Capítulo 10

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Hoje consigo chegar mais cedo no trabalho para tentar fazer o meu verdadeiro trabalho. Entro no museu indo direto para minha sala separar os documentos que precisam ser despachados e conferir se algumas obras já estão prontas para serem devolvidas. Acabo tudo faltando pouco para o restante dos funcionários chegarem. Voltando do cofre do museu, algo mãe chama a atenção antes de chegar em minha sala. A luminária do escritório da Sra. Uhn está acesa. Acho estranho e entro para desligar, para minha surpresa encontro a Sra. Uhn.

Deitada toda encolhida, dormindo em seu amado sofá. Mil lenços de papel estão jogados à sua volta. Há um jantar que mal foi tocado na mesinha de centro. A cena toda é deprimente, sinto uma tristeza me invadir. O que me surpreende é a forma serena com que ela dorme, parece tão em paz. Queria que quando acordasse se sentisse da mesma forma, mas algo me diz que não será assim tão fácil.

Fecho a persiana que cobre sua porta de vidro. Pego a lixeira e começo a limpar o lugar. Então era isso que Deok-mi fazia quando passava horas enfurnada aqui dentro. Se soubesse o quanto de sofrimento So-hye carregava, não teria feito um terço dos julgamentos mentais que fiz.

Porque nunca percebemos o que realmente está acontecendo com uma pessoa antes de ser tarde demais?

- Que horas são? -So-hye pergunta sonolenta. - Ah meu Deus Senhorita Castro. Eu não...Nem percebi a hora passar. Eu...

Ela realmente demorou a lembrar onde dormiu. O susto que levou ao me ver em sua sala, logo se tornou em vergonha. Seus olhos correm pela sala provavelmente à procura de toda a bagunça que tinha aqui até alguns minutos atrás. De forma apressada tenta se arrumar. Alisa o cabelo tentando conter os fios rebeldes. Logo em seguida a blusa que está toda amassada. Mesmo fazendo isso tudo e endireitando a postura, seus olhos ainda estão inchados. sem brilho. Com maquiagem borrada.

Por que escondemos tanto nossos verdadeiros sentimentos?

Fazer isso nos leva a uma solidão profunda, é um caminho sem volta.

- Dormiu no trabalho porque não queria chegar em casa e encontrar com seu marido.

Digo sem pensar muito enquanto coloco a lixeira de volta no lugar, mas agora cheia. Eu sabia que não deveria me meter em sua vida pessoal sem que pedisse. Minhas palavras são curtas e grossas, mas não consigo ver alguém definhar dessa forma.

Não de novo.

- Sra... -penso que ainda não estou no meu horário de trabalho. Respiro fundo e volto a falar. - So-hye, Não faça isso com você.

- Estou bem, não se preocupe. Me distrai lendo um...

- Cadê? -pergunto soltando um suspiro pesado e esperando sua resposta, mas ela não vem. - Onde está o livro? A revista? O relatório? O que for que estivesse lendo. Onde está?

Tento manter a minha voz o mais calma possível, mas é inevitável. É como se tivesse vendo o meu pai de anos atrás. O que era assombrado pela morte da esposa. A minha mãe.

- Sabe...-volto a falar quando o silêncio entre nós começa a se tornar constrangedor. Me sento ao seu lado, mas de frente para ela. - Quando a minha mãe faleceu, foi uma perda enorme para o meu pai. Ela foi o grande amor da vida dele. Estavam juntos desde a época de escola. O amor deles era de se invejar, mas ela se foi cedo demais. Eu tinha sete anos. Mesmo que não faltasse nada para mim, durante o primeiro ano, foi como se eu tivesse perdido os dois. A diferença é que enquanto a minha mãe estava enterrada, meu pai vagava pela vida. Como um zumbi.

Falar sobre isso é doloroso para mim até hoje. Vejo os olho de So-hye se encherem de lágrimas. Não sei bem o que aconteceu ou ainda acontece na vida dela, mas não posso ver isso em silêncio.

Um Dj em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora