𝐍𝐄𝐗𝐔𝐒↠ Steve Harrington

Desaparecimentos

Se não fosse o fato de serem, praticamente, idênticas, Melanie tinha certeza de que muitas pessoas não acreditariam que ela e Max realmente eram irmãs. Eram diferentes demais.

Costumavam ser mais parecidas, antes; Max havia se interessado por jogos, depois de tanto ver Melanie jogando. Portanto, quando cresceram, ficou mais claro que Max não tinha o menor interesse em coisas "de menina", o que deixava Susan muito frustrada. Melanie, então, fez o que sempre fazia: pegou a responsabilidade para si.

Para compensar a falta de vestidos e laços no armário de Max, ela passou a acompanhar Susan para as lojas de roupas, e deixava que ela a vestisse como sua própria boneca. De vez em quando, a mulher ainda levava algum item de beleza para a mais nova, mas, assim que ela virava as costas, Max colocava o item nas mãos de Melanie, que fingia ter gostado tanto dele, que pediu para Max a emprestar.

Não era como se não pudesse, simplesmente, dizer não. Ela podia, é claro. Mas, também, sabia que Susan era uma mulher muito sensível, e odiaria magoar os sentimentos dela, de alguma forma.

Depois de tantas tardes experimentando vestidos, e tantas horas gastas fazendo penteados elaborados, era mais próxima de Susan do que de Sam, enquanto, com Max, era ao contrário. Aquilo, possivelmente, ajudou no fato de terem personalidades tão diferentes.

Quando estavam em San Diego, Max escutava muito sobre "ser parecida demais” com Sam, em um tom de lamento. Mas, quando iam para Los Angeles, era Melanie quem ouvia que “conseguia ser uma verdadeira estraga-prazeres”, assim como Susan.

Ela nunca entendeu o motivo de acharem a personalidade um do outro tão ruins assim. Afinal, a decisão de começarem uma família juntos tinha sido tomada por eles. Se odiavam tanto o jeito que o outro lidava com as coisas, por que diabos se casaram? Por que fizeram as duas serem obrigadas a serem negociadas, como um bem material, enquanto eram arrastadas, de cidade para cidade?

Depois do divórcio, no entanto, Melanie teve mais liberdade para vestir o que gostava de vestir. Até porque Susan não tinha muito tempo para decidir qual sapatilha combinaria com qual vestido, estando trancada no próprio quarto pelo terceiro dia consecutivo, com as cortinas fechadas, encarando o teto.

Seu gosto para roupas não era exatamente como o de Max, que gostava de roupas mais largas, mas, também, não era como sua mãe a vestia. Gostava de pensar que ficava em algum lugar neutro, no meio desses dois extremos.

Jaquetas e blusões quadriculados, principalmente, a agradavam. Depois de algum tempo, usava qualquer coisa que cobrisse seus braços, na verdade... tinha algumas marcas e cicatrizes que ela não gostava de mostrar, pois iriam atrair muitas perguntas.

Blusas de gola alta também chamavam a sua atenção, por mais que não tivesse muitas dessas no armário. Gostaria de ter o mesmo bom gosto para roupas como as meninas da sua escola, que sempre pareciam exatamente qual combinação de peças as favoreciam, mas, quando abria o próprio armário, era como encarar um quebra-cabeça impossível de resolver. E, além do mais, nunca poderia pagar pelas mesmas roupas que elas.

Por isso, acabava se misturando na multidão. Usava sempre as mesmas combinações, ou algo parecido com isso. Quando tentava algo novo, desistia pouco tempo depois; na última vez em que usou uma saia, nem chegou a sair de casa com ela, pois Billy fez uma piadinha de mau gosto, a chamando de nomes horríveis, enquanto Neil resmungava que ela "deveria se dar o respeito".

Se considerava bem longe de um exemplo de estilo, o que foi o motivo pelo qual ficou tão surpresa com o olhar que Max a lançou, quando viu a roupa que ela usava.

Como havia prometido no dia anterior, iria a acompanhar até o fliperama novamente. Ansiosa para isso, Max a esperou do lado de fora de casa, deslizando em seu skate, de um lado para o outro, até Melanie sair pela porta, vestindo um casaco vermelho, com listras brancas na lateral, com uma calça jeans skinny, e seu all-star vermelho, de sempre.