iii. a rainha dos cisnes e a princesa intergalática

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CAPÍTULO TRÊS
A Rainha dos Cisnes e a Princesa Intergalática

DARIA LILJA ERA UMA ADOLESCENTE COM MUITAS CERTEZAS e convicções na vida

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DARIA LILJA ERA UMA ADOLESCENTE COM MUITAS CERTEZAS e convicções na vida. Ao menos, era essa a imagem que ela gostava de mostrar ao mundo: a jovem promissora e ajuizada, sem dúvidas e nem conflitos, que podia muito bem sustentar a irmã mais jovem e garantir um futuro brilhante para as duas sem a interferência da assistência social ou de seus vizinhos intrometidos que só sabiam encher de defeitos a mulher que a havia criado e que ela tinha como mãe. 

O leitor, diferente das pessoas que com ela conviviam, tem, no entanto, o privilégio de saber que não era exatamente assim que ela se sentia o tempo todo; Daria tinha consigo muitas incertezas.

E não falamos aqui de seu hábito constante de duvidar de si mesma e seu medo do que o futuro reservava para ela, nem de seu irracional medo da falha e da vulnerabilidade, e muito menos de suas dúvidas sobre o que era, de fato, o melhor para ela e para sua irmã tão querida, porque esses detalhes diretamente relacionados ao próprio estado mental ela era muito boa em esconder. Falamos, no entanto, de algumas dúvidas óbvias para alguém com a vida como a dela, que ela, quando se sentia confortável com alguém, reafirmava: era muito estranho não ter lembrança nenhuma de seu passado antes dos oito anos de idade.

Isso não significava, no entanto, que ela não possuía nenhuma conexão com sua vida antes das partes que seu cérebro era capaz de recordar. Ela carregava algumas cenas desconexas de seu passado em seus sonhos, e de acordo com Lília, era muito parecida com sua mãe biológica. O mais importante e palpável detalhe de seu passado, no entanto, consistia em um anel - uma peça de joalheria das mais delicadas, forjada em ouro puríssimo e cravejada de minúsculas pedras vermelhas, arrematadas bem no centro por uma pedra maior.

Usara-o em uma corrente igualmente dourada, na qual à época desta história repousava um pingente de borboleta no lugar do anel, até os seus quatorze anos, quando o anel enfim serviu em seu dedo. Ele não saíra de lá desde então; pensara em vendê-lo para custear alguns meses de sobrevivência após a perda de Lília, mas apesar da proposta generosa de pagamento por parte do joalheiro interessado na beleza da peça e na pureza de seu material, ela não fora capaz de concluir a venda. Isso porque aquele era o anel de casamento de sua mãe biológica.

Daria tinha um afeto especial pela peça por ser, de certa forma, sua única ligação direta além da genética com aquela que lhe dera a vida. Muitas pessoas haviam tido o prazer de admirá-lo em seu dedo, mas poucas haviam tido a honra de tocar nele - e menos pessoas ainda possuíam o privilégio de conhecer o segredo que ele escondia em seu interior. Havia, afinal, uma gravação - uma declaração de amor eterno, para ser mais exato. A peça era uma obra de arte, daquelas tão bem pensadas, que a gravação aparecia somente sob a incidência de uma frequência de luz tão específica que Daria e Ella não souberam de sua existência até a construção do laser caseiro de Ella para uma feira de ciências no segundo ano do ensino médio.

341 𝑨𝒏𝒐𝒔-𝑳𝒖𝒛 | sᴛᴀʀ ᴡᴀʀsOnde histórias criam vida. Descubra agora