03: A carta de Harry

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Na véspera do aniversário de onze anos de Harry, a pilha de cartas no hall da casa estava enorme.

Seu primo ia ser liberado para casa nos próximos dias, e os tios não tinham passado muito tempo no n°4 até então. O médico responsável pelo caso parecia contente em dar alta para o menino mimado, que destruiu um suporte de soro a cada vez que uma enfermeira não o deixava comer as sobremesas de padaria que a mãe lhe trazia. A saída de Dudley da internação trazia o peso da punição pelos fatos ditos pelo primo para os pais; que seriam piores do que já estavam.

Pareciam dias desde a última vez que o menino de olhos verdes tinha bebido água, engolida com cautela da torneira do banheiro até encher sua barriga. Arya parecia estar saudável ainda, brilhando em suas escamas escuras. Harry tinha certeza absoluta de que Petúnia e Valter iam apenas esquecê-lo no armário até que eles morressem de fome e desidratação, e por ele estava tudo bem desde que a morte fosse indolor e eles estivessem juntos.

A ida ao banheiro daquele dia foi estranha: a porta do armário foi destrancada, mas não havia ninguém no corredor ou em nenhum lugar da sala de estar. Estranhando, ele sibilou para que Arya se enroscasse em seu braço antes de sair de seu cubículo. Com uma sutileza absurda para um garoto tão novo, ele se atreveu a ir lentamente para a cozinha; encontrando-a vazia. Era quase risível que eles o tivessem largado sozinho outra vez.

Testando sua teoria de que os tios talvez tivessem saído e estivesse sozinho, ele bateu duas vezes na madeira da escada; alto o suficiente para que qualquer um no andar de cima pudesse ouvir. Sua única resposta foi um silêncio pesado, e os estalos da velha casa. Nem mesmo o ruído irritante da televisão estava preenchendo o ambiente, mesmo que a geladeira ainda apitasse de hora em hora.

Aliviado por não ter mais nenhuma pessoa na casa, ele levou a amiga para a cozinha e soltou-a no jardim para procurar ratos enquanto se enchia de água da torneira o máximo que seu estômago permitia. Harry não queria correr o risco de pegar algo na geladeira e ser descoberto. Depois de dias sem que ele mesmo cozinhasse, não havia como saber o que seria seguro comer.

Curioso sobre o quão deprimentemente a casa não foi limpa e as cartas não recolhidas durante sua temporada no armário, Harry foi olhar a correspondência caída na entrada pro lado de dentro. No montante havia alguns dos envelopes que se endereçaram ao tio Valter, outros a tia Petúnia e um era o boletim da escola primária de Dudley. Porém, uma em especial chamou-lhe a atenção. O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com uma tinta vermelha cor de sangue; sem selos.

Ao Sr. Harry J. Potter

O armário sob a escada

Privet Drive 4, Little Whinging

Surrey


Harry pegou o envelope da pilha e ficou olhando com desespero quase tangível. Ninguém, desde que ele se entendia por gente, tinha lhe escrito. Quem iria, não é? Seus únicos parentes o odiavam, sua primeira amiga era uma cobra e ele nem era frequentador da biblioteca local para receber uma solicitação de devolução. Mas aquela carta estava ali, claramente endereçada à ele.

Quando virou o envelope, tremendo sob o peso do que quer fosse ser comunicado naquele papel, o menino viu um lacre púrpura de cera — daqueles de filmes antigos —com um brasão gravado: um leão, uma águia, um texugo e uma cobra ao redor de uma enorme letra H.

A batida da porta do carro no quintal foi suficiente para o menino entrar em alerta total. Ele jogou a carta para dentro de seu pequeno quarto e chamou pela cobra.

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