Há ocasiões em que o destino não dá um empurrão, ele solta uma verdadeira voadora na pessoa. Marcos estava vivendo tranquilamente em um relacionamento com Lorena. Com ela, ele começou a planejar um futuro, com casinha de cercas brancas e um cachorr...
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Não voltei, como o Tomás pedira que eu fizesse, hoje não teria cabeça para discutir qualquer assunto que fosse. Deixei o Gael em casa e fiquei vagando pela cidade, ainda processando tudo que o havia descoberto sobre a Lorena. Não conseguia entender como uma pessoa era capaz de manter uma vida dupla, sem vergonha nenhuma ainda se declarar apaixonada pelo namorado e descaradamente frequentar a casa da esposa do amante. Uma pessoa assim não sentia remorso? Ela tinha uma consciência tranquila? Ou viver perigosamente era o que a motivava? Tentei encontrar uma resposta para todas essas perguntas, mas não consegui. Fui direto para casa, precisava tomar um banho e quem sabe após dormir um pouco, a minha mente não clareava e poderia encontrar respostas para todas as respostas que me fiz ao longo do dia.
Porém, o destino não estava a meu favor, porque no momento em que abri a porta do apartamento, fui recebido pelo delicioso aroma de maçã com canela. Alguma pessoa estava fazendo torta? Então notei várias velas acesas e uma mesa posta. Tentei ficar calmo, porque só havia uma pessoas que poderia fazer tudo isso e o seu timing ironicamente foi perfeito.
— Oh, meu amor, chegou cedo — Lorena colocou sobre a mesa, uma tigela com salada — vá tomar um banho, o peixe ainda está no forno.
Observei o cenário que foi criado, todo homem iria amar ser recebido assim, mas eu sei que tudo era falso. Lorena fazia isso todas as vezes em que ela chegava de viagem. Ela dizia que era uma forma de compensação por ficar muito tempo longe de casa. Fui para o quarto, peguei um comprimido para dor de cabeça e o engoli. Em seguida tomei uma ducha rápida, queria ver até onde ela levaria todo esse teatro.
Retornei para sala pronto para enfrentar mais essa batalha, porque ela não será fácil. A minha oponente é inteligente e sagaz.
— Sente-se, vamos comer enquanto ainda está quente — Lorena me serviu, os seus movimentos eram minimamente cálculos, e somente hoje eu pude perceber — não sei se ficou bom, você sabe que não sou muito boa na cozinha.
— Sim — me limitei a dar-lhe essa resposta.
— Aconteceu algo? Você está estranho desde o momento que chegou.
Peguei a garrafa de vinho e enchi nossas taças. Bebi um gole generoso, não para criar coragem, mas para não lembrar tudo o que vi hoje naqueles vídeos.
— Há quanto tempo você vem me traindo? — o único som ouvido foi o seu arfar e o tilintar do garfo caindo sobre o prato.
— O que você perguntou? — Lorena baixou a guarda e não conseguiu esconder suas reações. A tinha encurralado.
— Perguntei há quanto tempo você está me traindo, Lorena.
— De onde tirou essa história? Nunca traí você — suas mãos tremiam e sua voz estava mais alta que o normal.
— Traiu sim, Lorena — afirmei.
Sorrindo nervosamente, ela segurou a minha mão.
— Essa brincadeira não tem graça, meu amor. O seu senso de humor não é dos melhores, mas não vamos trazer assuntos assim para o nosso relacionamento.
