NOVE

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Você é o capítulo que eu adoraria pular.
Era domingo, estava frio, na noite passada eu havia saído por isso acordei bem mais tarde que de costume. Só sai da cama pra tomar banho e receber a comida com o motoboy, depois de maratonar filmes de investigação criminal resolvi gastar um pouco do meu tempo com a vida alheia nas redes sociais. Foi quando eu olhei sua foto, com uma enquete pra escolher qual jaqueta ficou melhor. Era a desculpa que eu queria pra falar com o gatinho engraçado dos vídeos de humor.
"Eu gostei da marrom porque vai combinar com o sapato, mas você fica bonito com as duas." eu disse.
"Muito obrigado, não é todo dia que se recebe um elogio de alguém assim."
"Assim como?"
"Assim linda."
Mesmo que por mensagem ele era charmoso e misterioso, e me mantia interessada na sua conversa. Confesso que meu coração estava cheio demais pra que eu deixasse alguém entrar e destruir tudo que eu havia conseguido até ali, mas podia deixá-lo entrar por uma noite, pra um drink, por algumas horas. Então aceitei seu convite pra um sushi na sexta.

Quando entrei no carro senti um frio na barriga, eu estava tão nervosa que não conseguia olhar pra ele. Respondia rápida e tímida como uma garotinha em seu primeiro encontro da vida. Ele me fazia perguntas sobre minha história e como havia parado lá, eu respondia tentando olhar em seus olhos mesmo que por alguns segundos. Eu sentia medo de gostar de você.
Fomos interrompidos pelo garçom com o meu drink (senti até um certo alívio), foi então que comecei a me soltar. Falei sobre minha vida, meus planos, meus amigos, minha família, meus hobbies, meus interesses... Enfim, sobre tudo. Ele me deixou tão a vontade que parecia que conhecia ele de muitos anos. Me olhava hipnotizado como se estivesse adorando cada minuto, estava tão interessado no que eu dizia e não por simples formalidade pra me levar pra cama. Você era muito bom, eu confesso, fez de bobinha a pobre menina nova na cidade.
A noite chegou ao fim mas ele não tentou me beijar, nem quando peguei em seu braço com a desculpa de ficar sem equilíbrio. Ele me deixou na porta de casa, sem se oferecer pra subir ou me levar pra outro lugar. Seus olhos me intimidavam mas àquela altura eu já não tinha mais medo, ele mordia os lábios ao colocar uma mecha de cabelo minha atrás da orelha pra me provocar. Então não resisti e o beijei.
Um beijo de um encaixe perfeito, um toque de arrepiar, uma vontade incontrolável de não sair daquele momento. Ele me deixou subir e quando chegou em casa me mandou uma mensagem agradecendo pela noite.
Se eu pudesse voltar no tempo, John, nunca teria conhecido você. Nunca te deixaria beijar os meus lábios, tocar o meu corpo.
Talvez assim você destruísse a vida de outra pessoa e não a minha. Essa história só está começando...

