Dá Pra Consertar

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Tendo passado toda a sua vida em Califórnia, em uma cidade grande, Melanie temeu que, uma vez que chegasse em Hawkins, fosse se sentir claustrofóbica, como um peixe que tivesse sido tirado do oceano e colocado em um pequeno aquário; sempre podendo ver o lado de fora, mas nunca podendo chegar até lá.

E, é claro, não é como se isso não tivesse acontecido, em alguns momentos. Ela admitia que o fato de todos se conhecerem, e ela ser a desconhecida, a assustava. Mas não havia chegado nem perto do quão ruim ela imaginava que seria. Até mesmo acreditava que, aos poucos, estava se acostumando.

De certa forma, o conhecido e a rotina a traziam um nível de conforto que nem San Diego e nem Los Angeles poderiam a oferecer. Gostava de saber que encontraria as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, fazendo as mesmas coisas, todos os dias. E gostava de saber que, eventualmente, ela também faria parte do "normal" da cidade. Que as pessoas pensariam "Onde está a Melanie? Ah, no mesmo lugar em que sempre está! Com as mesmas pessoas!".

Da mesma forma que aquilo a confortava, parecia ter o efeito contrário em Max, que, a cada minuto, sentia que a cidade ficava cada vez mais pequena. Realmente teria que ir para a mesma escola, entrando nas mesmas salas de aula, e passar pelos mesmos grupos nos corredores, que sempre a olhariam por alguns segundos a mais, antes de virarem os rostos de novo, como se ela deixasse de existir novamente.

E, por mais que ela insistisse em falar para Melanie sobre como não ligava mais para os garotos do clube de AV, o fato de continuar tocando no assunto, sempre tendo alguma observação para acrescentar, fazia a irmã acreditar no contrário. Mas, é claro, nunca diria nada.

No fundo, Max sabia que, por mais horrível que fosse a sensação de ser excluída pelas únicas pessoas que quiseram ser minimamente amigáveis com ela, ainda era melhor do que o que Billy seria capaz de fazer, se descobrisse que ela havia feito amigos.

– Ei. – Melanie chamou, tirando os olhos do seu livro para encarar a irmã, deitada em sua cama, encarando o teto. – Está dormindo?

– Se estivesse, não estaria te respondendo. – A mais nova resmungou, em resposta.

– Ai, doeu. – Murmurou, levemente ofendida, levando uma mão ao peito.

– ...foi mal. – Suspirou, se sentando, com os ombros caídos. – É só... o dia tá uma chatice. Quase me faz ter saudades de ir pra escola... pelo menos, eu tinha algo pra fazer lá.

– Está falando sério? Sábado é o seu dia preferido! – Fechou o livro, franzindo o cenho.

Era o meu dia preferido. Quando eu ainda tinha lugares para ir, e pessoas para passar o tempo. – A corrigiu, bufando, desanimada. – Mas o que é que eu tenho que fazer aqui, nesse fim de mundo?

– Não é tão ruim. – A mais velha deu de ombros.

– Pra você, não deve ser mesmo. Não sei como você consegue ficar o dia todo parada! – Exclamou, se deitando novamente, de forma dramática.

– Ei, eu não paro pra ler direito tem semanas! Eu mereço isso, tá bem? – Se defendeu, fazendo careta. – Você pode... sei lá! Andar de skate, aqui na frente de casa?

– Chato. – Fez barulho com a boca.

– Andar de skate no centro da cidade?

– É a mesma coisa! – Revirou os olhos, mas, então, uma lâmpada se acendeu em sua cabeça, a fazendo erguer o corpo. – Nós podemos ir no cinema? Por favor!

– Max... eu não vou ficar em casa, hoje. – Suspirou, entristecida. – Tinha combinado com a Nancy e o Jonathan de começarmos o trabalho do Sr. Mundy essa semana, mas eles não apareceram na escola ontem, então eu pensei em dar uma passada na casa do Jonathan pra perguntar.

𝐍𝐄𝐗𝐔𝐒↠ Steve HarringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora