Há ocasiões em que o destino não dá um empurrão, ele solta uma verdadeira voadora na pessoa. Marcos estava vivendo tranquilamente em um relacionamento com Lorena. Com ela, ele começou a planejar um futuro, com casinha de cercas brancas e um cachorr...
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O meu ego foi ferido. Estou descobrindo novos sentimentos que me deixam em conflito diante do que vem acontecendo. O meu lado racional me faz agir de uma forma. Contudo, esse lado emocional que até então nunca havia sido usado, não me deixa pensar direito.Me tornei alguém que sempre repudiei. Um homem que busca consolo na bebida, isso fez com que me afastasse das pessoas. Tenho evitado todos nos últimos dias. O meu irmão ligou várias vezes, mandou e-mails que não fiz questão de responder. Evitei o Tomás e todos os membros da família que ligaram, só não pude fazer isso com a minha mãe, ela me mataria caso ignorasse suas ligações. Não quis preocupá-la, por isso não falei do término com a Lorena.
Estou agindo feito um adolescente tendo a sua primeira desilusão amorosa, é patético, eu sei. Mas não consigo evitar. Acredito que já passou pelo que eu estou passando, sofreu da mesma forma. Não foi o que ela fez - porque neste momento não tenho nenhum sentimento amoroso em relação a Lorena – mas foi a forma com ela fez. Sinto uma raiva tremendo queimando em meu peito por ter sido tão ingênuo e não ter notado suas mentiras, logo eu que me achava tão esperto, cair igual a um trouxa em tudo que ela me falava. Cheguei a me considerar um homem bastante experiente, porém, me descubro um menino que ainda não sabe nada da vida, mesmo já tendo passado dos quarenta anos. Era óbvio para todos o que estava acontecendo, somente eu não quis ver. Por isso tirei algumas semanas de férias para pensar no que faria de agora em diante. Precisava colocar meus pensamentos em ordem.
Enchendo o copo com um gin de procedência duvidosa que o Joaquim me deu no último natal – tomei um longo gole, que desceu queimando em minha garganta. Neste momento, a bebida era a única rota de fuga capaz de entorpecer os meus sentidos, sei que não é o melhor caminho a ser seguido e muito menos o mais saudável, e também, já sou um homem adulto, preciso enfrentar os meus problemas de frente. Mas, no momento, não consigo lidar com esse turbilhão de emoções que estou sentindo.
Pegando a garrafa de bebida e fui em direção ao quarto, mas não dei nem cinco passos quando a porta da frente se abriu. Como o apartamento estava escuro, levei algum tempo para reconhecer quem era a pessoa para ali, me encarando.
— Você precisa de um banho, querido — todo efeito da bebida dissipou em minutos. Nunca fiquei sóbrio tão rápido.
— Como você entrou aqui? Deixei bem claro na portaria que a sua entrada estava proibida.
— Entrar em lugares em que não sou bem vinda, nunca foi problema para mim — ela ironizou.
— O que você quer, Lorena? — Fiquei curioso para saber qual mentira ela iria contar agora — Não temos mais nada para conversar, acredito que tudo já foi dito.
— Não conversamos, você falou e eu ouvi. Dei esse tempo para você refletir e perceber que o nosso término não é certo. Podemos superar essa crise e seguir em frente.
— Crise?
Já vi e ouvi muitas barbaridades ao longo dessa minha vida. Mas acredito que seja a primeira vez ouvindo que eu preciso refletir sobre uma traição quando a pessoa traída foi eu.
