Capítulo 08

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Por Samuel García

Carla fica em silêncio na maior parte do
caminho de volta para casa. Na verdade, isso
não me preocupa, porque não temos problemas com o silêncio um do outro. Mas
ela ficou quieta durante o jantar também, o
que não é normal.

-Falar ou calar? -pergunto.

-Hâ?

Eu a observo mais atentamente.

-Você está esquisita.

Ela me lança um olhar no carro quase às
escuras. Sua expressão é indecifrável, o que
me preocupa ainda mais. Não sou muito bom
em muitas coisas, mas sempre entendi o que
Carla está sentindo.

É isso que acontece quando você divide uma
casa com sua melhor amiga. Começa a
conhecer a garota tão bem quanto a si
mesmo. Até melhor.

-Vai sair hoje à noite? - ela pergunta. Encolho
os ombros.

-Não sei. Por quê, quer ir? - Fico torcendo
silenciosamente para que diga não.

Não porque não quero passar mais tempo
com ela, mas porque estamos saindo juntos
com frequência ultimamente e, apesar de ser
divertido, na maior parte do tempo, uma
noite mais tranquila não cairia mal.

Ficar com Carla no sofá vendo alguma
porcaria na TV ou um filme idiota parece bem
mais interessante que me arrumar para falar
com desconhecidos.

-Não, acho que vou ficar em casa - ela diz
Estou com a barriga cheia demais para usar
qualquer coisa que não seja uma calça de
elástico.

-O segundo prato de lasanha te deixou com
peso na consciência? - pergunto, relaxando um pouco agora que ela não está mais quieta
e esquisita.

- Olha quem fala, o cara que comeu três.

Bato na minha barriga.

-Eu jamais ofenderia sua mãe comendo uma
quantidade menos que obscena.

A mãe de Carla cozinha bem, mas a questão
não é a qualidade da comida, e sim o fato de
ser caseira. Não sinto saudade de muitas
coisas de casa, mas da comida sim. É claro
que os jantares em família na minha casa não
são tão agradáveis como os dos Rosón. Nunca
soube o que era pior: os sermões que ouvia
quando sentava à mesa da minha mãe ou os
silêncios constrangedores que meu pai
tentava quebrar puxando conversa conosco
quando éramos crianças.

Carla ficou quieta de novo. Dessa vez, eu a
deixo sossegada.

Quando chegamos em casa, vamos para a
cozinha, ela para pôr as sobras na geladeira,
eu para pegar um copo d'água.

Com base em seu silêncio, imagino que vá se
trancar no quarto, mas em vez disso ela se
senta à mesinha da cozinha, batucando no
tampo e olhando para pontos aleatórios na
parede.

Reviro os olhos, sirvo um copo d'água para
ela e me sento do outro lado da mesa.

-Desembucha.

Ela me encara e contorce os lábios. Percebo
que está tentando decidir se fala ou não.

-Certo. - Levanto as mãos. - Já cumpri minha
obrigação de melhor amigo. Não vou ficar
implorando pra você falar. Se quiser ser
bajulada, pode ligar para a Marina. Sou um
bom amigo, mas minha paciência tem
limites.

Ela me segura pelo pulso quando tento me
afastar.

-Quero falar uma coisa com você.

-Ai, meu Deus - resmungo, realmente irritado
com o ataque de criancice - Como se não
fosse isso que estou tentando fazer há vinte minutos.

Mais que amigos - Samu e CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora