Five

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Depois que Soobin saiu, Yeonjun se jogou no sofá de qualquer jeito, soltando um xingamento em voz alta pela dor que o movimento ocasionou. Provavelmente era masoquista, não se sabia muito bem.

Ele passou a mexer no Ipad, vendo os esboços ali salvos, mas a ação não durou muito tempo, não quando ele finalmente ouviu o silêncio ensurdecedor ao qual se encontrava. Sem mais nem menos, ele se encaminhou até o quarto, retirou suas roupas e se olhou no espelho, seminu.

Agora ele estava ali sozinho de novo, apenas consigo mesmo. Deveria ser suficiente, foi suficiente por muito tempo, então qual o motivo de sentir que simplesmente… não era mais? Olhando para si mesmo, pôde enxergar através de seus olhos o quão quebrado não só seu nariz estava, mas sua alma, também.

Sua mãe o ensinou que ele precisava ser perfeito e ele foi, foi o suficiente para acreditar que era. Ele foi perfeito às medidas de sua mãe e ver-se daquela forma o assustou, o medo da mulher descobrir seu estado o fez encolher-se aos poucos.

Ele observou o roxo em seus olhos, consequência do nariz quebrado, os arranhões na bochecha, ainda que os curativos estivessem por cima de um ou outro. Seus olhos estavam inchados e, em seus lábios, haviam diversos rasgos que apenas naquele momento passaram a incomodar. Haviam contusões em seu estômago e hematomas nos braços e pernas.

Milhões de frases marcadas na infância e adolescência passaram em sua mente, num flashblack que não parecia querer ter fim.

"Por que você está machucado outra vez? Olhe como esses roxos são horrorosos, foi por isso que seu pai nos deixou!"

Temeu que sua mãe aparecesse em sua porta apenas para fazer com que se sentisse pior do que já estava se sentindo, pois ninguém iria amá-lo enquanto ele estivesse machucado daquela forma. Foi por esse mesmo motivo que seu pai o abandonou, não foi?

Ele estava mais próximo de um ser indefeso e digno de pena.

Soobin realmente havia apenas ido comprar remédios? Ninguém suportaria Yeonjun quando ele já não tinha a única coisa que lhe restava, embora simplesmente não entrasse em sua cabeça o porquê doía pensar em Soobin indo embora, numa paranoia de que jamais iria voltar.

Yeonjun começou a chorar e quebrou o espelho ao retirá-lo da parede apenas com o intuito de arremessá-lo no chão e, bem, aquele era o segundo em dias. Talvez estivesse perdendo o controle que achou que tinha.

Os cacos se espalharam pelo chão novamente, milhões de pedaços minúsculos se espalhando pelo cômodo. Yeonjun estava descalço, nada pôde fazer a não ser tentar desviar, mas acabou por pisar por cima de um caco para sair do lugar. De alguma forma, sentir aquela dor excruciante o aliviava – mais do que deveria.

– Merda… – sussurrou sozinho, ainda chorando e mancando. Na ponta dos pés, ele foi até à cozinha e procurou pela maleta de primeiros socorros. – Além de tudo, agora também sou burro, puta merda.

Ele foi até o sofá novamente, sentou-se e, quando estava prestes a abrir a maleta, ouviu batidas na porta. Yeonjun arregalou os olhos, um sentimento de pânico apossando-se de todo o seu corpo.

– M-mãe? – Gritou, apenas para ter certeza, mas a única resposta que recebeu foi a porta sendo aberta.

Soobin não havia ido embora para nunca mais voltar.

– O que aconteceu? – O rapaz aproximou-se com uma expressão nunca vista antes, ele segurava uma sacola de papel. Ele se agachou em frente ao mais velho, olhando-o nos olhos. – Yeonjun…

– Eu estava apenas me sentindo um merda, sabe? – Ele ainda estava chorando.

Ele passou a vida inteira sendo cobrado e humilhado, sendo alguém que eu não queria ser, mentindo para si mesmo que  era algo que nunca foi, enquanto, aos poucos, se tornava esse algo.

Good boy bad guy (Yeonbin)Onde histórias criam vida. Descubra agora