Entre dois Mundos

Capítulo 30

Chego em Rila já de madrugada, a duração da viagem é de 5 horas, mas como demorou 3 horas esperando no aeroporto, foram 8 horas até eu finalmente chegar aqui. Eu ainda estava magoada, com raiva e sem entender o que Dong-yul fez comigo. Eu o entenderia se ele tivesse me dito a verdade ao invés de me empurrar para dentro do carro como se eu fosse um nada!
Quando chego ao apartamento, um nó se faz em minha garganta, é minha última noite aqui neste lugar que querendo ou não tornou minha casa também. Eu vivi momentos inesquecíveis aqui, como minha primeira vez com Dong-yul, eu consigo nos ver na cozinha fazendo o jantar juntos enquanto conversamos sobre nosso dia, no sofá assistindo um filme na televisão, no quarto dormindo juntos, no escritório lendo um livro enquanto Dong-yul faz uma pintura da cidade na tela, ele gosta muito de pintar quadros, em cada cômodo eu vejo nós dois. Sou trazida de volta quando ouço meu celular tocar, era Laurent.

-Alô - digo.

-Oi Ana, você já chegou em Rila?

-Sim, já estou no apartamento, avise ao Dong-yul. Sei que foi ele quem pediu para você conferir. - ele não diz nada por alguns segundos.

-Hã, bem - Laurent limpa a garganta - você sabe onde é o lugar que o mago vai te encontrar?

-Não, mas acho que ele não vai marcar um lugar, certamente, vai fazer algum tipo de teletransporte ou algo assim - levo meus olhos para o relógio que agora marcava um 0, que era o total de dias que faltava, e 10 horas com uma frase embaixo do dez - na verdade, existe algum lugar chamado Parker-Windsor?

-Existe, é um parque, ele é bem longe daqui.

-Então acho que é esse o local que devo encontrar ele.

-Beleza, amanhã, ou melhor, hoje pela manhã eu vou te buscar aí.

-Não precisa, Laurent. - falo.

-Até mais tarde, Ana - ele ignora a minha recusa e desliga a chamada.
Ah ! o que eu faço agora? Começo arrumando uma mala, talvez? Não acho que vou poder levar todas as roupas que comprei, na verdade que Dong-yul comprou, para o meu mundo. É uma pena, pois elas são todas lindas ! Não sei o que faço agora, com toda certeza não vou conseguir dormir, fico andando de um lado para o outro no apartamento, tomo um banho, separo minha roupa que vou usar para voltar, faço um chá e me sento no sofá, bebendo a deliciosa bebida quente enquanto meus pensamentos me levam a lembrança de ontem a noite.

Eu e Dong-yul voltávamos do restaurante que fomos jantar quando começou a chover e como o lugar era perto do hotel, nós não pedimos um táxi. A chuva começou a cair quando nós estávamos no meio do caminho, a priori nós corremos para um lugar coberto.
-Caramba ! Não imaginava que iria chover - Dong-yul exclamou.
-Também não, por isso nem me preocupei e pedi que viéssemos andando.
-Vou pedir um táxi, calma aí - ele começou a digitar no celular.
Eu olhei para a chuva que caia a minha frente, estiquei meu braço e fiz uma concha com a mão para sentir a água tocar minha pele, estava morna. E foi então que lembrei que se não fizesse o que queria fazer, eu nunca mais teria a oportunidade e seria muito triste eu me lembrar que não realizei uma das minhas vontades.
-Dong-yul - o chamo.
-Sim - ele estava com o celular na orelha, eu retiro o aparelho de sua mão, o coloco no chão junto com minhas coisas e puxo Dong-yul para a chuva.
-Eu sempre quis tomar banho de chuva com a pessoa que eu amo - falo alto, pois o barulho da chuva era mais alto que nossas vozes. - vamos dançar, não precisamos de música, já fizemos isso uma vez.
Ele sorri para mim e coloca suas mãos em minha cintura, eu coloco minha cabeça em seu peitoral, ouvindo as batidas de seu coração e lentamente movimentamos o corpo para frente e para trás de forma sutil. Nossas testas se encostaram e juntei nossos lábios de forma doce e molhada.
-Eu quero guardar esse momento para sempre em meu coração - afirmo.
-Eu também - ele sorri de um jeito meigo.
-Promete que você não vai esquecer de mim mesmo que passem 100 anos ?
Por mais que o mago disse que as pessoas daqui não irão me esquecer, só se elas quiserem com o tempo, eu tenho medo de Dong-yul me esquecer.
-Ana, eu nunc - eu o interrompo.
-Você promete ?
-Prometo, Ana - ele sorri de leve - mesmo que se eu quisesse isso não seria possível ! Eu amo muito você e a gente não esquece facilmente quem amamos.
Concordo com a cabeça.
-Eu também te amo muito - sorriu.
E assim ficamos por mais algum tempo, brincando na chuva, ele me rodopiando e sentindo a chuva cair em nossos rostos.