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AVISO DE GATILHO:
Este capítulo contém descrições gráficas de agressão física.

Pouco duraram os dias em que Melanie confiava em Billy o suficiente para deixá-lo sozinho com Max; agora, era quase impossível se lembrar da última vez em que deixou que ele ficasse responsável por ela por mais do que dez ou quinze minutos. Por conta disso, foram precisos muitos sacrifícios durante a sua adolescência, como dispensar festas, saídas em grupo, ou quaisquer outros planos que não pudessem incluir Max.

A última vez em que Melanie foi tola o suficiente para deixar isso acontecer não havia sido muito tempo depois de Susan e Neil se casarem. Deveriam se mudar para a casa dos Hargrove em poucas semanas, quando, finalmente, conseguissem vender a antiga casa dos Mayfield; uma decisão que Melanie odiava, mas compreendia, já que a casa dos Hargrove tinha três quatros, e era mais espaçosa, e a dos Mayfield tinham apenas dois, e uma decisão que Max odiava, e se recusava a compreender.

A garagem da casa dos Mayfield era acessada através de uma porta na lavanderia, mas raramente era usada. Tinha espaço o suficiente para dois carros, mas sempre ficava vazia, já que o carro de Sam, geralmente, ficava estacionado do lado de fora; ele dizia que dava muito trabalho abrir e fechar a porta da garagem, toda vez que fosse sair.

Quando era obrigado a passar os dias lá, era na garagem que Billy passava a maioria do tempo, fosse sozinho ou com seus amigos. Deixava um rádio transistorizado na bancada, e um supino no canto do cômodo. Sempre que era encontrado lá, estava com a porta da garagem aberta, com a música alta, enquanto levantava pesos, ou mexia em seu carro; Melanie se perguntava se ele, um dia, deixaria de encontrar melhorias para fazer em alguma parte do motor, já que vivia debaixo dele, com as mãos cheias de graxa.

Do lado de dentro, enquanto Melanie limpava os livros da sua estante, que haviam acumulado bastante pó nos últimos meses, Max mudava as rodinhas do seu skate; havia passado as últimas semanas reclamando sobre como estavam rangendo, ou como não giravam mais como antes, até Melanie comprar novos rolamentos.

– Você sabe onde tá a chave sextavada? – A mais nova ergueu a cabeça na direção da irmã, que estava de costas para ela, curvada, cuidadosamente passando o pano úmido por cima da capa de um livro de suspense. – O papai não levou com ele, levou?

– Não, ele comprou uma caixa de ferramentas nova, eu acho. – Melanie se virou para ela, pensativa. – Por que não olha na garagem?

Rapidamente, Max se levantou, deixando o skate no chão, enquanto andava na direção da garagem. Melanie não pensou muito nisso, já que, afinal, estavam em casa. Não precisava ficar seguindo a irmã para todos os cantos. E, além do mais, estava um pouco ocupada com a limpeza.

Quando Max entrou na garagem, Billy estava lá, com a porta automática semiaberta, usando uma regata, com o capô do carro levantado, e um cigarro entre os dentes. Neil odiava que ele fumasse, mas ele não parecia se importar.

Aquela era a primeira vez, em semanas, em que Billy mexia no carro, já que havia passado as últimas de castigo, depois de ser levado até em casa de viatura, na noite em que foi pego num local de construção, bêbado, com seus amigos, enquanto eles desafiavam uns aos outros a atravessarem os andaimes.

Antes dos Hargrove se juntarem, a garagem sempre ficava vazia, sendo usada apenas para guardar as luzes de natal e a velha caixa de ferramentas de Sam. Por alguns meses, quando completou doze anos, Melanie implorou que eles a deixassem fazer um quarto lá. Em sua cabeça pré-adolescente, aquilo parecia ser a melhor idéia do mundo, e ela certamente pareceria muito descolada quando dissesse que seu quarto ficava na garagem.

Mas, agora, era tarde demais para pensar nisso. Neil e Billy haviam tomado posse da garagem, assim como todo o resto da casa, e da vida delas. Não é como se elas ligassem tanto assim para a garagem, mas era impossível não se sentirem exageradamente protetoras, como se aquele fosse apenas mais um território conquistado pelo inimigo. Mais uma derrota para elas. Mais uma parte da casa que já havia sido delas, mas, agora, não era mais.

𝐍𝐄𝐗𝐔𝐒↠ Steve HarringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora