Por Carla Rosón
Polo "escondeu" a aliança na gaveta de cuecas.
Quer dizer, sem contar o clichê da coisa, ele não é capaz de levar em conta nem que quem lava as roupas sou eu? E não só lavo, mas seco e guardo.
Claro que eu ia encontrar a maldita aliança.
Mas no fim não faz diferença.
Não faz diferença se Polo estava torcendo para eu encontrar a aliança, no que seria a proposta de casamento menos romântica de todos os tempos, ou se ele é apenas distraído.
No fim, a caixinha vermelha foi o alerta de que eu precisava.
Não só de que não posso casar com Polo, porque disso já sei há um tempão.
Mas a caixinha me fez perceber uma coisa ainda mais perturbadora:
Estou usando Polo.
Deito ao seu lado todas as noites, tentando me lembrar de como era ser apaixonada por ele, quando na verdade cada pensamento e cada sonho meu envolvem outra pessoa.
É claro que não revelo essa última parte quando termino tudo com ele.
Só peço para se sentar comigo quando chega em casa do trabalho e com toda a tranquilidade e gentileza digo que as coisas não estão dando certo.
A ironia da situação fica bem clara.
Não era minha intenção, mas dei um pé na bunda dele no mesmo local em que levei um alguns meses antes.
E sou obrigada a reconhecer que ele lida com a rejeição com muito mais dignidade que eu.
Nem ao menos parece surpreso. Como o conheço muito bem — quase tanto quanto conheço Samuel —, estreito os olhos.
-Polo.
Ele ergue os olhos.
-Você não parece exatamente arrasado - digo com um sorriso leve. -Em especial considerando que encontrei uma certa aliança na gaveta da sua cômoda...
Ele solta um grunhido e se inclina até encostar a testa no balcão da cozinha.
-Sou um idiota.
-Porque ia me pedir em casamento quando acabamos de voltar? Sem nem ter transado ainda?
Ele bufa.
-Eu sei. Ia devolver a aliança. É que...
Apoio o cotovelo na mesa e o queixo na mão.
-É que...eu pensei que comprando a aliança... me comprometendo com você, ia conseguir esquecer...
Ajeito minha postura na hora.
-Ai, meu Deus. Você ainda é a fim da tal Laurel.
-Não! - Ele senta direito. -Não, eu... Sei lá. Faz tempo que a gente não se vê, mas ainda penso nela. Fico me perguntando...
Então eu sorrio, ainda que seja um sorriso agridoce, e fico de pé. Me inclino para a frente e dou um beijo na testa dele.
-Você deveria conversar com Laurel.
-Ela tem namorado.
Dou de ombros.
-Mesmo assim. Acho que nós dois sabemos que é possível namorar uma pessoa pensando em outra.
Ele me olha com cuidado.
-Samuel?
Engulo em seco.
E assinto.
Polo solta o ar com força.
-Eu sabia. Aquela música no karaokê... foi pra ele, não foi?
Meus olhos se enchem de lágrimas quando lembro. O mais estranho é que foi ontem à noite. Parece que tive uma vida inteira para pensar a respeito.
Não consigo parar de pensar no que senti despejando meu coração e minha alma ao cantar aquela música linda, de cortar o coração.
Ainda estou sob o impacto da agonia de ter contado a Samuel como me sinto sem que ele soubesse que eu estava fazendo isso.
Meu coração acelera quando penso a respeito. E se Samuel sabe?
Se Polo percebeu, por que não ele?
Ai, Deus. E se foi por isso que ele foi embora do nada ontem à noite?
Todo mundo achou que tivesse conhecido alguma garota no bar, uma hipótese que me irritou, mas essa outra é ainda pior. E se Samuel percebeu o que eu estava tentando fazer e deu no pé?
Polo fica de pé e me acompanha até a porta.
Pego a mala que deixei perto da porta para este momento, quando deixaria o cara com quem um dia pensei que fosse casar.
-Tchau, Polo.
Ele se inclina para a frente e me dá um beijo no rosto.
-Tchau, Carla.
E, de repente, está tudo acabado.
Acabou, e tudo bem por mim.
Talvez não "bem". Porque tem um buraco enorme no meu peito, o qual não está relacionado com o cara com quem acabei de terminar.
A melhor escolha seria ir para a casa dos meus pais. Ou de Nadia. Ou de Marina.
Ou até um hotel.
Preciso pensar a respeito. Bolar um plano.
Entro no carro e vou até meus pais. Chegando lá, não consigo sair.
Dou a partida de novo.
Faço o caminho de volta, mas não pra casa de Polo.
Vou pra minha casa.
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Mais que amigos - Samu e Carla
Romance⚠️FANFIC COM CONTEÚDO +18⚠️ Será que vale a pena arriscar uma grande amizade em troca de um romance inesquecível? Carla, uma jovem de 20 anos está a procura de um amor. Já viveu diversas desilusões amorosas e ainda não conseguiu encontrar seu famoso...