Foi me tratando como princesa, com mimos e presentes, escapava do trabalho pra fazer sentir-me especial, me dava atenção. Pouco a pouco foi se fazendo necessário em meus dias, colorindo minha vida e bagunçando minha mente. Três meses se passaram quando comecei a me dar conta que só você visitava minha casa, nunca passava a noite e nunca fazíamos programas de casais como ir ao cinema, sair para comer... Foi quando eu comecei a pegar no seu pé. As desculpas já não colavam mais e então você teve que me deixar entrar no seu mundo, me veio com um papo de "não estou pronto para um relacionamento" mas não me deixava mais dormir em casa. O que era só uma conchinha nos fins de semana foi se estendendo para a semana toda, logo eu ia em casa apenas para pegar mais roupas e minhas coisas já não saiam mais de sua casa. Até o dia que você resolveu me contar a verdade, pelo menos uma das.
"Amor, eu preciso conversar com você sobre uma coisa. Lembra de quando te falei que tive um relacionamento de 9 anos? Então, era mais que isso."
Demorei a entender quando vi aquela aliança na palma de sua mão.
"Vocês tiveram filhos?"
"Não."
"Já se divorciaram?"
"Ainda está em andamento..."
John Guiver ainda estava casado quando nos conhecemos, por isso todo o mistério no inicio, mas quando já está envolvida há 7 meses com alguém é difícil simplesmente cair fora. Ele se esforçava para ser o melhor namorado do mundo ao me acordar com seu bom dia regado de amor quente e beijos nos pés, com o café na cama (mesmo sendo raras vezes), com os presentes sem data especial, com nossos programas cheio de gordices aos domingos, com os apelidinhos fofos...
Lembra de quando assistíamos "ame-a ou deixe-a" comendo asinhas de frango com uma caneca de chope bem gelada? Ou de quando falávamos que um dia ainda iriamos nos matar pelo modo, tempo e intensidade que fazíamos amor, na sala, no quarto, no corredor, na mesa de jantar... Era como se fosse lua de mel sempre. Você lembra? Então deve se lembrar como você acabou com tudo.
Ele tinha acabado de comprar um celular novo e me deu o dele, só esqueceu de limpar seus dados e aplicativos, seu Tinder ainda estava lá. Doeu tanto ler tudo aquilo. Você elogiando o sorriso de outra mulher, chamando outra de meu bem, ou contando para outra que estava solteiro há 6 meses quando na verdade estávamos juntos e agora dividindo não só a mesma casa como uma vida. Eu não queria ver você, não queria ouvir tua explicação mas depois de muita insistência e muitos dias de agrados e mimos eu te perdoei. E foi em vão.
Um tempo depois disso seu celular recebeu uma mensagem de madrugada, ele fez um show pra não ver a mensagem que desencadeou uma briga. Era uma mulher que ele havia chamado pra sair. John você tinha tantos ossos no armário...
Lembra da mulher casada com quem você me traiu mas quem jura até a morte que não, mesmo tendo provas? Ou da nota de 500 reais em lingerie que eu encontrei em casa? Ou da calcinha escondida no seu armário de roupas? Dos milhares de flertes nas redes sociais? E por falar nisso, será que eu conto que em todo nosso relacionamento você nunca postou uma foto comigo porque era "reservado demais" ou "Deixa só os papéis do divorcio saírem"?
Você sempre tinha uma ótima desculpa pra todos esses eventos, compensava os erros com presentes e romantismo. Como eu podia confiar em alguém como você?
Eu sei que o erro foi meu, eu me submeti à isso! Eu fiquei tão encantada com o mínimo que ninguém nunca me deu que eu tinha medo de perder algo que me fazia tão mal. E isso me consumiu. Eu não acreditava em mais nada do que ele dizia, eu verificava suas redes socais, arrumava brigas por puro ciúme e assim fui adoecendo. A cada briga minhas crises de ansiedade ficavam mais intensas com tremores, arritmias, queda de pressão e hiperventilação. Não, não era drama querido. Enquanto falava "resolvemos isso amanhã" e dormia, eu passava as noites acordada ou chorando no chão do banheiro para não acorda-lo. Eu não conseguia comer o dia todo e estava sempre me sentindo muito cheia.
Os bons momentos foram se tornando raros, ou seguidos de momentos muito ruins. Decidimos dar um tempo. Precisávamos desse tempo longe um do outro, então eu fui ver minha família em outra cidade por 3 semanas e nesse período nos ligávamos a noite. Na época eu não sabia mas estava sendo vítima de um abuso psicológico, eu sei, é um termo pesado mas não vou mais aliviar a barra de ninguém. Começou quando chegou uma mensagem que ele apagou e me convenceu que eu devia estar confundindo, que eu inventei isso. Durante a viagem, nas ligações ouvia barulhos em casa e ele me convencia que era coisa da minha cabeça, que ele não tinha ouvido ou que era onde eu estava. Eu me perguntava se eu estava ficando louca e duvidava da minha sanidade mental.
Quando eu cheguei você pediu que eu saísse do seu apartamento, que queria voltar a ser sozinho e eu que abri mão do meu lar pelo seu, tive que abrir mão também da cidade que eu tanto amava. Passamos 4 dias transando como em lua de mel com direito à passeios românticos, depois de me deixar no aeroporto me ligou chorando como uma criança arrependida da decisão e dois dias depois saiu com outra.

Continuamos a trocar mensagens como se ainda estivéssemos juntos, e ele mentia descaradamente que ia sair com um amigo ou que ia a casa do tio mas na verdade estava com a outra, a tal que estava com ele desde o nosso tempo separados. Te pedi inúmeras vezes que me falasse se fosse sair com outras pessoas pra que eu seguisse a vida também e te contei quando sai mas você continuou se fazendo se sonso:
"Não quero ninguém agora, preciso de um tempo pra mim..."
Disse o cara que estava já há dois meses com uma garota enquanto tentava reconciliação com a ex e transava com outra.
A parte mais difícil disso tudo foi pedir ajuda. Passei um mês escondida na casa dos meus pais sem ver meus amigos ou parentes, acontece que com as crises de ansiedade eu perdi 13kgs. Fui encaminhada para um psiquiatra e um psicólogo pois meu estado de saúde era preocupante, fiz terapia e tomei muitos remédios, aprendi a me olhar no espelho de novo, ganhei peso e voltei a me amar de novo. Mas o que acontece quando está tudo bem mesmo? O ex aparece. Ligando, chorando, dizendo que ama...
Eu estava curando minhas feridas John, você não tinha o direito de querer bagunçar minha vida de novo. Comprou passagem pra me ver como prova de amor, só esqueceu de mencionar em toda a declaração a mulher que você engravidou que por acaso você estava ficando há um mês e ia te esperar em casa enquanto atravessava o país por mim. Ou a outra que você transava e iludia que iriam namorar. É um jogo muito sujo pra alguém com a idade que tem! Eu sinto nojo de você! E pena daquela que mesmo sabendo de tudo decidiu ficar com você e acredita que irá mudar.
Eu já vivi tudo isso, sua mudança é só até a poeira baixar. Seus erros você apaga com gestos românticos e presentes. Idiota é quem continua no erro e digo por experiência própria que demora mais a gente aprende, levando na cara, comendo o pão que o diabo amassou mas uma hora a gente acorda.

Quando penso nos nossos momentos dos mais íntimos aos mais leves não consigo ver você. Eu não te conheço. Eu nunca te conheci. Não consigo lembrar do seu riso ou do seu gosto porque essa pessoa não existe.
Eu nunca vou te perdoar John.
Por tudo que me fez mas, principalmente, por me fazer esquecer que eu sou alguém incrível, que sou bonita, que sou alegre, que sou aventureira. Eu tenho uma força extraordinária e um bosta como você me fez duvidar disso. Me fez duvidar se eu mereço ser amada.
Gente como você não vai longe, não muda, não cresce. Você ainda tem muito o que pagar, não só por mim pois não fui a única e nem a última, mas uma hora a conta chega. A vida cobra. Se prepara porque você vai ter que pagar.
Então boa sorte, tigrinho.

Eternizando EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora