ii. quatro

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CAPÍTULO DOIS
Quatro

ASIMOV ERA O NOME DO DIRETOR DE ARTE da companhia pela qual Daria competia nos meses de junho, julho em agosto, e pela qual ela dava todo seu sangue e suor

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ASIMOV ERA O NOME DO DIRETOR DE ARTE da companhia pela qual Daria competia nos meses de junho, julho em agosto, e pela qual ela dava todo seu sangue e suor. Ele fora a segunda pessoa naquela cidade a reconhecer o enorme potencial da garota para a dança artística clássica, ficando atrás apenas de Lília, que apresentara Daria à companhia quando ela tinha nove anos de idade. Asimov atendia apenas por seu sobrenome, e poucas pessoas sabiam seu primeiro nome - e embora ele não gostasse de Daria o suficiente para revelar a ela tal segredo, Asimov gostava do quanto sua prima ballerina havia conquistado à uma idade tão jovem, e encarregara-se pessoalmente de traçar o caminho da garota rumo ao sucesso e à glória eterna no meio do balé clássico.

Ele a ensaiara com afinco durante todos aqueles anos, e a levara à todas as competições na América do Norte e na Europa. Fez de Daria Lilja um nome promissor da nova geração do balé clássico, e tornou-a uma colecionadora de troféus e medalhas. Pagou-lhe tutores particulares para auxiliá-la nas disciplinas da escola, porque uma reprova de ano atrasaria sua carreira, e colocou-a para aprender piano e violino com dois de seus amigos mais próximos, para aumentar as chances da garota de conquistar uma vaga no programa de dança em Julliard. Se desconsiderado o fato de que também foi ele quem submeteu Daria a uma vida sob pressão constante, incutiu em sua mente uma busca obsessiva pela perfeição e criou em seu psicológico um discreto transtorno alimentar, pode-se dizer que Asimov foi o primeiro grande mestre de Daria. Afinal, ele garantira o sucesso da aprendiz em todas as ocasiões. Sem erros.

Era meio-dia e quarenta. Ele estava sentado na cadeira do diretor no auditório da companhia de dança, fingindo anotar observações sobre o ensaio, mas ocupando-se realmente de observar com fervor cada milímetro de músculo movido por sua garota de ouro durante do pas de deux do cisne negro. Observara que Daria encontrava-se discretamente mais pálida do que o comum, e sentiu pena dela, pois sabia que a palidez tratava-se de uma queda de pressão devida ao fato de que ninguém naquele auditório - além dele próprio - havia tido uma pausa para o almoço até então. Mas ele não tinha culpa - os culpados, é claro, eram os integrantes do elenco, que não aperfeiçoavam seus movimentos suficientemente bem para que uma pausa fosse cabível.

Daria não tinha nada a ver com isso, ele pensava; e era injusto que ela pagasse pelos erros dos colegas, mas, eles eram uma equipe afinal de contas. Asimov baixou o olhar para seu caderno de falsas anotações, e, pela primeira vez naquele dia, escreveu algumas palavras: "gritar mais alto para garantir que entendam os erros". Era como a cabeça do homem funcionava. Não apenas porque ele acreditava que ser assustador era um caminho mais fácil do que fazer com que todos ali acreditassem no próprio potencial, como também porque a situação de sua prima ballerina o deixava irritado - pagando pelos erros alheios, sendo ela a única que nunca tremera durante nenhum movimento.

Daria tivera boa sorte naquele dia.

Ela focava toda sua energia em manter as pernas firmes enquanto seu parceiro de dança a erguia no ar, porque a firmeza e os movimentos limpos eram a marca que havia lhe garantido todas as vitórias de sua carreira até então. E, apesar da falta de almoço, ela estava encaminhada para a finalização de mais uma sequência perfeita - até o momento em que Asimov baixou os olhos para seu caderno de anotações, e o olhar de Daria voltou-se para o fundo do auditório, onde Ella passava pelas portas, despercebida pelo diretor graças ao volume estrondoso da orquestra - e acompanhada de dois homens desconhecidos.

341 𝑨𝒏𝒐𝒔-𝑳𝒖𝒛 | sᴛᴀʀ ᴡᴀʀsOnde histórias criam vida. Descubra agora