Apenas uma forasteira.

28 7 4
                                    

O vento na cara de Five deixava ele cada vez mais alerta. A paisagem era caótica e um verdadeiro horror. Seu destino estava cada vez mais próximo. Five segurava firme na cintura de Kimi, deixando-a guiá-lo. Galora era uma cidade perigosa, sem dúvidas, mais do que a Terra De Ninguém. Casa dos ladrões e assassinos, bala perdidas e pessoas cujo sonhos e esperança despedaçara devido ao grande baque de 1899. Baque que abalou economicamente e politicamente o lugar. Desde então, são lugares sem prosperidade.

Kimi desacelerou a moto e parou devagarosamente.

- Ok, playboy. Você está sozinho daqui. Tenho assuntos para resolver nessa cidade de merda.

Five desceu e olhou para a menina, sabia que não seria a última vez. 

- Fique bem, Kimi. Encontro você no mesmo lugar daqui a dois dias?

- Claro. Se cuide, Five. Olhe suas costas e atire em quem ousar se aproximar. Jamais diga seu nome a ninguém, muito menos aos que são cegos. Não dê esmolas, água, comida. Fique na sua. Está escutando?

Five se perdera nos olhos da menina, então apenas assentiu e pegou em sua mão, deixando um breve aperto. A menina o puxou, deixando um beijo em sua bochecha. Ela o olhou pela última vez antes de acelerar a moto e o deixar para trás, deixando junto a ele uma nuvem de poeira.

~~~

- Ora, Kimi. Você precisa comer. 

- Não estou com fome, Adelaide. Mas obrigada. 

- Não consigo acreditar que não quer comer a comida de Harlow.

Havia apenas algumas horas que Kimi deixara Five em seu destino e já não via a hora de encontrar o espertinho novamente. Estava em mais um bar familiar para a mesma, ela sabia o que todos queriam. Um discurso. Um discurso era tudo o que tinha para apresentar naquela cidade infernal. Ela respirou fundo, o bar todo a encarava.

- Kimi, sua filha da puta. Nos entretenha. - disse um bêbado.

Ela o encarou e sentiu o mesmo estremecer. 

- Senhorita? Viemos de longe para ouvir. - uma pequena menina chegou perto dela, apontando para sua mãe.

Ela suspirou, subindo em cima da mesa. Todos os olhares curiosos se despertaram. 

- Molly era uma garotinha boa e ela sabia as razões. Então quando ela foi no banheiro, ela nunca imaginou que jamais sairia dele. 

Ouviu-se risadas no bar.

- Ela era uma menininha gentil e me senti tão bem em ser uma mentirosa! Oh, que bom! As mãos apertavam o pescoço assim como os guardas empunhavam suas espadas, patéticos. Um golpe não conserta a porra de uma atrocidade. Molly era uma garota amável, pena que mentia tão bem quanto eu. Molly deveria ter acordado mais cedo, colher petúnias e calar a boca. Mas ela escolheu! Molly era uma garotinha boa e ela sabia as razões. Então quando ela foi no banheiro, ela nunca imaginou que jamais sairia dele.

Ela levantou seu copo, como sempre fazia.

- Hoje, perdi um amigo, colegas. Perdi para algo que já se foi. Um momento antes de todas as danças e músicas. Não fui corajosa o suficiente para contar, mas não terá mais chance alguma. Os minutos são como carros de corridas, correndo em um ciclo infinito, ansiosos pelo final. - Ela respirou fundo. - Tudo o que eu fiz... Eu fiz por amor, fiz por fama, fiz por diversão. Nunca por dinheiro, por casa, por ele... Até agora. Como vou andar esse caminho certeiro? Sinto que sei a resposta cada vez mais. Por um minuto e um minuto apenas, a vida seria estranha.

~~~

A mesma estava cansada. Cansada de tanto esperar. De tantas incertezas. Não queria ser mais uma garota do oeste sem futuro. Ela respirava fundo e penteava seu cabelo para trás entre os dedos, nervosa. Não era verdade tudo o que saía da boca da menina, mas fazia tudo pelo entretenimento ou seria tudo pelo inútil - pelo menos era o que pensava. Os minutos passavam lentos e as horas mais ainda. Ela se preocupava por seu Five. A hora estava próxima, ela iria revê-lo, esperava. Ela dormira num pequeno espaço atrás do bar. Pagava o lugar com discursos, que atraía clientes mais que qualquer marketing que poderia atrair.

- É um prazer conhecê-la, senhorita. - disse um bêbado ao lado de Kimi.

- Obrigada.

- Ouvi dizer que está aqui para matar alguém importante.

- Não deveria acreditar em tudo o que dizem. Boatos se espalham como o fogo.

- O que te traz aqui então, liberta?

- Uma missão. - respondeu a garota.

- Uma missão?

- Algum problema?

- Quem iria confiar uma garota como você num...

- Ora, pare, cafajeste. Kimi está apaixonada. - uma mulher, o interrompeu.

- Eu não faço esse tipo.

- Garota, eu conheço o amor mais que qualquer pessoa aqui. Seus olhos não me enganam. E para ele ter conquistado alguém como você deve ter mais escrúpulos que esse aqui de meu lado tem.

O homem pareceu ofendido, mas a ignorou.

- Mesmo se fosse verdade, o que não é, não adiantaria de nada.

- Quem disse?

Sentiu o lugar ao seu lado ser ocupado.

- Ele não admite nada. E aí? Como que eu vou saber se ele nunca é claro? O perguntei um milhão de vezes, aí perguntei de novo. Ele só responde "talvez". Se ele não sabe se decidir, não vamos começar nunca. E eu que não quero desabafar, ser mais uma com o coração partido. Então se ele realmente me quer, que diga sim. Mas se não, confesse-me. E, por favor, não me diga... 

- Talvez. - a moça concluiu. - Isso parece um discurso. 

- Talvez seja. Não importa tanto assim. No final, sou apenas uma forasteira para ele. 

- Uma forasteira?

- Ele me chama assim. Ele é um saco. Um saco de merda charmoso e bonito.

- Você também não é nada mal, Kim. - uma voz familiar a respondeu.

Ela virou a cabeça para seu lado. Ele estava lá, a observando. Um lenço cobrindo o rosto, as roupas misturadas em sangue e terra, fedia como se não visse um chuveiro há meses. Mas isso sequer importava. Kimi o afogou em um abraço apertado. 

- VOCÊ ESTÁ VIVO!

Ele riu e a afastou.

- Uou, além de fedorento, tá todo machucado... Na minha terra, você iria daqui direto para o cemitério. Ei, se liga, Bretman. Vou ali atrás antes que esse garoto necroze.

- Falou, Kimi. - ele a jogou a chave.

- Venha. 

Kimi o ajudou a andar, tendo em vista, seu andar manco, imaginou que estivesse machucado.

- Conseguiu terminar sua missão? - ela girou a chave na maçaneta, abrindo a porta.

- Parte dela, sim.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 15, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

TDN - Number FiveOnde histórias criam vida. Descubra agora