Capítulo IV - Uma Nova Rotina

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— Bae, não faça isso comigo. Eu não posso perder meu réu primário.

Após ouvir o primeiro soluço forte, Hansan abriu os olhos. Já tinha dado um susto suficiente o bastante para ele nunca mais repetir uma loucura como aquela.

— Eu sou muito novo para ir preso por homicídio culposo.

Enxergou-o com o rosto molhado pela fraca garoa formada pelo irrigador, os olhos cerrados e mãos unidas rentes ao corpo, em uma fervorosa prece.

— Você viu, Deus, não foi a minha intenção, eu não queria matar o velho.

— Velho é o seu pai!

— Ele também é... o quê?

Seu desespero foi tão grande, ao ponto de fazê-lo pensar que Deus resolvera lhe responder alto e claro, porém, que raios de resposta era aquela?

Caiu em si e encontrou o imenso castanho dos olhos brilhantes do seu paciente. O alívio que percorreu sua espinha encheu os seus, que transbordaram em grossas e sequenciais lágrimas. A última vez que sentiu um alívio assim tão grande, a ponto de fazê-lo chorar, foi quando foi acolhido em um momento financeiro delicado e teve suas contas pagas por um bom samaritano.

Havia chorado por minutos a fio enquanto arrumava as malas no dia da mudança para casa do Lee. Ficou verdadeiramente grato por ainda existirem boas pessoas no mundo e por uma delas ter cruzado o seu caminho. Então, ver Hansan vivo e quase inteiro foi como pôr um bálsamo em suas feridas. Não se perdoaria nunca se fosse responsável por um acontecimento pior.

— Sr. Lee... — Jogou-se sobre ele, abraçando-o e enterrando o rosto molhado em seu pescoço, enquanto fungava incontáveis pedidos de desculpas.

— Calma, não precisa chorar assim.

Afagou suas costas com o dorso da mão, as palmas arranhadas ardiam como se estivessem em carne viva. Sentiu-se um pouco culpado por fingir-se de morto a ponto de deixá-lo naquele estado.

— Calma, eu estou bem... até que foi divertido — tentou brincar. — Está tudo bem. Vai, levanta, está tudo b-

Antes de terminar a fala, viu de relance as rodas da sua cadeira empenadas para cima, virou o rosto de vez, arregalando os olhos e abrindo a boca em espanto.

Sua magrela estava arruinada.

— Eu vou te matar, Dan Dae-ho!

Sentiu o corpo do outro enrijecer, tenso, por cima do seu.

— Sai de cima de mim! Olha o que você fez com a minha cadeira! — Tentou levantar, mas as palmas de ambas as mãos ardiam, como se o gramado onde as apoiou fosse uma manta de brasas-vivas. — Ai! Mas que droga!

— Eu sabia que era o Sora que colocava juízo nessa sua cabeça, Hansan, mas não vou mentir, isso foi muito irado!

Ouviram uma terceira voz acompanhada por uma gargalhada alta, e viram uma sombra se formar sobre suas cabeças.

— Não fode, Kwan!

Dae-ho encolheu os ombros, nunca havia visto Hansan tão irritado, nem nunca o ouvira dizer palavrões assim.

— Cara, eu vi lá da janela, foi hilário — Sacudiu o celular que estava segurando. — Quase que não dava tempo de filmar, mas eu consegui pegar a melhor parte. Quer ver?

— Se você não calar a porra boca e me ajudar a levantar, eu vou pegar esse celular e enfiar todo no seu rabo!

Tentou levantar mais uma vez, desabando logo em seguida.

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