A. Kimi. V.

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O chá foi pacífico, ele aproveitou para fotografar a todo momento. A madame, conhecida de Kimi, era bondosa e gentil. Five sentiu-se como um milhão de euros. Kimi manteve-se perto dele o suficiente para ele sentir-se em casa.  Eles já estavam no quarto temporário da garota. Ela fazia anotações em um caderno amarrotado, sobrepondo a beleza angelical do quarto, puxando desengonçadamente seu vestido. Five revezava seu olhar entre a janela e a garota. 

- Kim?

- Sim, playboy?

- Você é uma garota tão doce e jovem. Por que você faz isso consigo?

-  Não há descanso para os ímpios, Five. O dinheiro não cresce em árvores. Eu tenho contas para pagar, bocas para alimentar, pessoas para proteger.

- Tenho certeza que você conseguiria um destino melhor. - ela o olhou com olhos piedosos.

- Não há nada nesse mundo de graça. Eu não posso parar, muito menos desacelerar. Embora, sabe? Eu queria muito poder. Não há descanso para os ímpios até que fechemos os olhos para sempre. - ela voltou a escrever suas anotações.

- O que está escrevendo?

- Nada muito legal. Apenas mais um discurso.

- Por que você faz aqueles discursos?

- Por que você não cala a boca, hein? 

Five parou, hesitante. A menina suspirou e continuo brevemente.

- Ganho com minhas palavras. Você ganha com a quantidade de balas que sai da sua arma.

Ela fechou seu caderno e o encarou com um sorriso irônico. Ela revirou os olhos e ajeitou mais uma vez seu vestido. Parecia que queimava sua pele. 

- Gosto que você não usou seus poderes nenhuma vez sequer. - ela fala, de repente.

- Estou guardando-o.

- Não quero saber o que planeja fazer nessa sua missão. Mas gosto que me respeite, Five. Você é um bom garoto. A Gestora gosta bastante de você, é sortudo.

Ela suspirou, jogando seu caderno longe e se rastejando para a beirada da cama, se aproximando de Five. A garota o encarou por um tempo, passeando os olhos por suas íris verdes até sua gravata perfeitamente colocada. Sorrindo, ela puxou sua gravata para baixo.

- Pode respirar, playboy.

Ele soltou um riso anasalado. Ele pegou as pérolas que envolviam o pescoço da menina e as puxou delicadamente sobre sua cabeça.

- Você também, forasteira.

Ela se levantou, indo até um canto do quarto, sendo acompanhada pelos olhos curiosos do menino. Ouviu-se um ruído por um tempo, mas logo o quarto ecoou "We'll meet again", de Vera Lynn.

- Me dá a honra de uma dança?

Five sorriu levemente e se levantou, posicionando sua mão no quadril da menina. A garota atravessou seu braço sobre os ombros do garoto. Ela o olhou fundo em seus olhos.

- Esse lugar costumava ter os melhores bailes, sério. Era fudidamente incrível. 

- Eu imagino. 

Ele olhou novamente para os lábios de Kimi, que mimicava a música. Imaginou-se beijando novamente seus lábios.

- Não se apaixone, Number Five. Não quero quebrar seu coração. - ela riu.

- Gostaria de ver você tentar.

Agora, "La vie en rose", de Louis Armstrong, enchia o quarto com sua doce melodia.

- Você me deixa vulnerável. Não gosto disso. 

- Digo o mesmo, senhorita Kimi.

Ele segurou seu rosto, deixando um breve selinho na garota. Ela o segurou para que não se distanciasse e aprofundou o beijo. 

- Seu filho da puta desgraçado. - disse-o num sussurro ao quebrar o beijo, o fazendo rir. - Isso é errado.

- Então por que é tão bom?

- Você sabe que talvez nunca mais nos veremos, sim?

- Você está linda essa noite, Kimi.

E ela, de fato, estava. Trajava um vestido branco angelical, com os ombros de fora e luvas de seda. Seu cabelo caía de forma serena em seu rosto, deixando-a cada vez mais parecida com um anjo. Seus corpos estavam tão próximos que jurou escutar o coração da menina. Ela cheirava a canela, devido ao chá. 

- Você não parece nada com Kimi, a forasteira, sabia? A malvada Kimi que matava seus inimigos quebrando os seus pescoços. Nem com a Kimi que sobe em cima de mesas de bares e faz discursos marrentos.

- Com quem eu pareço?

- Nesse momento, você parece Kim. A Kim que defende a si própria com dentes e garras, a que tem cheiro de nuvens, a que leva a Lua em seus olhos. - o mesmo se assustou com as palavras que saíram de sua boca, assim como ela.

- Meu nome é Alyah Kimi Valencia. É um prazer conhecer você.

- Belo nome. O prazer é todo meu.

- Se um dia você contar para alguém, arranco sua língua fora, a queimo e faço questão de dar para os crocodilos comerem. Não nessa ordem necessariamente.

- Não vou contar para ninguém, Kimi. Pode confiar em mim.

~

Já era madrugada. Five se preparava para seu destino final, Galora. Galora era conhecida por ser uma cidade apática e caótica. Era como se a caixa de pandora fosse um lugar. Era perigoso e sombrio. Five e Kimi estavam armados e prontos para quaisquer perigos eminentes. Kimi se despedia da senhora enquanto Five a aguardava perto da moto. Ela finalmente subiu na moto e, ao sentir seu parceiro subir, acelerou e deixou para trás o grande palácio. Ela estava com seu casaco de couro e levava seu chapéu no pescoço, por conta do capacete. A moto era dirigida violentamente, curvas bruscas e nunca estavam a menos de 90 k/h. 

Five respirou fundo, preparando-se: não para a missão, mas para os últimos dias com a garota.


TDN - Number FiveOnde histórias criam vida. Descubra agora