Deixa eu contar uma historia pra vocês...
Quando me mudei para Portugal no inverno eu estava no auge da solteirice, e como nova moradora dessa cidade fantástica fui explorar o que ela tinha de melhor pra me oferecer:
Baixei o Tinder.
Foram muitos matchs e muitas conversas que não levaram a lugar nenhum, até encontrar esse cara. Loiro, olhos verdes, forte, bem alto, uma verdadeira tentação. Ele tinha cara de quem não presta, caso de uma noite só. Veio com um papinho fraco de signo, queria saber se a fama do escorpião é real então o convidei para descobrir.
Ele foi à minha casa aquela noite e fizemos o que tínhamos que fazer, achei que depois de finalizar ele iria embora mas pra minha surpresa ele continuou na minha cama me perguntando sobre minha história. A verdade é que ele morava longe e não tinha como voltar tarde da noite, precisava esperar algumas horas até sua melhor amiga sair da balada e passar pra pega-lo então conversamos um pouco. Acontece que ele não era exatamente o que eu achava. Era engraçado e inteligente, estávamos estudando o mesmo na faculdade, sabia as falas de Harry Potter, até estudamos na mesma escola em estados diferentes. Foi uma noite deliciosa, em vários aspectos. E sim, eu quis vê-lo novamente.
Fomos nos aproximando e logo meus finais de semana não eram mais tão solitários, nos entendíamos bem, ele sabia do que eu gostava e como gostava. Eu não me preocupava em agrada-lo, era casual, então eu lhe contava tudo que acontecia nos meus dias. Nós conversávamos muito, ele me fazia rir e eu o provocava.
Criamos uma amizade regada a sexo e fofocas.
Logo ele virou minha preferência, quando eu pensava em alguém pra ir à um show, balada ou cinema eu pensava nele. O problema foi quando eu comecei a pensar nele pra tirar um cochilo a tarde comigo, ou pra me ajudar com uma receita que vi na internet, ou então pra ficar em silêncio tomando vinho. Ele acabou virando minha primeira e a minha última mensagem do dia, eu estava preocupada mas já era tarde. Me apaixonei por você, Levi.
Eu sei, estragaria tudo. Eu tentei não pensar sobre isso, sai pra jantar com outros caras mas não era a mesma coisa. Nós sempre fomos sinceros um com o outro então eu contava com quem eu saia e pra onde eu ia. Talvez esse tenha sido meu grande erro. Porque o cara incrível que atravessava a cidade de bicicleta pra me ver não se achava bom o bastante pra mim.
Eu dei várias dicas de que eu queria algo a mais, mas ele recuava. Quando enfim tomei coragem e disse que o que eu sentia ele me lembrou do meu lugar de amiga, e isso partiu meu coração. Eu não tive outra escolha a não ser me afastar e esquecer.
Alguns meses depois eu o encontrei no aeroporto, foi muito bom vê-lo novamente. Conversamos pouco, contei a ele sobre meu novo namorado e ele sarcástico disse que não duraria, estava certo.
Um ano e meio depois na madrugada de um sábado recebi uma ligação. Ele estava dando uma festinha em casa e estava bem alcoolizado, falava bastante, continuava engraçado. Me perguntou sobre meu relacionamento e eu falei sobre a minha separação temporária. Eu dizia que não era o fim, que ainda ia acabar voltando, ele por outro lado acreditava que isso não ia acontecer. Então fizemos uma aposta e se eu perdesse...
"você vem chorar na minha cama."
Nós perdemos o contato com o tempo. Não soube muito sobre sua vida e o pouco que eu sabia havia visto em suas nas redes sociais, ele conheceu uma pessoa e eu outras. Então anos se passaram...Eu queria dizer que acabou por aqui. Devia ter acabado. Mas eu não conheceria o amor da sua forma mais bonita.
