forçados a interagir... tudo transparece. Chloe mal consegue conter o sorriso, Félix está sempre procurando o olhar dela e esse olhar... não é diferente da maneira como eu olhava para ele.

Acho que estou indo bem em manter as aparências, mas Adrien parece prestes a explodir a qualquer momento. Ele observa Félix e Chloe com um fogo no olhar, capaz de incendiar uma cidade inteira. Chloe mal percebe, mas Félix está alheio a ele, sabe que tem alguma coisa errada. Adrien está começando a me irritar com aquele jeito de criancinha birrenta, caramba, se ele gostava tanto dela, deveria ter tomado uma atitude muito antes.

Então, sem aviso prévio, o pior acontece. Adrien vai até a carteira de Félix após Chloe sair da sala por um momento.

— Por que você não me contou?

Adrien está prestes a fazer um escândalo no meio da sala de aula inteira, e ele não parece se importar nem um pouco.

— O quê?

Félix une as sobrancelhas, o irmão dele praticamente cospe:

— Não se faz de sonso, seu babaca.

— Adrien — Antes que possa perceber, eu estou lá — Posso falar com você?

Dou meu melhor olhar de Se você não vir agora, você morre. Sei que Félix está me encarando, mas não ouso olhar para ele. Não agora.

Antes que Adrien me xingue, agarro seu braço e o arrasto para fora da sala.

— E-espera.

Acho que estou fora de meu juízo perfeito, porque quando chegamos ao corredor, empurro Adrien contra a parede e digo entredentes:

— Você é burro?

O vejo abrir a boca para falar, mas faço questão de cobri-la com a mão. Adrien precisa me ouvir.

— Chloe e Félix tem um motivo para esconder de todo mundo, seu idiota. Você acha que eles teriam todo esse trabalho de continuarem como estranhos se não fosse preciso? Acorda.

Adrien me olha com ódio, mas eu não me importo. Ele agarra minha mão e segura contra o peito dele, não querendo mais ser silenciado.

— Isso é problema meu? — ele diz — Félix foi um merda comigo e você acha que eu tenho que ser benevolente com ele?

O vejo soltar um riso escárnio. Isso só me deixa com mais raiva. Félix nunca faria isso com ele, sempre colocaria Adrien em primeiro lugar independentemente de qualquer garota. Enquanto Adrien parece simplesmente querer destruir um relacionamento por pura birra.

— Você não se importa nem um pouco com o seu irmão? — eu tomo fôlego, mal controlo as palavras quando elas saem — Como você pode ser tão... egoísta!

Dessa vez Adrien se cala. Então tomo coragem para continuar:

— Eu estou me esforçando muito. Pra caramba. Eu agradeceria se você tivesse um mínimo de compaixão dentro dessa... coisa, que você chama de coração.

Adrien passa alguns segundos em silêncio, provavelmente assimilando tudo que eu tive coragem de dizer. A mão dele, que antes segurava a minha, desce lentamente do lado do corpo.

—... então você... gosta mesmo dele.

— O quê-

Minha voz morre.

É uma afirmação. Adrien diz isso tão casualmente como quem pergunta do tempo.

Isso não deveria me afetar tanto, mas todos os sentimentos que acumulei todo esse tempo parecem transbordar.

Eu finalmente percebo o que sempre resolvo ignorar. Sempre procuro Félix pela multidão, sempre estou olhando para ele em qualquer circunstância. Gosto de pensar que Félix está sempre me observando também, quando na verdade ele nunca me viu. Félix não olharia para mim nem se eu estivesse na frente dele.

Droga, eu gosto de Félix. Gosto tanto, mas ele nunca foi meu.

Num instante meu corpo parece pesado. Sinto como se estivesse engolindo um monte de arame farpado. E meu peito dói. Dói muito. Dói tanto que não consigo respirar.

Estou prestes a chorar no corredor onde milhões e milhões de alunos podem me ver. Estou prestes a sufocar porque não tem como esta situação ser mais humilhante do que ela já é.

Então Adrien se aproxima, fica apenas alguns centímetros longe de mim, consigo ver seu peito de perto. Ele segura meus ombros e me coloca de costas para a parede, não muito diferente de como eu estava com ele antes.

— Apenas chore de uma vez — ele diz — Cuidarei para que ninguém veja.

Meu olhar embaçado deforma o mundo, então não consigo ver a expressão de Adrien, mas consigo sentir sua calma. Ele não tem nada a perder me ajudando, mas não tem nada a ganhar também. Adrien apenas... faz o que quer. Então, mesmo contrariada com suas ações, acabo afundando o rosto em seu moletom. Adrien parece surpreso por um momento, mas depois toca minha cabeça contra o peito dele. Minhas mãos tremem enquanto agarro o tecido.

Adrien não diz mais nada, eu também não. Permanecemos vários minutos assim. Consigo sentir a movimentação no corredor, mas gloriosamente ninguém pára para perguntar, ninguém ousa chegar perto. Tenho certeza de que alguns boatos já circulam por aí, alguns se perguntando porque Adrien está abraçando uma total estranha, e me preocupo que Adrien pense dessa maneira. Quero me soltar para que ele não seja o centro das atenções, mas apenas não consigo. Seu aconchego é convidativo demais.

Talvez, penso pela primeira vez, seu coração seja gelado, mas seu peito... com certeza é muito quente.

Rejeitados | MLB • AdrinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora