— Sr. Lee? Posso entrar?
Levantar naquela manhã foi uma árdua tarefa. As consequências de sobrecarregar-se com os estudos a ponto de cair no sono em cima dos livros e apostilas lhe rendeu belas dores pelo corpo. Após cerca de trinta minutos para finalmente conseguir se colocar de pé, usar o banheiro e tentar vestir-se, foi em busca de ajuda, pois como estava seria impossível fazer qualquer tarefa durante o dia.
— Dan? — Ainda estava sonolento, acabara de despertar quando ouviu o outro lhe chamar acanhado atrás da porta. — Pode, entra. Aconteceu algo?
Ainda com os olhos presos ao chão, Dae-ho empurrou a porta, que sempre estava destrancada. Mais uma das coisas que o acidente arrancou violentamente de Hansan: sua privacidade. Com a pouca mobilidade, passou a temer que algo lhe acontecesse e não pudesse — em meio a algum infortúnio — conseguir ajuda, por não alcançar as trancas da porta ou por, de alguma forma, não conseguirem ouvir seus pedidos por socorro. Então, mesmo após reconquistar parcialmente sua independência e coragem para viver sozinho novamente, ainda mantinha as portas destrancadas e minimamente entreabertas.
— Aconteceu. O senhor pode me ajudar?
Os olhos de Hansan focaram na cena e de imediato levou uma das mãos à boca, não em espanto pelo que via, mas para abafar a risada que escapou por seus lábios.
— Não ri não, senhor Lee — pediu, olhando para o chão, a mão massageando levemente a nuca.
— Desculpa — disse, ainda fazendo um grande esforço para não rir com vontade.
Para Hansan não foi surpresa alguma ver Dae-ho todo entrevado, com o pescoço rígido, um pouco inclinado para o lado e para frente, o obrigando a olhar constantemente para os próprios pés.
A julgar pela forma que o encontrou debruçado sobre os livros, já era de se imaginar que ao menos um torcicolo ele teria no dia seguinte. Porém, o que lhe fez rir foi a forma como o outro estava: com os cabelos bagunçados e jogados na frente do rosto, a bermuda azul torta nas pernas e a camisa presa no pescoço, com somente uma das mangas vestida. Era caótico demais para não lhe fazer rir.
— O que posso fazer para te ajudar? — Afastou os lençóis, alcançou a cadeira ao lado da cama e sentou-se, empurrando as rodas para aproximar-se do outro.
— Me faz uma massagem, Sr. Lee?
Hansan estacionou a cadeira rente as pernas do futuro fisioterapeuta, uma distância ideal para seu próximo movimento.
— Ai! — gritou ao ter uma das canelas atingidas.
Hansan sustentou o peso do corpo nos braços da cadeira e levantou o quadril para tomar impulso e chutar-lhe uma das pernas, caindo sentado de vez, fazendo as rodinhas recuarem com o impacto. Estava levando a sério o sistema de punições para todas às vezes que Dae-ho lhe chamasse de senhor.
— Pega leve, seeee... Aish! — Tentava massagear a região atingida, mas grandes movimentos faziam seu pescoço rígido doer. — Pega leve, Hansan. Eu estou todo dolorido.
— Para você aprender a não dormir sobre os livros. — Ajeitou-se melhor na cadeira. — Vem, chega mais perto.
Com calma levou as mãos até a sua bermuda, arrumando melhor em suas pernas, e o ajudou pacientemente a vestir a outra manga da blusa, deslizando o tecido sobre seu tronco, sentindo sua pele macia resvalar em seus dedos. Por fim, passou a pentear seus fios, repartindo-os com os dedos e prendendo a franja longa atrás da orelha, podendo finalmente ver aqueles belos, grandes e expressivos olhos negros.
— Olá... — disse divertidamente quando seus olhares se encontraram. — Quando for me pedir algo, ao menos faça isso olhando em meus olhos.
Dae-ho rolou os seus para cima antes de voltar a fixar seus olhares, emburrando um pouco a cara. Hansan estava se divertindo às suas custas.
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Um Passo
Dragoste[VENCEDORA DO WATTYS 2022 🏅] PRÉ-VENDA LIBERADA! VERSÃO ORIGINAL Desde a perda daquele a quem mais amei, minha crença era de que eu jamais voltaria a sentir o coração acelerar novamente. E no auge dos meus quarenta anos, quando pensei que a vida h...