Não me lembro como voltamos a nos falar depois de todo esse tempo. Só que 3 anos depois de toda aquela história que tivemos, o sentimento havia mudado. Contei pra ele sobre eu precisar voltar a Portugal e ele me ofereceu um lugar pra ficar até eu me estabilizar. No começo eu achei que ele estava brincando mas quando a data da viagem foi se aproximando fui vendo que era bem real. Ele realmente queria me ajudar. Brincava vez ou outra sobre eu ter que dormir com ele, acho que ele achava que teria benefícios por um dia termos tido uma amizade colorida. O que ele não sabia era que eu tinha uma bagagem tão extensa de traumas naquele momento que ter alguém na minha vida ou na minha cama não fazia parte dos meus planos.
Foi difícil conviver com o sexo oposto no território dele, ele era bagunceiro demais. Por sorte eu não sou a pessoa mais organizada do mundo então não me incomodava. Contanto que não invadisse o meu espaço. Eu tinha o meu quarto e ele o dele.
Ele se mostrava ser alguém bem cuidadoso comigo em muitos aspectos. A noite, quando ele chegava do trabalho, nós sempre conversámos por horas assistindo séries e as vezes bebíamos. Eu não era mais uma garota de noitadas, eu gostava de ficar em casa o máximo de tempo possível, ele tentava me tirar sempre que podia. Me levava pros rolês com seus amigos e me mostrava um pouco do seu mundo. Sempre muito protetor. Ele costumava dizer que eu não via maldade nas pessoas que se aproximavam de mim.
Eu tinha certa rejeição ao afeto, não gostava que tocassem minhas mãos, nada de abraços nem coisa do tipo. O meu bloqueio emocional, por assim dizer, não era algo que me incomodava. Na verdade, eu já havia me acostumado a ser mais fria e fechada. O que foi um grande baque pra ele que sempre que isso ficava nítido gostava de dizer "você não era assim". Ele sabia ler muito bem minhas expressões corporais, sabia quando me sufocava, quando me deixava apreensiva, e sempre me dava o espaço que eu precisava.
Pouco a pouco nossa intimidade crescia, fisicamente não mas emocionalmente sim. Fui lhe contando sobre as situações que havia passado e as pessoas que haviam me machucado. Certas coisas eu não tive coragem de falar mas eu sabia que ele sabia. Minha saúde mental estava em recuperação, então eu tomava alguns remédios. Uns me deixavam acordada e enérgica, e outros me acalmavam. O problema maior era só minha libido, ela não existia.
Tudo bem, eu confesso: Ele foi me ganhando aos poucos.
Ele era atencioso e cuidadoso, estava mais inteligente e eu adorava ouvi-lo explicar sobre coisas que eu não me importava. Ele tentava me beijar as vezes, mas não forçava a barra. Sempre me perguntava se eu precisava de algo antes de sair do trabalho, aos poucos foi deixando de sair todo fim de semana porque preferia maratonar filmes comigo. Fui percebendo que me importava com ele, as vezes perguntava na hora do almoço se ele havia comido ou quando o tempo fechava se tinha levado capa de chuva. Nos dias de folga gostávamos de fazer programas de casal, como amigos. Ele me levava ao parque, ao museu, ao cinema, pra almoçar, pra jantar, pra resolver problemas, e o que eu mais gostava: pra andar de moto sem rumo. Fazíamos tudo juntos.
Numa dessas noites despretensiosas que assistíamos filmes com o colchão no chão da sala tivemos uma conversa bem engraçada. Não consigo me lembrar como chegamos nesse diálogo.
"Sabe, eu gosto de você e acho que você gosta de mim." ele disse.
"Eu gosto de você" disse eu sorrindo.
"Acho que a gente devia ficar sério..." ele disse.
"Eu não acredito muito nisso, tipo, acho que você fica com alguém pra ter certeza que quer algo com essa pessoa. Ou fica ou namora, entendeu?" expliquei
"É que se eu pedisse você em namoro achei que você diria não, me acharia louco, dai fui mais sutil..." ele disse um pouco sem jeito.
Eu fiquei tão nervosa nesse momento.
"Então, o que me diz? Quer namorar comigo?" propôs ele.
"Quero" respondi ainda um pouco incrédula.No começo foi engraçado pensar que eu tinha um namorado que eu não conseguia dar uns amassos. Fomos com bastante calma, apesar de morar sob o mesmo teto eu dormia sozinha na minha cama. Colocamos o colchão na sala e víamos filme, mas assim que ele adormecia eu ia para o meu quarto. Ele sempre acordava sozinho.
Ele foi bem paciente comigo e esperou que eu estivesse pronta pra dar um passo a mais na relação, isso demorou um certo tempo. Quando eu achei que estava pronta aconteceu da forma mais deliciosa, os beijos, o toque, os gemidos e o suor.
No entanto, quando terminou senti uma falta de ar de repente. Minhas mãos tremiam e o choro logo tomou conta de mim. Foi a minha primeira crise de pânico que ele presenciou.
Ele manteve a calma, ficou ao meu lado o tempo, me trouxe o medicamento e quando eu permiti me abraçou. Quando eu ja estava mais calma me olhou nos olhos e disse baixinho "eu te amo, e não precisa dizer o mesmo agora. Só quando estiver pronta." Mas o que você não sabe, Levi, é que naquele momento eu te amei.Viver ao seu lado era tão leve. Eram beijos com gosto de pod de banana e cigarro, folgas às quartas no china, stop aleatório com cerveja e aquela pizza horrorosa de camarão (sinto muito). Ele queria ter estréias comigo, então me deu o privilégio de dar o seu primeiro beijo no cinema. Ele não parava de falar sobre o filme que íamos ver, estava mega ansioso por ser de sua saga preferida. Para minha surpresa aquele dia ficaria marcado na minha vida como a primeira vez que eu ganhei um anel de compromisso.
Ele me provava todos os dias que seria diferente de todos os outros.
Nós tivemos atritos como todo casal mas estávamos dispostos a crescer juntos. Eu amava nossa rotina cansativa de passar o dia inteiro longe trabalhando mas a noite... te ver na rua em frente ao meu trabalho quando eu abria aquela porta... era sem dúvidas a melhor parte do meu dia!
Eu parei de tomar os remédios e logo parecia que estávamos o tempo todo em lua de mel, era o jeito que ele me olhava, o jeito que eu o olhava. Eram poucas horas de sono e muitas noites em claro, era pouca vergonha e muita sacanagem, era pouco pudor e muita indecência, era pouco limite e muito querer.
Dormir com você era terrível, pelos roncos, mas acordar ao seu lado e te ouvir dizer "bom dia, amor" fazia tudo valer a pena. Sei que te fiz chegar atrasado no trabalho vários dias mas era automático te puxar pra cama pra ficar um pouco mais, e acordar com o café ao lado da cama não tinha preço.
Ele não era perfeito e na maioria das vezes me tirava do sério com facilidade, mas é isso que da juntar homem palhaço com mulher estressada. Houve vezes que eu pensei que estávamos indo rápido demais, vezes que me questionei sobre sua lealdade, vezes que nos perdemos na comunicação e houve vezes que eu não tinha dúvidas que ele era minha melhor escolha.
Como naquele noite que você virou pra mim e disse:
"Vamos casar?" Ele disse.
"Vamos,amor" respondi.
"Amanhã, no cartório, vamos?" Disse ele entusiasmado.
"Ta doido? Vai dormir." Respondi.
"A gente já mora junto, já somos casados, você é a mulher da minha vida então porquê não?" Disse ele.
"Levi, meu pai me mata se souber que eu casei sem avisar e ele não puder me levar ao altar. Nós vamos casar mas agora vamos dormir." Respondi.Eu queria poder dizer que mantivemos a fé um no outro até o fim mas não foi bem assim. Quando a "era das trevas" começou não resistimos. Nós caímos.
CONTINUA

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Eternizando Estrelas
RomanceNão se iluda com o título. Se está procurando desilusões amorosas e corações partidos está no lugar certo. Vou te contar como minha vida foi cheia de traições e ainda assim sobrevivi, que ninguém morre de amor (por mais doloroso que seja) e que semp...