QUATRO

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O que acontece com muitas pessoas apaixonadas é que não agimos com sabedoria, na verdade não agimos com sanidade. Eu nem conhecia Wil bem o suficiente pra sair, muito menos pra ficar às duas da manhã no metrô, mas o meu cérebro estava mergulhado em doses altas de álcool e adrenalina.
Ele era um homem muito bonito, daqueles que acabam virando fakes nas redes sociais. Não tinha um corpo atlético mas não era magro nem gordo, tinha olhos azuis, cabelo e barba um castanho bem claro, algumas tatuagens e estilo de gente do Sul.

Enquanto ele me falava de coisas que eu realmente não me lembro no trem para sua casa, eu só pensava em como ele era sexy e como seus lábios eram viciantes. Quando chegamos ele quis procurar taças para um vinho mas eu o coloquei contra a parede tirando sua camisa. Ele entendeu o recado. Colocou a mão por dentro de meus cabelos puxando devagar, descendo sua boca pelo meu pescoço, enquanto a outra mão tirava meu sutiã por baixo da blusa. Fui andando devagar até o quarto que ele me conduzia onde eu deitei em uma cama macia e o resto deixo por conta da imaginação de vocês.

Viver com Will era como estar na parte alta da roda gigante, o que eu me recusava a acreditar é que tudo que sobe uma hora vai ter que descer. Depois daquele dia nos vimos a semana inteira, no primeiro dia ele me surpreendeu aparecendo no final da minha aula, no segundo dia almoçamos juntos, depois fomos ao cinema, depois fomos à praia, depois jantar em sua casa, e então fomos à um bar com música ao vivo. No meio da apresentação do cover ele pediu ao músico o violão e cantou "Os anjos cantam nosso amor - Jorge e Mateus", ele cantava muito bem, no final apontou pra mim e disse:
"Oh mulher, namora comigo pelo amor de Deus!"
E esse foi o meu pedido de namoro.

De longe foi o namoro mais tranquilo que tive, quase nunca brigávamos, eu percebia que ele era tão apaixonado quanto eu. Pelo menos era isso que eu achava. Ele era atencioso, romântico, carinhoso, engraçado, inteligente, cuidadoso, era o namorado perfeito. Apesar de ser lindo de morrer ele não me passava desconfiança, eu tinha lá um ciúme ou outro mas acreditava em sua fidelidade.

Com pouco tempo eu passava mais tempo na sua casa do que na minha, ia pra um fim de semana e ficava lá por duas semanas. Quando me dei conta a maioria das minhas coisas estavam lá com ele.
Um dia seus amigos chegaram sem avisar pedindo pra jogar cartas e beber, eu disse que ia ficar no quarto assistindo um filme porque não estava muito bem. Ele ia ver como eu estava as vezes, me da um beijo e voltava aos jogos. Em uma dessas vezes deixou o celular sobre a cama e o mesmo tocou, não atendi. O mesmo número havia mandado algumas mensagens minutos depois então cedi a minha curiosidade, vi toda a conversa, descobri naquele dia quem ele era de verdade.
Além de estar devendo muito dinheiro pra um cara por conta de drogas, Will fazia favores sexuais para mulheres casadas em troca de dinheiro. Era muita coisa pra digerir. Eu sentia meu corpo diferente, meu coração palpitava forte, minhas mãos estavam tremulas, me faltava ar. Eu tentava respirar e parecia que meu nariz estava entupido, a vista escureceu até não sentir mais meu corpo. Foi minha primeira crise de pânico, que eu lembre.
Acordei com muita dor de cabeça, depois de um banho resolvi ir pra casa. Passei alguns dias o evitando e fiz uma viagem em família para um sítio no fim de semana. Na segunda eu estava disposta a falar com ele, como não respondeu minhas mensagens fui até sua casa. Eu tinha um copia da chave, eu pegaria minhas coisas e sairia, deixaria um bilhete dizendo que havia passado querendo o encontrar para conversar. Sua casa não era grande então assim que entrei consegui ver o quarto com a porta aberta, ela de quatro na cama e ele por trás dela.
Não, ele não foi atrás de mim depois que fechei a porta ao ver aquela cena. Não me deu explicação nenhuma, muito menos se desculpou, só levou minhas coisas em um dia que eu não estava em casa e desapareceu.
Passei algum tempo pra me recuperar disso, era mais uma ferida, e mais um tempo pra entender que a culpa não era minha mesmo eu acreditando que havia algo de errado comigo.
Por que fez isso comigo, William?

Eternizando EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora