Black Swan | capítulo único

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Abandonei meu cavalo no meio da floresta, pois não conseguia arrastar ele machucado com três flechas no flanco quando eu mesmo estava com uma enterrada no meu abdômen

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Abandonei meu cavalo no meio da floresta, pois não conseguia arrastar ele machucado com três flechas no flanco quando eu mesmo estava com uma enterrada no meu abdômen.

Eu não iria conseguir chegar ao palácio, dei-me conta. Iria morrer, era inevitável, muito sangue havia deixado o meu corpo.

A força esvaiu do meu corpo e eu desabei perto da margem do lago. Ótimo, pensei, lamuriando meu destino inevitável, morrerei sob o luar e com a companhia de um cisne negro.

Isso era muito irônico. O animal que, séculos atrás, era o símbolo do meu reino, simbolizava tragédia e morte. Os cidadãos mais supersticiosos até sacrificavam um cisne negro às vésperas do ano vindouro para espantar os males. E cá estou eu: prestes a morrer na presença do cisne que representava esse mau agouro.

Minha respiração estava ficando falha, a dor se intensificava e mais sangue manchava minhas vestes antes brancas. Tudo que pude fazer foi encarar o cisne negro e esperar meu fim.

Achei que estivesse perdendo minha lucidez quando o vi brilhar sob a parca luz da noite. 

O corpo do cisne começou a modificar-se, tomando uma forma humana. Meu estupor aumentou quando as penas deixaram seu corpo, revelando seu corpo branco e despido. O ser que antes era um belo cisne negro, transformou-se em um belo jovem cujos cabelos eram tão escuros quanto as penas antes eram.

Com passos cautelosos, aproximou-se de mim. Afastei-me assustado, arrastando meu traseiro no chão.

— Acalme-se, príncipe — disse com uma voz melodiosa. Encontrei com meus olhos suas íris tão negras quanto a pupila, porém elas brilhavam, como se ele tivesse a própria noite nos olhos. — Irei ajudá-lo.

Um grito rasgou minha garganta quando de modo inesperado arrancou a flecha do meu abdômen. No entanto, a dor cessou quando a mão direita dele, cujo mindinho tinha um anel brilhante, tocou o local ferido.

O ferimento fechou totalmente.

— Como…? — Mas não obtive resposta, assim como não soube quem ele era. O jovem se afastou, indo em direção à floresta.

Parecia até que a luz da lua cheia fazia questão de acompanhá-lo, esquecendo-se do mundo e iluminando somente do corpo nu do cines negro que virou humano.

Havia uma lenda antiga que passava-se de geração em geração, todos a conheciam, era uma questão cultural até. 

Ela contava sobre a fatídica Noite das Cinzas.

Segundo a lenda, logo após o assassinato de toda a família real — os últimos da sua Dinastia, os que antecederam a acessão da minha família ao trono —, os moradores da avistaram um cisne negro andando pelas ruas da capital.

Aquilo foi o prelúdio da tragédia que perturba os cidadãos do reino mesmo depois de séculos.

Por isso os supersticiosos sacrificavam a ave toda véspera de ano novo, por isso que todos temiam sequer sua presença. O animal que antes fora o símbolo estampado na bandeira do reino, agora tinha uma simbologia trágica, nos fazia lembrar de uma noite tão distante, porém era uma ferida que sangrava independente de quanto tempo havia passado.

Contudo naquela noite, aquele cisne negro contradisse a lenda. Ele me salvou de morrer à beira do lago.

 Ele me salvou de morrer à beira do lago

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