𝐍𝐄𝐗𝐔𝐒↠ Steve Harrington

Vai Embora!

O clima na casa dos Hargrove não estava muito diferente, quando amanheceu; Max caiu no sono, um pouco depois das coisas na sala de estar se acalmarem, e Melanie, depois de tomar banho, a acordou, para a lembrar de, pelo menos, trocar de roupa.

Naquela noite, Melanie deixou que Max dormisse com ela, na sua cama. As noites de sono nunca eram muito boas, depois dos surtos de Neil, então, queria garantir que fosse estar por perto, caso a irmã tivesse algum pesadelo, durante a noite.

Certamente, não esperava que fosse ela quem teria uma péssima noite de sono. Acordou enquanto ainda estava clareando, do lado de fora, com o som de alguém andando no corredor, de um lado para o outro.

Enquanto se levantava, cuidadosamente, para não despertar Max, e vestia seu casaco de lã, concluiu que não poderia ser Neil; ele nunca despertava um minuto mais cedo do que o seu alarme, e ficava furioso quando alguém, sem querer, fazia isso, o que significava que era seguro ir olhar quem era que estava acordado, áquela hora.

Fechou a porta do quarto, sem fazer barulho, e viu que todas as luzes da casa ainda estavam apagadas, exceto pela garagem, cuja porta estava aberta. Por uma fração de segundo, temeu que alguém tivesse invadido a casa, cogitando voltar para o quarto, e tirar sua arma do esconderijo, mas reconheceu o som familiar do motor de um carro antes disso.

A garota se encostou no batente da porta, vendo Billy limpando vômito da roda do seu Camaro, com um cigarro entre os lábios, parecendo muito insatisfeito por estar naquela situação; a regata branca que ele usava já estava completamente manchada de graxa, por algum motivo. Ela quase deu uma risadinha, se lembrando do momento em que assistiu um garoto da festa o deixar aquele presentinho na roda do carro, mas, quando viu a quantidade de hematomas espalhadas pelos braços dele, rapidamente perdeu a vontade de rir. Se os braços dele estavam naquele estado, ela nem gostaria de imaginar como as costas estariam.

Eram raros os momentos em que a raiva que sentia de Billy sumiam, dando lugar á algo parecido com pena, ou, talvez, empatia. E esse era um deles.

– Você deveria colocar algo gelado nesses hematomas. – Ela disse, anunciando sua presença, e ele olhou para trás, a encarando por cima dos próprios ombros. – Faz as marcas sumirem mais rápido.

– Virou minha enfermeira agora, ou alguma merda assim? – Resmungou, voltando sua atenção para o carro, afundando uma esponja velha dentro de um balde cheio de água e sabão. “Então, era isso que ele estava fazendo, andando de um lado para o outro...”, ela pensou. – Já não passou da sua hora de dormir, Mel?

– É difícil fazer isso quando não param de fazer barulho, no corredor. – Retrucou, cruzando os braços. – Vai querer uma compressa, ou não?

– Você não tá vendo que eu tô ocupado?! – Jogou a esponja no chão com certa agressividade, fazendo respingar espuma para todos os cantos, mas Melanie permaneceu inabalada, o encarando. Para a sorte dela, já havia se tornado imune ás tentativas de intimidação dele.

– São vinte minutos com a compressa, pelo amor de Deus. – Inclinou a cabeça para o lado, impaciente. – Tenho certeza de que seu carro não vai ficar chateado, se você parar por vinte minutos.

Ele permaneceu em silêncio, abaixando a cabeça e curvando as costas, encarando o chão por alguns segundos, e, levando aquilo como um "sim", Melanie se desencostou do batente da porta e andou, pelo corredor, até a cozinha. Quando olhou para trás, no entanto, viu que ele não a seguia.

– Pelo amor de... – Resmungou, baixinho, enquanto revirava os olhos e voltava até a garagem. – Olha só, Billy, vê se não abusa da minha boa vontade, tá bem? Vamos logo. – Cruzou os braços, o encarando, impaciente, e ele apenas a encarou de volta.