TRÊS

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Depois de passar por um relacionamento obviamente abusivo eu criei um trauma. Me relacionei com outras pessoas mas eram sempre paixões passageiras, como se estivesse constantemente tentando preencher um vazio.
Decidi ficar um tempo sozinha mas eu sempre acabava conhecendo alguém que me convencia a dar uma chance. O final era sempre o mesmo: cara quebrada.
Namorei um cara chamado Vinicius, ele me trocou por outra num acampamento. Namorei também o Bruno e ele me traiu.
Comecei a acreditar que tinha algo de muito errado comigo porque não era possível que não existisse alguém confiável, então me rendi a legítima vida de solteira. Tenho que confessar que foi uma das melhores fases, quando eu simplesmente saía sem dar satisfação por ser jovem e aventureira. Eu nunca tinha medo de nada. Eu confiava em quem sempre juntou meus caquinhos: eu mesma.
Quando alguém se aproximava querendo me conhecer eu fugia, sei que é rude, mas foi meu sistema de proteção. Eu não estava errada em querer o que é melhor pra mim. Hoje posso dizer sem sombra de dúvidas que tive uma adolescência fantástica pois pois nunca deixei pra depois as coisas que eu queria fazer, fiz muito e fiz de tudo. Me moldei como alguém forte, alguém capaz, nada me abalava. Eu era livre.
Aos 18 anos eu estava obcecada por teatro. Adorava a forma como eu podia ser outra pessoa no palco, como me sentia livre e expressiva, o mundo parecia pequeno demais pra mim. Então quero que imagine a emoção que senti ao saber que me apresentaria com a cia no festival de teatro local, se eu soubesse o que aconteceria depois é claro que teria mudado tudo mas chegaremos lá. Vou te contar o que aconteceu.

Eu havia acordado cedo pois era um grande dia para mim. Fui ao local repassar o texto, arrumei o cabelo e o figurino, não consegui almoçar de tanto nervoso. Entrei no ônibus da companhia esperando ansiosa a hora de sair para o grande teatro local.
Ao chegar a ficha foi caindo quando notei minhas mãos suadas, logo logo era minha cia que iria subir ao palco. Eu entrei com o pé direito, os integrantes corriam contra o tempo para organizar o cenário e eu só conseguia ouvir meu coração palpitar num volume ensurdecedor. O teatro estava lotado e até meus pais que não apoiavam muito nisso estavam lá. Foi tudo magnífico.
O espetáculo sendo um sucesso todos se animam querendo comemorar, alguém fala sobre um festival de música que irá acontecer ao lado quando começamos a ouvir as bandas se aquecendo dando início. Algumas horas depois de muita música, vinhos e danças eu fui apresentada à um garoto amigo dos meus amigos, ele era simpático e conseguiu minha atenção mas nada mais que isso.
"Ei, vou comprar algumas bebidas." aviso o garoto já me levantando pra sair e ele diz que vai comigo. Ele ficou ao meu lado a noite toda, arriscou um beijo mas eu não quis. Não me entenda mal, ele era bonito e gente boa mas eu não me senti atraída nem nada.
De repente sou puxada pelo braço por uma amiga, Clara, que me alerta sobre a hora criando uma algazarra. Nos despedimos de todos e corremos para a estação de metrô que havia perto de lá. Vale ressaltar que eram duas da manhã.
Paramos pra pedir informações à uma funcionária, e antes de nos aproximar percebemos que há alguém gritando atrás de nós. Era um homem que havia se apaixonado por Clara. Enquanto ela anota em seu braço o número do sujeito eu vou coletando informações de como chegar em casa.

Ao virar esbarro com uma pessoa como em uma cena de filme quando os protagonistas se encontram e a mocinha levanta a cabeça lentamente até que seu olhares se encontrem, mas não foi tão romântico assim. Pra ser realista eu estava meio bêbada. Ele tinha olhos extraordinários de tão azuis, uma barba com um bigode engraçado e era claro que ele não era da minha pequena ilha.
Estava tudo muito vazio, algumas luzes piscavam como em um filme de terror. Eu conseguia olha-lo da plataforma em que estava, ele parecia um pouco apreensivo. Então minha querida amiga Clara começa a falar sobre ele, o quanto era bonito e estava tão sozinho, decidindo ir até lá.
Vejo-os vindo em minha direção, ja que faltava algum tempo de espera era melhor que esperasse em companhia. Me senti estranha com sua presença, quando o olhava parecia um tanto hipnotizada. Não conseguia parar de olhar. Mergulhava para dentro de seus olhos.

"Vocês são daqui mesmo?" disse ele me tirando do transe.
"Somos, você é?" disse Clara.
"Não, sou de Floripa. Vim estudar aqui."
"Qual o seu nome? O meu é Clara e o dela é Alice"
"William, mas prefiro Will." ele nos contou que fazia Medicina e que morava sozinho, conhecia poucas pessoas. Sentamos no chão do local e foi preciso poucos minutos de conversa para que entrássemos em uma sintonia, seus olhos se tornaram maliciosos, sua voz mais suave. Eu desviava o olhar desconcertada enquanto ele mordia os lábios, que golpe baixo.
Tudo foi se tornando mais intenso a cada segundo que se passava. Eu o desejava.
"Para com isso..." eu disse.
"Isso o que?" disse ele ironicamente.
"Eu vou te beijar" nem acredito que isso saiu da minha boca.
"Então me beija" sorte que foi recíproco.
Eu o beijei. Um beijo quente, ardente e demorado. Nossos lábios foram se desencostando devagar, os olhos se abrindo, narizes se tocando levemente​... Até ele me puxar novamente para outro beijo profundo.
"Alice! Vamos! É o nosso!" disse Clara me desgrudando a força do braços dele. Nosso trem havia chegado mas eu não estava pronta pra ir, eu não queria ir. Dou um passo em direção à clara conformada com o que tinha que fazer quando ele pega em meu braço, eu paro e o olho.
"Fica comigo" ele pediu.
"Vou ficar com ele" avisei fora de órbita.
Foi nesse momento que começou o caos.

Eternizando EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora