Capítulo 1 - Coração e Tempestade

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"Meu coração estava tão triste quanto aquela tempestade no céu."

A maioria dos adultos, pensam que sabem mais do que as crianças. Geralmente é assim mesmo que funciona, por eles viverem mais e serem mais experientes na vida, deveriam ser o exemplo. Deveriam mesmo.

Todo ser humano é falho, entretanto, precisamos ser cuidadosos para não cometer o maior erro de nossas vidas, ou então, isso poderia custar ela.

- Preciso do seu nome completo, data de nascimento e naturalidade, para que eu possa finalizar esse documento de transferência.

- Kim Dahyun. Vinte e oito de maio de mil novessentos e noventa e oito. Seongnam, Gyeonggi.

Eu estava há mais ou menos duas horas sentada em uma cadeira e, embora fosse de almofada, meu traseiro começou a doer. Foi quando resolvi me levantar e esticar um pouco as minhas pernas. Eu esperava impacientemente por uma mulher que vi antes de ter me deixado nesta sala. Havia uma mesa cheia de papéis os quais uma senhora assinava abaixo da folha. Estava cansada de vê-la repetir os mesmos movimentos durante duas horas.

Chovia muito lá fora, sem parar. Choveu muito a semana toda e o sol nem sequer apareceu uma só vez. Fiquei observando a pata balançar do pequeno gato japonês da sorte de cima da mesa, e as gotas da chuva que percorriam no vidro da janela ao som dos ponteiros do relógio da parede. O céu estava escuro pelas nuvens cinzentas, e a cada minuto, um raio aparecia. Este clima define exatamente como meu coração está agora.

Escutei o som da porta de madeira ser aberta e me virei, avistando a mulher de branco e cabelos cacheados com um sorriso sem a amostra dos dentes. Ela veio até mim e me abraçou por alguns segundos, tempo o suficiente para eu sentir o seu perfume doce, tão doce que chegava a ser um pouco enjoativo.

- Vamos? - Eu assenti assim que aproximou-se.

Abraçando-me de lado, a mulher me guiava até o carro, enquanto dois homens levavam minhas coisas, as deixando no porta-malas. A cacheada fechou rapidamente o guarda-chuva assim que adentramos um carro preto.

Eu estava nervosa, ansiosa, com medo. Ela sabia disso, e tentava me tranquilizar sempre que podia, mas não funcionava, eu não conseguia ficar tranquila.

A viagem foi longa, eu passava o caminho todo observando as gotas de chuva que escorriam pelo vidro, ou olhando para o delicado relógio de pulso que carregava comigo, até finalmente adormecer. Era algo que, pelos menos um pouco, fazia me sentir protegida, eu carregava uma parte de quem eu amava.

Eu não acreditava em quase nada relacionado a religiosidade, na verdade, para mim, isso nunca fez a menor diferença, se era real ou não, não importava. No entanto, acreditar que eu pudesse estar perto da minha família com um simples, mas significativo objeto, ajudava meu psicológico prejudicado. O carregava como se estivesse cuidando da minha própria vida.

Depois de um longo caminho, despertei apenas quando o carro parou e a cacheada segurou em minha mão, estávamos cruzando um portão imenso de grades negras. Visivelmente antigo, exótico, porém bonito.

Rapidamente olhei para a janela ao meu lado, vendo quase tudo ao redor. Eu estava surpresa com o que acabava de ver, aquele lugar era extremamente grande, havia um campo com três casas imensas, além de celeiros, estábulos e uma praça. Definitivamente uma fazenda.

Assim que paramos em frente a uma das casas, um dos homens segurava o guarda-chuva ao lado de fora para impedir que a moça se molhasse e o mesmo fez comigo.

A primeira visão que tive ao descer do veículo foi a de uma senhora parada em frente a porta de uma grande casa, a qual havia o número três em romano na parede. Era... uma freira... Meu estômago parecia prender diversas borboletas voando lá dentro e o meu corpo começou a estremecer no momento em que entramos lá, mas como sempre, minha face permanecia neutra.

O Lar das 7 Irmãs - SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora