8° Capítulo - Fantasmas do Passado

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Agnes caminha pelo quarto observando os objetos. Ela os toca e franze as sobrancelhas. Esteve seiscentos anos aprisionada, e tudo ali a causa estranhismo já que não tem conhecimento do quanto o mundo mudou.

— Meu nome é Sienna Bain. — Sienna se apresenta

— Que século é este?

— Século XXI.

— XXI?! — Questiona atordoada.

— Você esteve presa por quase seiscentos anos. Qual a última coisa que se lembra?

Agnes coloca uma das mãos em sua têmpora. Parece repassar na mente tudo o que aconteceu antes de sua morte e uma expressão de desespero se fixa em seu rosto.

Sienna se aproxima para tentar acalmá-la, mas quando toca seu braço é atingida por uma agonia excruciante que a faz se afastar bruscamente.

— Agnes, precisa se controlar.

— Por quê?! Eu não entendo... Como...?

— Muitas necromantes acreditavam que você traria perigo. Eu não sei como, mas acabaram aprisionando seu espírito com um selo. Não concordo com a decisão que tomaram, mas precisa saber que não queriam o seu mal, só queriam garantir a segurança de todos

— Nenhuma delas foi capaz de entender... Eu não queria causar mal algum. Nunca quis.

— Então não tem consciência do resultado de suas ações.

— Resultado?

— Você criou uma linhagem inteira de vampiros, Agnes. Os números são impossíveis de se contabilizar atualmente. Estão espalhados pelo mundo inteiro e são originados de um único vampiro, Heron Wydrich.

Seus olhos se iluminam, a esclera brilha em tons de branco.

As luzes começam a piscar desordenadamente e o espelho lateral racha. 

Sienna engole seco. Apenas o nome dele é capaz de provocá-la dessa forma temia o que sua presença poderá causar.

— Aquele... — Múrmura entre os dentes.

Aperta os punhos enquanto sua raiva cresce.

As luzes piscam freneticamente e os móveis começam a chacoalhar.

— Agnes! — Sienna berra seu nome para que ela olhasse para ela, insiste — Não o deixe ter esse poder sobre você.

— Por que você me libertou?

— Porquê preciso da sua ajuda.

— Quer me usar? Assim como Heron? Como a família dele?

— Não! Quero corrigir um erro. O que fez no passado produz consequências até hoje e se realmente não foi intencional então você tem o dever de desfazer. Passou seiscentos anos sendo mal compreendida pelas pessoas, até pelo seu próprio povo. Pode usar sua liberdade para contar sua história.

Ela solta os o ar, como se precisasse dele já que está morta, em seguida abre os punhos fazendo as luzes voltarem ao normal e os móveis estabilizarem. Seus olhos também voltam a coloração azul.

Sienna podia sentir o misto de emoções fervilhando dentro dela. Injustiça, frustração, remorso e raiva... Muita raiva.

— É difícil admitir que fui uma tola e que me deixei levar por um homem que nitidamente não me amava, mas essa foi a razão de tudo isso. Eu não pensei que... Que...

— Ele enganou você? É o que está dizendo?

— A família Widrych era bastante influente na península em que vivíamos. Possuíam muitos recursos e sempre estavam em busca de mais poder. Eu conheci Heron em uma das minhas caminhadas. Era confiante, dizia a coisa certa, e adorava cortejar as mulheres, mesmo que não as quisesse, só pelo prazer de se sentir desejado. Demorou para que eu cedesse, mas acabei rendida a seu charme e palavras doces até começar a me sentir a mulher mais feliz do mundo, só porque Heron havia me escolhido. Ele fazia promessas, planejava nosso futuro juntos e eu... Fui me esquecendo de quem ele realmente era. O tempo passou e guerras territoriais começaram. A família Widrych começou a perder terras e consequentemente seu poder e influência. Heron se distanciou e ficou frio. Quando o questionei ele me disse que estava preocupado com o futuro de sua família. Até então ele não sabia que eu era uma necromante nem compreendia a extensão do meu poder. Para ser honesta eu também não. Quando as guerras ficaram ainda mais intensas eu o confidenciei meu segredo. Queria ajudá-lo. Eu o amava e é isso que fazemos quando amamos alguém. Encontrei uma maneira de torná-lo mais forte, mais veloz, resistente a qualquer investida mortal. — Agnes esfrega os olhos saindo de si novamente. — Eu fui tão estúpida! Tão cega! Não imaginei que aquele seria um dos meus maiores erros.

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