Capítulo 21

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                           Por Carla Rosón

Seja lá qual for o bicho esquisito que mordeu Samuel quando eu estava lá fora com meu pai, o efeito da picada passa quando chegamos à sobremesa: uma deliciosa torta de frutas vermelhas locais com sorvete de creme. Como duas fatias e não me sinto nem remotamente culpada.

Quando terminamos de lavar a louça e meus pais vão para a cama, estou contente como não me sinto há um bom tempo.

Quer montar um quebra-cabeça? - pergunto.

Samuel solta um grunhido.

-Você e seus quebra-cabeças. Que tal uma caminhada na praia?

Olho lá para fora com uma expressão de ceticismo.

-Uma caminhada na praia totalmente escura à beira de um mar bravo no meio da chuva em um frio de matar? - pergunto.

Ele sorri.

-Sim. Exatamente isso.

-Eu topo.

Cinco minutos depois, estamos cobertos dos pés à cabeça — eu com o moletom da faculdade que roubei de Samuel, ele com sua camisa de flanela. Percorremos a curta distância até a praia. Por sorte a chuva parece ter dado lugar a um sereno gelado.

Não está tão frio quanto eu esperava. Como nada me deixa mais irritada que areia nos sapatos, tiro os tênis e as meias e deixo em cima de uma pedra grande e inconfundível para poder encontrar depois.

Samuel faz o mesmo, e ambos dobramos a calça até o meio da panturrilha.

Sinto a areia gelada sob os pés, mas de um jeito gostoso.

Sempre adorei as viagens em família para Cannon Beach.

É um dos lugares mais bonitos do mundo, com ondas bravas, areia fofa e o rochedo Haystack pairando sobre a praia.

A alta temporada pode ser no verão, com fogueiras na praia, sorvete de casquinha e o sol brilhando no céu, mas sempre gostei mais de vir no inverno.

Poucas coisas são melhores do que ficar encolhidinha debaixo das cobertas com um bom livro enquanto chove forte lá fora, ou então assar marshmallows na lareira. Além de montar quebra-cabeças, claro.

Mas a melhor parte é ter a praia só para você.

Bom. Para você e seu melhor amigo, no caso.

Samuel parece ser da mesma opinião, porque respira fundo. Quase consigo senti-lo relaxar enquanto caminha ao meu lado.

A maré está baixa, o que faz a faixa de areia parecer infinita. Em uma concordância silenciosa, viramos para a esquerda, embora o lado não faça diferença. Nossa intenção não é chegar a lugar nenhum.

Caminhamos em silêncio por vários minutos antes que eu puxe conversa.

-Então, o que foi que minha mãe falou que deixou você assustado? - pergunto.

Ele fica em silêncio por um instante, acho que tentando decidir se me conta ou não. Ou quanto me conta.

-Sua mãe está preocupada com você - ele diz por fim.

Viro para ele, surpresa.

-Sério? E eu achando que vinha novidade quente por aí...

Samuel não faz uma piadinha em resposta, como eu esperava. Só enfia a mão nos bolsos e olha para o céu por um momento.

-Ela acha que você não está lidando bem com o término.

Abro a boca para responder, mas fecho em seguida.

Mais que amigos - Samu e CarlaOnde histórias criam vida. Descubra agora