Epílogo- Dois Passos

113 26 2
                                    


— Senhor Lee! Acabei!

— É Hansan, Jae. Só Hansan!

Levantou do sofá e, com os olhos ainda presos na chamada de vídeo que fazia com o fisioterapeuta, foi na direção da voz que lhe chamava.

— Tá ouvindo isso, Dae-ho? Isso é culpa sua!

Nove meses haviam passado, nove! E Hansan ainda lutava para ouvir qualquer vocativo vindo da criança, que não viesse precedido de um "senhor'". Às vezes chegava a ter certeza de que ele e Dae-ho combinaram isso só para tirá-lo do sério. Não tinha jeito, por mais que pedisse, era sempre "Senhor Lee" para tudo.

— Que culpa eu tenho se você tem cara, e idade, de senhor?

Ignorou contundentemente o questionamento descarado.

— Você ainda está na clínica?

Estou, mas já estou saindo. Vou passar no Benjie para pegar as roupas e já chego aí.

— Não esqueça de pegar os meus sapatos.

Sim, senhor!

Sorriram feito bobos um para o outro através da tela do celular, ambos ansiosos pelas próximas horas, por finalmente poderem concretizar mais um sonho que passaram a sonhar juntos.

— Senhor Lee! — Jae berrava de algum canto da casa.

— Deixa eu ir cuidar do teu filho.

E é só meu por acaso? — O sorriso largo do fisioterapeuta chegava a tomar toda a tela de tão feliz.

— O único que ele chama de pai aqui é você! — disse em tom acusatório.

Dae-ho reagiu como sempre, gargalhando devido à birra do futuro marido, antes de encerrar a chamada lhe dizendo para que o esperasse, pois dali a pouco estaria em casa.

Enquanto isso...

— Senhor Lee, eu já acabei! — a criança continuava a chamar — Hansan!

— Ah! Agora soube me chamar só de Hansan?! — sorriu, aparecendo na porta do banheiro — Acabou mesmo?

— Cabei! De hoje que te chamo, daqui a pouco desço pela descarga!

— Vai, pula daí — Estendeu a mão para servir de apoio.

Ainda não haviam conseguido adaptar todos os cômodos da casa para que Jae tivesse mais independência na realização de suas atividades, já que fazia poucas semanas que sua adoção havia sido finalmente concretizada e sua mudança para a casa se tornado definitiva.

Fora nove meses, e toneladas de trâmites, tanto que Dae-ho chegava a brincar dizendo que era como se tivesse dado à luz a uma criança de, agora, seis anos, tamanho havia sido o sofrimento para conseguirem chegar até ali.

Desde que decidiram adotá-lo, uma batalha árdua se iniciou, tanta era a burocracia envolvida, que isso os levou a questionar se valeria a pena se apresentarem como um casal homoafetivo em busca da adoção. E, depois de conservarem com os amigos, seguindo os conselhos de Benjie e Na-moo, decidiram tomar outras vias. Não concretizaram o casamento e Dae-ho deu entrada no pedido de adoção como pai solteiro, já que ele era o que tinha mais contato com a criança até então.

— O que o seu pai te deu pra comer ontem? — Fez uma tremenda careta enquanto tampava o vaso e dava duas descargas seguidas — Caramba, que fedor!

Jae ria das caretas que Hansan fazia, enquanto esperava para ser limpo.

Um PassoOnde histórias criam vida. Descubra agora