Sei que tenho muitos sentimentos mal resolvidos dentro de mim, muitas feridas não cicatrizadas e sim, tenho pressa em pular pra parte que fico bem. Eu queria que ele tivesse morrido pra mim, como sei que morri pra ele. O mais engraçado foi que passei pelas fases do luto, do pior tipo, daqueles que nos deixam e continuam vivos.
No começo eu não percebi pois não foi na ordem "correta" mas agora parando pra analisar foi bem parecido. O primeiro estágio foi a negação.
Nos três primeiros dias eu chorei sem parar, e pra ser honesta eu tinha naquele momento muitas dores pra aliviar. Eu chorava porque não acreditava, chorava porque pensar em seguir sem ele doía, chorava principalmente porque eu confiei. Depois de muitas conversas com tias e primas casadas me fizeram manter uma fé, inexistente, de que ele logo veria que foi um impulso mal pensado. Elas alimentavam dentro de mim a ideia de eu não devia desistir do que nós havíamos construído pois era uma situação estressante, não estávamos preparados pra passar por isso e logo a saudade falaria mais alto. Me mantive esperançosa o quanto pude, pedi a toda divindade que guardasse nosso relacionamento e nos fortalecesse. Mas os dias foram passando e ele não sentiu minha falta momento algum.
Logo entrei no segundo estágio, a depressão.
Eram dias intermináveis e noites apavorantes, foram muitos remédios pra dormir e muitos pesadelos com ele. Eu me lembrava de momentos nossos, de conversas profundas que tivemos, de risos que me arrancou, beijos que me roubou. Lembrava da nossa casa, do colchão na sala, tênis ao lado da porta, das taças cor-de-rosa, das latas e garrafas de cerveja que colecionávamos, das roupas no chão do banheiro, dos milhares de vidrinhos de perfumes...
Era como espiar uma lembrança.
Eu acordei muitas vezes assustada te ouvindo chamar o meu nome, acordei sem reconhecer onde eu estava, acordei te procurando ao meu lado. Acho que uma parte de mim achava que tudo não passava de um pesadelo.
Meus medos e inseguranças gritavam, eu me sentia pequena, vazia, feia, insignificante, fraca e triste. Eu ficava me questionando se todo amor que eu recebi foi real, se foi verdade todas coisas que ele me disse e todos os planos que fizemos.
Eu estava decepcionada.
As pessoas me falavam que eu devia ter sido mais egoísta, pensado mais em mim, que assim talvez ainda estivéssemos juntos se tivesse ido embora quando pude. Me questionava se ele faria o mesmo por mim, porque eu não vejo uma versão minha que teria o deixado sozinho.
Eu me fazia milhares de perguntas...
"E agora? O que eu faço? Por onde eu recomeço?" "O que será que ele ta fazendo?" "Como eu vou voltar pra casa se não tenho mais casa?" "Será que ele pensa em mim?"
Eu vivia com os olhos inchados e por onde eu passava, pessoas que não sabiam de nada do que estava acontecendo, me perguntava se eu estava bem. Além da inevitável perda de peso, meu rosto sempre expressava cansaço e exaustão. Eu tentei me exercitar um pouco, sair mais de casa, ver os amigos, ter momentos em família, ler, tomar sol... eu sabia que eu estava muito mal de novo e mesmo assim juntei o restinho de força que ainda me restava, mais a força que minha família e amigos me deram, e ainda chorando todos os dias eu me mantive de pé tentando ficar bem.
Hoje meu coração se enche de orgulho da mulher que sou.
A raiva veio como terceiro estágio.
Haviam passado algumas semanas desde o término e eu não estava nada bem. Ao contrário dessa sofredora que vos fala, Levi seguia em frente como se eu nunca tivesse existido. Nas redes sociais corria atrás de mulheres como um calouro universitário de filme americano, esbanjava boa fase com trecho de músicas, vivia como se tivesse se livrado de um peso. Eu percebi que enquanto eu me desesperava e sofria igual um órfã abandonado, ele vivia bem. Eu não achava justo. Foi quando a raiva começou.
Eu quis entrar nesse joguinho de superação então quanto mais mulheres gostosonas de biquínis ele seguia nas redes sociais mais homens saradões eu seguia, até meu momento de clareza feminina. Eu estava me machucando sozinha porque ele não estava nem aí, ele provavelmente nem via minhas redes sociais. Então decidi não acompanhar mais sua vida virtual, não tinha mais nada ali pra mim.
Fui tentando tira-lo da minha mente, eu me perguntava como ele tinha me apagado tão fácil porque era tão difícil pra mim, tudo lembrava nós. Mais difícil ainda quando parei de procurar e ainda sim recebia informações sobre ele.
Eu olhava pra bagunça que estava minha vida e sentia uma revolta tão grande, veja bem, eu estava de volta à casa dos meus pais onde tudo que eu tinha lá era uma cama e um guarda-roupa vazio, havia levado uma malinha com oito mudas de roupas, um tênis e uma bolsinha de maquiagem, um notebook e um livro. Eu não ia passar mais que 15 dias.
Eu não tinha como voltar pra Portugal porque não tinha dinheiro, eu não tinha mais casa porque entregamos o apê, eu não tinha mais emprego porque escolhi ficar com ele, eu não tinha minhas coisas porque ou havia ficado em Portugal ou com Levi, eu não tinha como fazer as provas da faculdade porque não tinha como voltar. O tempo passava rápido e eu não conseguia pensar numa solução. Imagina agora o tamanho do meu desespero? Entende agora como tudo se transformou em raiva?
Eu não conseguia ouvir seu nome, nem ver seu rosto sem pensar que a culpa era toda sua, Levi. Eu pensava que se não tivesse me abandonado assim que eu cheguei... se não tivesse que ir pra aquela cidade... se não tivesse feito eu me apaixonar...
Foi aí que me toquei que eu não teria vivido as coisas incríveis que vivi ao seu lado. Eu sou imensamente grata por tudo que senti contigo, por todos os momentos que tu me tiraste o fôlego, por todas as coisas que aprendi junto a ti. Grata por todos os momentos que me senti amada, cuidada e querida. Grata por todas as vezes que tu me olhaste como se eu fosse a coisa mais linda e rara do mundo. E como eu já te disse milhares de vezes, grata por fazer meu coração voltar a funcionar.
Então entrei no último estágio, aceitação.
Foi aqui que eu compreendi que ele teve seus motivos pra me deixar. Talvez ele tenha pensado que seria melhor que eu não passasse pelos maus bocados que vinham pela frente, talvez tenha doído nele também. Talvez ele soubesse que ficar junto naquele momento nos mataria. Talvez fosse a hora do fim.
Tirei dele toda culpa que havia colocado e agora só desejava que ele estivesse bem. Eu nunca soube se ele sentiu saudade, ele fez questão que eu não soubesse nada da sua vida por ninguém e por mim tudo bem. Eu não queria saber com quem estava e o que fazia, apesar do tempo, eu sabia que eu não estava pronta pra ter alguém (mesmo que pra tirar o atraso) e isso não é uma competição. É no meu tempo e eu não tenho pressa.
Apesar de tudo, durmo com a certeza de que um dia, no futuro, lá no fundo, nas memórias perdidas, ele lembrará que foi daqui até a lua.
Minha terapeuta me ensinou que Levi era minha muleta psicológica, que é quando nos tornamos dependente de alguém ou algo, mesmo que inconsciente. Ela foi me ajudando a andar sozinha novamente, e ainda sendo difícil a gente chega lá. É claro que ficaram algumas sequelas, eu não tomo mais suco de maçã nem Mango Loco e não como mais cup noodles de bolonhesa (essas coisas me fazem vomitar agora).
Aprendi a viver as fases e abraçar as coisas que sinto, e não querer pular pra parte que fico bem. Porque tudo bem ficar mal. Logo fui me sentindo bonita de novo, a confiança veio aos poucos. Fui me vendo como sou: incrível.
As vezes eu penso nele, consigo ver seu rosto como se estivesse presente. É que ele foi o meu amor, sabe?
Eu o amei a cada batida.
Então digo a próxima pessoa que ocupar aquele coração:
cuida bem dele, ele foi meu lar.
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Eternizando Estrelas
RomanceNão se iluda com o título. Se está procurando desilusões amorosas e corações partidos está no lugar certo. Vou te contar como minha vida foi cheia de traições e ainda assim sobrevivi, que ninguém morre de amor (por mais doloroso que seja) e que semp...