Pela Janela | capítulo único

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A vida é efêmera, trágica e insignificante

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A vida é efêmera, trágica e insignificante.

O mais irônico é que viver é ser cercado de incertezas e "talvez", no entanto a única coisa que temos a total convicção desde o nascimento, é a morte. O fatídico dia que tudo irá acabar e nada do que fizemos significará.

Eu olhava daquela janela os funcionários da funerária a tenda diante da casa de luto. Uma mãe havia partido ao dar à luz a uma menininha, uma vida por outra. É lamentável pensar que a menininha estava sendo culpada por assassinato pelo próprio pai quando a própria mal tinha ganhado a vida.

Pela janela também vi a garotinha correndo pelo gramado com um menino dos olhos de esmeralda. Ela estampava em seu rosto o mais singelo sorriso, refletido na expressão do garoto.

Novamente vi pela janela a menina, já moça, abrir a porta da sua casa, deparando-se com o rapaz dos olhos cintilantes. Também observei ela sair pela mesma porta trajando um vestido exageradamente branco com um véu nos cabelos.

Há, neste mundo de encantos e belezas, sentimento mais pulcro que o amor? Há, nesse mundo sombrio de pesadelos, algo mais doloroso do que as coisas que este sentimento tão ataviado porém vil causam em alguém? Pois aquela garota que eu tanto observava com pesar estava desacreditada disto. Tantas foram as vezes que teve seu coração estilhaçado em cacos, dano este irreversível, ferida esta incurável.

Pela janela eu vi o homem de olhos de esmeralda erguer sua mão e partir o que restava do coração da mulher em um último estilhaço. A mão que antes lhe acariciava, agora lhe apunhalava. Os olhos que antes brilhavam de amor, agora brilhavam de ódio e em momento algum de sua agonia desviou dos olhos desesperados da mulher enquanto seu sangue escorria do lado esquerdo do peito. Não enquanto sua vida esvaia do seu corpo. 

Pela janela eu vi a mulher, antes moça, antes menina, soltar seu último suspiro.

— Está na hora — A dama de trajes negros e foice impiedosa chama por mim, convocando-me para a minha punição eterna. No inferno eu percebi que a morte é o ser mais acolhedor de todos, abraça quaisquer indivíduos e jamais os larga, acompanhando-os pela eternidade.

Pela janela eu vi, incapaz de sentir medo, raiva ou qualquer sentimento particularmente humano, meu corpo ser jogado em um lugar imundo e esquecido ao relento. Me vi apodrecendo e sendo devorada por urubus. Assisti quem eu um dia amei queimar minhas roupas, fotos e todos os resquícios da minha presença, apagando-me da face da Terra. 

Como se eu nunca tivesse existido.

Como se eu nunca tivesse existido

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