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Debrucei-me sobre as flores. Aquele lugar, o jardim de lavadas, era o mais bonito de toda a cidade, na minha opinião. As flores haviam nascido em um planalto, o que me proporciona a vista perfeita para os fogos de artifício que explodem no céu naquela noite estrelada. O lugar era parte de uma antiga propriedade de uma família abastada, já fora muito bela um dia, no entanto agora estava em ruínas. Só o jardim que permanecia belo, por ação da própria natureza
A casa em si era assustadora, ainda mais quando se tinha o próprio cemitério dentro da propriedade.
Admito que eu sentia um temor ao passar por aquele lugar sombrio à noite para chegar ao jardim de lavandas.
A cidade estava em festa, as comemorações ocorriam em toda parte, porém eu preferi vir para esse cantinho que me trazia tanta paz.
— Esses fogos fazem um barulho incômodo — Me assustei com a voz feminina que surgiu tão repentinamente. A jovem riu. — Desculpa, não quis assustá-lo.
Ela deitou-se no chão, sem se importar se sujaria o vestido branco longo.
— Pelo visto não fui o único que quis aproveitar a vista.
— Não vim pela vista — a moça disse, ainda encarando o céu. — Aqui o único lugar que me sinto em paz, venho todas as noites aqui.
Eu não vinha todas as noites como ela, mas muitas vezes na semana no mesmo horário.
— Nunca te vi aqui — digo, achando estranho.
— Mas eu sempre te vejo — Aquilo era muito estranho, assustador, até mesmo. — Sempre o vejo quando passa pelo cemitério — A moça riu quando fiz um barulho de assombro. — Os mortos não me assustam, eles não apresentam perigo.
— E se uma alma aparecer? — pergunto, rindo e olhando para ela.
Pela primeira vez desde que apareceu, ela olha nos meus olhos.
— Meu nome é Samantha Parker Cooper — disse, sem desviar o olhar.
— Matthew Brown — me apresentei.
Continuamos em silêncio até que o festival de fogos chegou ao fim.
— Se sempre me viu por aqui, por que nunca falou comigo? — perguntei por fim, quando a curiosidade me venceu.
— Ora, você é um estranho.
— Você veio falar comigo hoje — argumentei.
— A curiosidade me venceu — admitiu, dando de ombros.
Outra pergunta pairava na minha mente.
— Por que sempre fica no cemitério? O que tem lá? Por acaso algum deles é seu parente — O que era improvável, pois ninguém era enterrado ali faz anos, mas a possibilidade não era nula.
— É ano novo — falou, como se aquilo explicasse tudo.
— E…?
— As pessoas comemoram e começam um novo ano, novo ciclo — continua sua linha de raciocínio. — Mas para eles — Samantha senta-se e aponta para trás, para o cemitério. — tudo continua a mesma coisa, o tempo não passa porque chegou ao fim. Ninguém se lembra deles. Apenas eu venho fazer uma oração para cada um deles.
— Então tem alguém para lembrar deles — Vejo uma lágrima deixar os olhos da garota. Não entendi o porquê uma estranha se importava tanto com pessoas que tinham morrido há tantas décadas, com pessoas que ela nem chegou a conhecer. E também não entendi o porquê de eu estar me importando com ela.
Samantha levantou-se como se tivesse levado um susto.
— Tenho que ir! — exclamou, assustada. — O que tinha na minha cabeça! — sussurrava enraivecida consigo mesma. — Não devia ter vindo falar contigo. Tenho que ir!
Tão repentinamente quanto apareceu, ela se foi. Samantha sumiu de vista, sendo engolida pela escuridão do cemitério.
Que garota estranha.
Continuei deitado sobre as lavandas, admirando o céu estrelado. Passei minutos e minutos admirando a vastidão. Já estava tarde, precisava voltar para casa antes que minha mãe ficasse preocupada.
Tomei coragem para passar pelo cemitério. Eu juro que aquele lugar abandonado era terrivelmente assustador. Andei apressado, com medo de ser surpreendido por alguma assombração. Que infantil! Isso não existe, Matthew, me critiquei.
No entanto, me detive.
Um candeeiro estava pousado sobre uma lápide. Um candeeiro, sério? Que troço antigo.
Eu definitivamente não devia ir na direção oposta à entrada da propriedade, definitivamente não devia ceder à curiosidade. Isso é típico de início de filme de terror!
Maldita curiosidade!
Andei em direção à lápide iluminada e me engasguei de susto com o que vi"
Samantha Parker Cooper
A mais amável de todas as criaturas
12 de março de 1940
18 de julho de 1957
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CAFÉ, PALAVRAS E UM CORAÇÃO SOLITÁRIO ꪜ
ContoPegue seu café, acomode-se e venha preencher seu coração com esta coletânea de contos. Neste livro você, meu caro leitor, irá encontrar contos de amor, vingança, fantasia, para rir, chorar, odiar e mergulhar neste mundo fantástico. Cada conto, uma...